Informação e sabedoria

Vivemos a era da informação. Ou da desinformação?

É de  Harold Bloom (2001, p.15,) a conclusão:

“A informação está cada vez mais ao nosso alcance, mas a sabedoria, que é o tipo mais preciso de conhecimento, essa só pode ser encontrada nos grandes autores de literatura”.

Nunca recebemos tantas e tão diversificadas informações em tão curto espaço de tempo. Basta ligar a máquina e pronto: a informação se apresenta pelos mais variados veículos. A informação, estar informado é sempre sedutor. Eu não gosto de  estar desinformado. Mas aqui há uma grave paradoxo: a imprensa que informa é a mesma que desinforma. Aqui no Maranhão, por exemplo, a gente nunca sabe onde está a verdade. Dependendo do jornal ou do canal de televisão que se assista tem-se uma ou outra (des)informação.

Dia desses, agastado com tanto livro pra ler e sem tempo para fazê-lo, porque, afinal, a vida urge, o tempo voa, passei a refletir com meu filho o que nos poderíamos fazer para ler tudo que pensamos ler. Eu disse a ele: estou desorganizado. Há momentos em que estou lendo três livros de uma vez, com tal volúpia que, muitas vezes, não sinto nem mesmo o sabor da leitura. Diante dessas afirmações, ele me disse: – pai, tu não achas que perdes tempo com esses jornais e com essa televisão ligada? Tu não achas que ganharias muito mais se, ao invés de perder uma hora assistindo a um jornal televiso, ganhasses uma hora lendo um bom livro? E esses programas esportivos, indagou, o que acrescentam?

Depois desse diálogo, percebi que, realmente, as invés perder tempo com (des)informações, o melhor mesmo seria ler um bom livro, afinal só o livro dá sabedoria. Quanto às informações, a gente não precisa de mais de meia hora diária para estar (mal)informado. Ademais porque, de rigor, as informações, muitas vezes, na maioria das vezes, nos causam revolta, sobretudo em face da atuação de nossos homens públicos que só pensam nos seus próprios interesses. Não dá para assistir, impassível, notícias sobre desmoronamento, desvios de verbas, morte em fila de hospitais, estradas esburacadas, eleições para Câmara Federal e para o Senado, CPI disso e CPI daquilo, falcatrua etc,  sem se indignar; pode-se, até, dependendo do nível de indignação, adoecer.

Uma boa leitura não adoece; aliás, faz bem, muito bem, inclusive ao coração.

Bem, tá na hora de  parar essas reflexões para  retomar a leitura.

O que  li nos últimos meses?

Vitor Hugo (O último dia de um condenado), Émile Zola (J´accuse) Marilena Chauí (  Convite à Filosofia), Diogo Mainardi(A Queda), Oscar Wilde ( O Retrato de Dorian Gray), George Orwel (A Revolução dos Bichos) e  Sheakspeare ( Mercador de Veneza)

Calma, estou me organizando: não li  todos de uma vez.

Estou controlando a minha ansiedade, sobretudo porque muito do que estou lendo é, na verdade, uma releitura.

Um curioso indagará: por que (re)ler os clássicos, com tanta leitura moderna. Eu respondo, com Calvino: ” Os clássicos servem para entender quem somos e aonde chegamos […]A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos” (Ítalo Calvino, Por que ler os clássicos. 1993).

Pago para ver

Definitivamente, não se faz nada escondido nesse mundo; sobretudo quando o protagonista da presepada é um tolo, um energúmeno, mentecapto do tipo perigoso, personalidade psicopata das que não conseguem disfarçar a sua condição de fronteiriço e que, por isso mesmo, não se dá conta sequer dos que estão nas proximidades ouvindo as tolices que costuma dizer.

Explico. Ainda recentemente, uma pessoa da minha relação pessoal, numa determinada roda de amigos, testemunhou quando um  fronteiriço questionou o meu blog, ameaçando, inclusive, levar a questão ao ministro Joaquim Barbosa. Na visão do mentecapto, desembargador não pode ter blog. É dizer: na visão dele, eu não posso dizer o que penso. Por isso, disse que vai levar o problema para o ministro Joaquim Barbosa. O objetivo: calar a minha voz, me impedir de dizer o que penso. É como se, na visão dele, ainda vivêssemos numa ditadura.

Eu só tenho um receio: que o ministro Joaquim Barbosa, depois de conhecer o meu blog, passe a acessá-lo com frequência, pois decerto constatará, em face dos meus artigos, que, diferente do que se diz por aí, aqui no Maranhão não é só miséria e falcatrua: aqui há também os que pensam e têm coragem de dizer o que pensam.

