O epicurismo – filosofia fundada por Epicuro de Samos, no século IV a.C – ensina que o objetivo da vida é a busca do prazer, de maneira racional e equilibrada, na perspectiva de que, eliminando o desejo do que não é razoável, almejando racionalmente o que é possível, tendemos a ter uma vida melhor e mais equilibrada, com menos dor e sofrimento.
Para os epicuristas, de mais a mais, a felicidade está em desfrutar dos prazeres simples da vida, como a amizade, as pequenas atividades do dia a dia e a família, destacando, como exemplos de coisas simples, o desfrute de um café da manhã com a família ou de uma caminhada no parque.
O epicurismo orienta, ademais, que evitemos a dor mental e emocional, como o medo, a ansiedade e o sofrimento.
Em síntese, o melhor dos mundos, para os epicuristas, está em buscar a felicidade nos prazeres simples e duradouros, sem nos deixar dominar por desejos excessivos ou medos.
A vida, no entanto, não é bem assim, infelizmente.
A realidade, importa reafirmar, se contrapõe aos ensinamentos dos epicuristas, pois a vida, por mais que busquemos a felicidade nas coisas simples – e nesse sentido sou um epicurista ranzinza -, o mundo nos reserva, em determinados momentos, uma dose elevada de sofrimento, na medida em que, importa reconhecer, ninguém passa pela vida sem experimentar um dissabor intenso.
A verdade é que todos nós, de rigor, buscamos viver uma vida sem dor e sem sofrimento; essa é a propensão/desejo natural de todo ser humano. Não são poucos, portanto, os que, como eu, vivem a vida buscando a felicidade nas coisas simples, objetivando levar a vida da melhor maneira possível, busca que, aqui e acolá, se depara, inevitavelmente, com mágoas e aflições, resultando disso, como sói ocorrer, a inevitabilidade de dores e sofrimentos, alguns dos quais lancinantes, do tipo insuportável mesmo, levando-nos, muitas vezes, à irracionalidade, nos colocando em rota de colisão com as nossas crenças.
Vivemos, todos, buscando, frenética e incessantemente, a felicidade. E ela, às vezes, como é compreensível, simplesmente não vem. Às vezes, ela até vem. Mas vem em doses. Ela nunca vem por inteiro. Ninguém é feliz o tempo inteiro. Haverá sempre uma dose de sofrimento, a reafirmar o óbvio, ou seja, de que ela, a felicidade, nunca é completa, ainda que a busquemos nas coisas simples, como ensina Epicuro.
O filósofo Mário Cortela, com sabedoria, lembra que quem se diz feliz o tempo inteiro é apenas um tonto, na medida em que é inviável a felicidade em tempo integral.
A verdade é que a vida nos reserva sempre uma dose de sofrimento, como dito acima. Sofrimento que pode ser intenso ou em menor grau. De toda sorte, sofrimento, convindo avaliar, nesse sentido, como nos preparamos para os reveses que a vida nos impõe, para as adversidades que permearão a nossa história, para as quedas, para os açoites, para os tropeços que a vida nos infligirá, mais cedo ou mais tarde.
É claro que cada pessoa tem sua dose de resiliência. Umas são mais; outras, menos resistentes às dores infligidas pela vida. Da minha parte, admito, não sou resistente diante das adversidades, fruto de uma história de vida que me fragilizou, daí que nenhuma adversidade me ocorre sem uma dose mínima de sofrimento, incapaz que sou de controlar o pensamento, que termina por assumir o controle da minha vida.
É isso.