Pharmakon

platao1Lendo Platão (Fedro) detive-me, para essas reflexões, na passagem em que ele diz que a linguagém é um pharmakon, palavra grega que em português quer dizer remédio, veneno e cosmético. É dizer: a palavra tanto pode ser um remédio para o conhecimento, como um veneno, pois, algumas vezes, nos fazem acreditar e aceitar como verdadeiras coisas que não vemos ou não lemos, sem sequer contestar. A palavra, da mesma forma, pode ser apenas um cosmético, uma maquiagem, uma máscara para dissimular.

O que se pode deduzir, à luz das ponderações de Platão, é que se deve sempre ter muito cuidado com as palavras. Aliás, sobre essa questão já tive oportunidade de refletir aqui mesmo, neste mesmo blog.

Prossigo.

É preciso, ademais, sempre à luz dos argumentos de Platão, muita prudência em face do que dizemos ou ouvimos dizer. Não se pode, sem exame crítico, acreditar em tudo que lê e se diz. Não se pode, de mais a mais, perder de vista que o Ministério da Verdade, nos dias presentes – ou desde sempre – , não é apenas uma ficção, sabido que todos os dias, todas as horas, a todo instante somos bombardeados por inverdades que são divulgadas por uma facção midiática, com o claro objetivo de ludibriar,  dissimular, escamotear, enganar.

A propósito, Sócrates, opondo-se aos sofistas, afirmava que a verdade pode ser conhecida, mas que primeiro deveríamos afastar as ilusões dos sentidos e  as das palavras ou das opiniões e alcançar  a verdade apenas  pelo  pensamento, pois que os sentidos nos dão as aparências das coisas e as palavras, meras opiniões sobre elas. Conhecer, pois, segundo Sócrates, é passar da aparência à essência, da opinião ao conceito, do ponto de vista individual à ideia universal de que cada um dos seres e de cada um dos valores da vida moral e política ( Marilena Chauí, Convite à Filosofia, p.111/112)

A palavra tem, sim,  um poder mistificador muito grande, daí a reafirmação de que devemos ser prudentes diante de uma informação, que, muitas vezes, objetiva apenas confundir.

Quando nos colocamos diante da nossa televisão, na busca de informação, fica-se sempre com a sensação de que a obra de Orwel conqaunto seja ficcional, mas parece não sê-lo.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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