Está claro que esse cidadão – se é que se pode chamá-lo assim – não conhece sequer a Constituição do seu país.

Nem ele e nem ninguém tem poder de encerrar meu blog; por mais poderoso que ele pense ser.

Podem ter certeza que é mais fácil ele ser internado como louco do que fechar o meu blog.

Faço questão de consignar que será perda de tempo tentar calar a minha voz, mesmo porque não sou irresponsável; e todas as minhas reflexões são feitas no sentido de construir, edificar.

Tenho pena dos que não têm convicção e se incomodam com quem as tem.

Gostaria, sinceramente, de saber por que incomodo tanto.

É preciso compreender que no mundo há espaço para todo mundo e que todo mundo tem o direito de construir a sua história, de dizer o que pensa…

Fico no aguardo da resposta do ministro Joaquim Barbosa sobre o meu blog, se é que o destrambelhado terá coragem de fazer a consulta/denúncia.

Enquanto isso, vou adiante, lendo, refletindo e dividindo o meu pensamento com os leitores que prestigiam o que escrevo.

O exemplo de Émile Zola

Tenho afirmado e reafirmado que não confio em quem não assume posição. É desconcertante ver alguém sobre o muro, esperando a hora conveniente para assumir uma posição. Mais desconcertante, ainda, é a postura de quem só assume posição no cochicho;  na hora do vamos ver, amarela, deixa o proscênio, desaparece como que por encanto, inventa um compromisso de última hora, um exame para fazer, uma consulta com hora marcada,  um dor de barrica. É dizer: o tipo que amarela, que é covarde, maria-vai-com-as outras.

A história não perdoa os covardes, os falastrões, os que são só de conversa mole. O tempo passará e dele só ficará, se ficar, a péssima lembrança, o péssimo exemplo.

Da história vem o melhor exemplo: Émile Zola; ele não teve receio de enfrentar o sistema, em defesa de um injustiçado. Foi perseguido e condenado por isso. Mas, em compensação,a história só registra a sua ação; não tem nenhuma relevância para história os que reagiram contra Zola, que, como sói ocorrer, caíram no esquecimento.

Emile ZolaPara ilustrar, publico excerto de um dos muitos libelos escritos por Émile Zola, em defesa do capitão Dreyfus (cf. J´accuse), vítima de uma grave erro judiciário, França, já aqui mencionado em artigo anterior

“[…]Nos massacres todos abrem mão do que possuem. E falo deles com a maior tranquilidade, pois não os amo e nem os odeio. Não tenho entre eles nenhum amigo que esteja perto do meu coração. Para mim são seres humanos, e isso basta[…]”.

Noutro excerto:

“[…]Mas, para a família do capitão Dreyfus, as coisas são diferentes, e quem  aqui não compreendesse, não se inclinasse, seria um triste coração. Entendam! Todo o seu ouro, todo o seu sangue, a família tem o direito e o dever de dá-los, se crê seu filho inocente. Nessa casa que chora, em que há uma esposa, irmãos e parentes de luto, só se deve entrar com o chapéu na mão; e somente os malcriados se permitem falar alta e ser insolentes. “Irmão do Traidor!” é o insulto que lança, à face desse irmão! Sob que moral, sob que Deus vivemos, então, para que isso seja possível, para que  pela falta de um dos membros seja reprovada a família inteira? Nada é mais baixo nem mais indigno de nossa cultura e de nossa generosidade. Os jornais que injuriam o irmão do capitão Dreyfus porque ele cumpre seu dever são uma vergonha para imprensa francesa[…]”

E tu, energúmeno, por que só falas pelas cantos?  Por que não assumes posição?

Notícias do TJ/MA

Guerreiro Júnior anuncia novas obras para o Judiciário

Guerrero Júnior afirma que o Judiciário dispõe de R$ 15 milhões para as obras

O presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão, desembargador Antonio Guerreiro Júnior, anunciou nesta quarta-feira (23) a intenção do Judiciário em construir 15 Juizados Especiais em São Luís este ano. O TJMA dispõe de R$ 15 milhões do Orçamento 2013 para financiar as obras que, contudo, dependem de futura parceria com o prefeito Edivaldo Holanda Júnior, a quem será solicitado a cessão dos terrenos. “Há contatos nesse sentido”, informou o presidente aos desembargadores. Guerreiro Júnior acredita que o prefeito será sensível &agra…

