Não adianta! Quando temos a fama de arrogante, criador de caso, incivilizado e grosseiro tudo conspira a favor dessas crenças, ou melhor, desses estigmas.
Hoje à tarde, por volta das 15h15, chegando ao Tribunal, fui abordado por um flanelinha, bem em frente à prefeitura municipal.
Mencionado flanelinha se aproximou do meu carro, muito suado e aparentemente cansado, demonstrando um certo receio por ter “ousado” me abordar.
Aproximou-se, com o rosto quase desfigurado, como se esperasse um reação deselegante – creio que pelo receio de abordar um desembargador no meio da rua, sobretudo sendo esse desembargador estigmatizado pela fama de mau humorado – e pediu, com um gesto de mão, para que eu abaixasse o vidro do carro, fazendo, concomitantemente, um sinal, com a mão direita colada aos lábios, indicativo de que desejava transmitir alguma mensagem.
De pronto atendi ao pleito. Abaixei o vidro e o autorizei a falar, a dizer o que sentia. Claro que o fiz tudo com a rapidez necessária, vez que eu estava no meio da rua, atrapalhando o trânsito.
É certo que, de início, fiquei um pouco assustado. Todavia, não me neguei ouvi-lo, mesmo porque não discrimino as pessoas e procuro ser atencioso com todos que me procuram – ainda quando essa procura ocorre no meio da rua.
Pois bem. O flanelinha, com os olhos esbugalhados, pedindo mil desculpas, disse a mim que, apesar do que disseram a ele – que eu não aceitaria atendê-lo, muito menos no meio da rua, porque a minha fama não era boa –, ainda assim resolveu me abordar para fazer um pedido.
Como meu carro já atrapalhava o fluxo normal de veículos, pedi a ele que se dirigisse à entrada do Tribunal, o que fez efetivamente.
Lembro que fazia um vento muito forte, tanto que desalinhou meus cabelos, apesar do creme que uso para domá-los.
Com o receio estampado no rosto, o flanelinha se aproximou – com uns papeis amassados na mão, onde vi, destacado o meu nome – para, mais uma vez, pedir desculpas pelo inusitado da abordagem e reafirmar que tinha sido advertido para que não me abordasse no meio da rua.
Procurei não dar valor às informações negativas a meu respeito e cuidei de atendê-lo, como faço em relação a qualquer pessoa: com educação e fidalguia.
Recebi o pleito do flanelinha, e terei o maior prazer de dar a ele as informações que me pediu.
Espero que pelo menos esse flanelinha mude de opinião a meu respeito, pois já não suporto a imagem que tenho.
É preciso que as pessoas tentem, pelo menos, conhecer o outro lado da minha personalidade.
Definitivamente, não sou e nem aceito a fama de arrogante que tenho.
Saibam que esse é o tipo do acontecimento que me fragiliza e me faz soturno.
Não me apraz essa injusta fama, que, ao longo da minha vida, tem afastado as pessoas de mim.
Por favor…