Sócrates ensinou que uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida. Em Fédon ele diz que uma vida irrefletida leva a alma a ficar “confusa e aturdida, como se estivesse bêbada”, enquanto uma alma sábia alcança a estabilidade e seu vagar chega ao fim. Nessa linha de compreensão, teimo em levar uma vida reflexiva, mesmo diante da óbvia constatação de que, não raro, o resultado das minhas reflexões não sejam muito palatáveis.
Nessas reflexões, incursiono, ousadamente, no mundo da premonição, o fazendo com a perspectiva de acertar a maioria das previsões aqui encartadas, pela óbvia constatação de que todos que tenham o mínimo de lucidez concluiriam pela sua inevitabilidade.
Vejamos as previsões, não exaustivamente. No ano vindouro haverá mais rebeliões e mortes na Penitenciária de Pedrinhas; serão denunciados, mais uma vez, a superpopulação carcerária e o tratamento degradante e desumano aos presos, cujo quadro permanecerá inalterado; um congressista muito conhecido vai se deslocar num avião da FAB para cuidar de assuntos pessoais, para, depois de flagrado, assumir o erro e prometer ressarcir os cofres públicos; os assaltos se multiplicarão e muitos sucumbirão sob as armas dos meliantes, mas só uma parcela mínima de transgressores será punida; cadeias serão interditadas, por falta de condições para receber presos provisórios; presos cavarão túneis e fugirão de cadeias, com a complacência e cumplicidade de algum agente do próprio Estado; os líderes de facções criminosas continuarão comandando as suas ações de dentro das prisões; as praias de São Luís continuarão impróprias para o banho; brasileiros morrerão nas filas dos hospitais e serão “depositados” pelos corredores dos mesmos, por falta de leitos; balas perdidas continuarão matando inocentes; a polícia será acusada da prática de violência e o porta-voz da caserna dirá que tudo será rigorosamente apurado e que os culpados serão punidos; muitos serão mortos pela própria polícia, que alegará, em sua defesa, que agiu no estrito cumprimento do dever legal; muitos, incontáveis crimes continuarão impunes, porque as instâncias de controle teimarão em tratar os processos criminais como feitos de segunda categoria; em face de desvios éticos, muitos prefeitos serão afastados por juízes singulares, todavia voltarão aos cargos, no dia seguinte, em face de uma liminar concedida por um membro da segunda instância; os precatórios não serão pagos, disso resultando que, mais uma vez, haverá quem se aventure pensar, delirando, em intervenção federal no Maranhão, mas ninguém que tenha juízo acreditará nessa possibilidade; muitas falcatruas serão noticiadas, a maioria delas imputadas aos homens públicos, que se limitarão a dizer que é intriga da oposição ou que se trata de uma campanha difamatória deflagrada por um inimigo político; o noticiário chapa branca dirá que vivemos no paraíso, e a oposição dirá que vivemos no inferno; haverá sempre quem, na oposição, torça pelo insucesso do adversário que está no poder, e tudo fará para que não obtenha êxito em suas ações, pouco se importando com as conseqüências para população; na campanha eleitoral que se aproxima, para variar, os candidatos prometerão o que sabem que não poderão cumprir; mais uma vez o poder econômico influenciará, decisivamente, no resultado das eleições, tanto majoritárias quanto proporcionais; os candidatos a reeleição continuarão a fazer propaganda eleitoral fora de época, sob o olhar complacente das instâncias de controle; as empresas aéreas continuarão descumprindo o horário e as malas continuarão a ser extraviadas ou violadas; as pessoas se agastarão nas filas de atendimento dos aeroportos, sem ter a quem reclamar; muitas serão as denúncias de desvios de verbas públicas, mas, como regra, todos ficarão impunes; os prefeitos serão acusados de enriquecimento ilícito,e muitos, efetivamente, enriquecerão nos cargos, confiantes na impunidade; prefeitos flagrados em falcatruas dirão que a culpa é do contador ou de um assessor que traiu a sua confiança; o Judiciário será acusado de moroso, e os juízes dirão que fazem o que é possível e que a estrutura deficiente é a responsável pelo atraso na entrega do provimento judicial; as operadoras de celular continuarão a prestar um serviço de péssima qualidade; Ministério Público será acusado de omisso, mas dirá que exerce com perseverança o seu papel de custos legis e guardião da Constituição; novas leis penais deverão surgir, a pretexto de combater a violência, com a exacerbação das penas privativas de liberdade, mas tudo ficará como dantes; será deflagrada uma campanha pela legalização da maconha, como uma panacéia no combate à traficância; os flanelinhas continuarão dominando os estacionamentos públicos, sob o olhar complacente das autoridades; mais uma vez a Lagoa da Jasen será “despoluída”; o Pleno do Tribunal de Justiça deixará de se reunir, algumas vezes, por falta de quórum; as comarcas, salvo exceção, ficarão acéfalas aos finais de semana; os clubes serão punidos em face de brigas envolvendo torcidas organizadas; o Fluminense não será rebaixado, mais uma vez; haverá manifestações públicas e os Black Blocs voltarão a atacar o patrimônio privado, preferencialmente; haverá manifestações com a interdição de estradas para infernizar a vida dos usuários; a transposição das águas do Rio São Francisco continuará como uma sonho de uma noite de verão; o STF continuará agindo como protagonista, decidindo sobre questões que as instâncias próprias preferem se omitir, por conveniências políticas; os doadores de campanha vão cobrar a conta dos eleitos às suas custas; não haverá reforma política e nem tributária; muitas licitações serão fraudadas; o chefe do Executivo, dissimulando, dirá que não negocia com o legislativo sob pressão; as emendas parlamentares continuarão fazendo a festa de muitos parlamentares; os viadutos da Forquilha, do Calhau e da Av. dos Holandeses não serão construídos; a refinaria continuará sendo um sonho; os engarrafamentos no trânsito minarão a nossa paciência; magistrados serão aposentados compulsoriamente pelo CNJ; as Assembleias Legislativas continuarão a “trabalhar” em “harmonia” com o Poder Executivo; com as chuvas, o asfalto será pulverizado e muitas estradas ficarão intrafegáveis; haverá desabastecimento de pescado na semana santa; os ferry boats continuarão descumprindo os horários; a intolerância marcará as relações pessoais. É isso.