Leia matéria completa no sítio do TJ/MA

É defeso discriminar

Santander deve pagar R$ 2 mi por discriminar empregados com LER 

A 4ª turma do TRT da 4ª região condenou o Santander ao pagamento de R$ 2 mi por danos morais coletivos.
A instituição financeira deixava empregados portadores de LER – Lesões por Esforços Repetitivos isolados em uma ala sem atividades quando eles retornavam ao trabalho após afastamento previdenciário por motivo de doença.
Também foi constatado que o banco passou a reter as CATs – Comunicações de Acidentes de Trabalho, documento de emissão obrigatória que reconhece a ocorrência de acidente de trabalho ou de doença ocupacional.
Além da indenização, a ser revertida ao FDD – Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, o Santander ficou proibido de submeter, permitir ou tolerar práticas de assédio moral contra seus empregados, sobretudo as relacionadas a humilhações, ameaças veladas ou situações vexatórias.
O banco ainda terá que proceder regularmente às homologações rescisórias no sindicato da categoria, sob pena de multa diária no valor de R$ 20 mil a cada trabalhador prejudicado.

 Matéria capturada no Migalhas Jurídicas

Veja a íntegra da decisão.

Lincoln

abraham-lincolnCom a estreia de Lincoln, escrito pelo dramaturgo Tony Kushner e dirigido pelo magistral Steven Spielberg, acho que vale a pena relembrar uma passagem marcante da vida política dos Estados Unidos, que chamo de golpe de mestre de Abraham Lincoln, em face do conflito com o Estados Confederados da América, que consiste no seguinte: No princípio da Guerra da Secessão, os exércitos dos estados do sul obtiveram vitórias, mas, ao longo do conflito, as forças do norte foram impondo sua superioridade militar. Os estados do norte contavam com cerca de 20 milhões de habitantes e indústrias capazes de produzir armas necessárias ao exército. Já os estados do sul tinham uma população de, aproximadamente, 10 milhões de habitantes (3,5 milhões eram escravos) e poucas fábricas de armamentos militares pesados. Em 1863, o presidente Lincoln proclamou a abolição da escravidão. Com essa medida, estimulou os ex-escravos do norte a lutarem contra os exércitos  do sul, além de fazer os escravos do sul se aliarem às tropas do norte(História Global Brasil e Geral, Gilberto Cotrim, 2002)

O preço da ousadia

Para manter um blog, postando matérias novas todos os dias, é preciso muita inspiração. Mas não basta a inspiração: é preciso ter coragem de dizer o que se pensa; coragem porque, ao dizer o que se pensa, pode-se fabricar inimizades -até figadais, creia. Por isso, é sempre mais cômodo não falar, ficar sobre o muro, ver a banda passar, sem esboçar reação. Como não sou desse tipo, eu prefiro dizer o que penso; mas o faço com responsabilidade, cuidando sempre para não agredir as pessoas, limitando-me a expor os meus pontos de vista em face dos mais diferentes temas, apenas para marcar posição, à luz da compreensão que tenho que, nos dias presentes, já não prevalece aquela máxima, que esconde um ato de covardia, de que juiz só fala nos autos.

É preciso convir, inobstante, que dizer o que se pensa é correr o risco de pagar um alto preço, sobretudo porque as palavras, muitas delas polissêmicas, de especial abertura semântica, permitem muitas interpretações, que ficam na dependência de quem as leiam, às luz de suas pré-compreensões, dos seus valores, das suas idiossincrasias.

Recordo, a propósito, que, em 2006, dei uma entrevista a jornal local, na qual, dentre outros temas, fiz uma abordagem acerca da falta de critérios para as promoções por merecimento. No dia seguinte, o jornal estampou uma manchete imputando e mim a autoria de graves acusações contra o Poder Judiciário do Maranhão. Claro que, por isso, paguei um preço alta. Mas entendi o resultado como uma consequência natural de ter corrido o risco de dizer o que pensava.

Mas eu dizia, é preciso ter coragem de dizer o que se pensa, ainda que possamos ser incompreendidos.

Dois episódios históricos para ilustrar. Hobbes, ao defender uma autoridade absoluta em face dos cidadãos, demoliu, no mesmo passo, a pretensão dos reis ao favor divino. Ao fazê-lo, foi considerado por muitos de seus contemporâneos, se não de fato um ateu, certamente um herege perigoso. Depois da grande peste de 1666, quando 60 mil londrinos morreram, seguida pelo Grande Incêndio, um comitê parlamentar foi formado para investigar se seus escritos tinham provocado os dois desastres. Pagou o preço da ousadia de dizer o que pensava (Casos Filosóficos, Martin Cohen, 2012)

Émile Zola, todos lembram, escreveu um artigo ( J’ accuse), em face do caso Dreyfus, publicado no jornal L’ Aurore, atacando os generais e outros oficiais , a quem atribuía a responsabilidade por um grave erro judicial. Pagou um elevado preço. Foi processado, condenado e exilado, nada obstante não tenha feito nenhuma acusação leviana, vez que, depois, comprovou-se que, efetivamente, a condenação de Dreyfus tinha sido embasada em prova insubsistente.  Dentre outras verdades, Zola afirmou: “Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu”.

