Naturalmente

Erasmo de ROtterdam 1As pessoas tendem a viver de acordo com o seu nascimento, com a sua natureza; natureza aqui entendida no sentido lato.

Explico. Quem nasce numa família equilibrada, reta e que , por isso, preserva os valores morais, tende a viver, naturalmente, da mesma forma. É que a sua personalidade tende a se formar de acordo com as lições que recebe, diariamente, no meio em que vive.

Nada mais natural!

O que não é natural é o oposto. É nascer “bem”, receber doses diárias de retidão, para, diferente do esperado, sucumbir diante das tentações do mundo e, a partir delas, se conduzir noutra direção.

É por isso que se diz, com razão, que a casa de pai é a escola de filho.

É assim que a coisas funcionam – ou deveriam funcionar.

Por isso é que, quanto mais equilibrada for a família, tão equilibrados quanto tendem a ser os que nesse ambiente se formarem.

Essas reflexões – que, afinal, são apenas uma reafirmação das coisas que acredito – foram inspiradas num excerto do livro Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, vazados nos seguintes termos:

“[…]Ouço já os filósofos protestarem: ‘É uma infelicidade ser louco, viver no erro e na ignorância´- Mas isso é ser homem, meus amigos! Pois, em verdade, não vejo por que chamaríeis infeliz um ser que vive de acordo com o seu nascimento, sua educação, sua natureza. Não é esse o destino de tudo o que existe? O que permanece em seu estado natural não poderia ser infeliz; caso contrário, poder-se-ia dizer que o homem deve queixar-se de não voar como as aves, de não andar com quatro patas como os quadrúpedes, de não ter a cabeça armada de chifres como os touros. Do mesmo modo, poder-se-ia dizer que um belo cavalo é infeliz por não saber gramática, por não comer pastéis, e que o destino de um touro é deplorável porque ele não pode aprender exercícios da Academia. Ora, o homem não é mais infeliz por ser louco do que o cavalo por não saber gramática, pois a loucura está ligada à sua natureza[..]”

Digo eu, para concluir: o ser humano que, por natureza, nasceu num meio que encara a desonestidade com naturalidade, tende a ser desonesto, naturalmente, porque, afinal, é da sua natureza ser desonesto. Os que, ao reverso, nascem e se formam em ambiente diverso, tendem a abominar, naturalmente, os atos de desonestidade. É que ser correto faz parte da sua natureza; natureza de quem consolidou em si valores morais que, naturalmente, foram expungidos da natureza dos que receberam formação moral diametralmente oposto.

É isso!

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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