É isso!

Eu daqui do meu lado, ciente da minha dimensão, vou dizendo as coisas que penso, sem temer pelas incompreensões. Sei, todavia, que, por isso, há quem me veja com cautela e reserva, afinal, na concepção de muitos, falar, dizer o que pensa, numa corporação, pode ser um grave pecado. Mas eu vou dizendo, na convicção de que não sou irresponsável e inconsequente. Muitos gostam e aplaudem o que digo; outros, nem tanto.

Fazer o quê?

Violência psíquica e a dignidade humana

O ideal seria que os indivíduos, ao decidirem-se pelo sacrifício de uma parcela de sua liberdade em favor do Estado – cf. Rousseau -, recebessem desse mesmo Estado, em contrapartida, respostas, prontas e eficazes, para as suas necessidades básicas. Esse mesmo Estado deveria, nessa perspectiva, agir, ademais, com o necessário desvelo,  no sentido de punir os que desrespeitam as normas do bom convívio, os que fazem mau uso das verbas públicas, desviadas, sem pejo e sem receio, para atender às suas necessidades privadas, em detrimento dos que, com sacrifício, recolhem os seus impostos e que vivem a depender das ações do Estado.

Infelizmente, o Estado não responde às nossas necessidades. Tudo é carência e infortúnio. Sempre que se precisa do Estado ele falha. Quem pode recorrer aos serviços privados vai se safando como pode. Os carentes, inobstante, carregam uma cruz pesada, que se torna muito mais pesada quando se sabe que, não fossem os desvios dos recursos públicos, muito poderia ser feito em benefício das pessoas mais necessitadas.

A verdade é que, abrindo mão de parcela da nossa liberdade em favor do bem comum – sempre à luz das teorias contratuais – nós, cidadãos de bem, sentimo-nos desamparados e desassistidos pelo Estado; Estado que tem servido, nas suas mais diferentes esferas de poder, apenas para saciar a sede, a ambição desmedida de uns poucos aproveitadores que do poder fazem uso, sem acanhamento e às escâncaras, apenas objetivando a defesa dos seus interesses pessoais, em detrimento de parcela significativa da sociedade, que, descrente, vê o Estado negar-lhes até os serviços primários como educação e saúde, exatamente em face da volúpia com que os malfeitores se apropriam das verbas públicas.

Em reflexões dessa jaez, coloco em destaque, sempre, a dignidade da pessoa humana, como valor-guia de toda e qualquer ação estatal, razão pela qual tenho reafirmado, na esteira de Luis Roberto Barroso, que todo sofrimento inútil e indesejável viola a dignidade da pessoa humana.

Quando assisto – aqui na nossa província, onde os homens públicos parecem ser diferentes dos seus congêneres,  pois, como regra, só defendem mesmo os seus interesses – imagens dos hospitais de pronto atendimento, fico com um gostinho de revolta na garganta, por testemunhar, impotente, o vilipêndio, a afronta, o desrespeito à dignidade da pessoa humana, à vista de todos, sem que se vislumbre uma solução,  e sem que se entreveja sequer que possam ser punidos os que, no poder, contribuíram para esse quadro repugnante e revoltante.

É preciso repetir, com Kant, o que parece não perceber a nossa elite dirigente, que as coisas têm preço e que os homens têm dignidade.

Guilherme de Souza Nucci, a propósito, ensina que, em face da primazia da dignidade da pessoa humana no âmbito da arquitetura constitucional, ” nada se pode tecer de justo e realisticamente isonômico que passe ao largo da dignidade da pessoa, base sobre a qual todos os direitos e garantias individuais são erguidos e sustentados ( Manual de Direito Penal, Parte Geral e Especial, p.84, 7ª Edição)

O desrespeito à dignidade da pessoa humana é, sim, desde a minha compreensão, uma forma de violência, sabido que violentas não só as ações que agridem a integridade física das pessoas; qualquer ação da qual resulta na violação psíquica do indivíduo é uma forma de violência, que vai além da violência física, porque profana a dignidade da pessoa, da forma mais deletéria, porque atinge a própria alma.

O que nos distingue dos outros animais é que somos racionais, daí que toda ação que nos reduza à condição de objeto é uma ação violenta, do que se infere o equívoco de pensar-se que violenta é somente a ação que agrida a integridade física.