Espaço livre

É possível fazer direito sem interpretar?

Por Lenio Luiz Streck

Hoje, quero chamar a atenção para alguns pontos importantes da teoria do direito, que anda tão desprestigiada. Faço-o com todo o cuidado acadêmico, nos limites deste espaço. E, fundamentalmente, com todo o respeito à comunidade jurídica, que, tenho a certeza, quer a mesma coisa: um sistema judiciário mais democrático, com decisões que contenham um adequado grau de previsibilidade, em que a equanimidade seja o ponto de estofo. E que um Judiciário desse naipe seja o sustentáculo da democracia de terrae brasilis. Gostaria que o texto fosse lido sob essa perspectiva. Nada mais do que isto.

A literatura pode nos ajudar a entender os grandes dilemas contenporâneos sobre a interpretação da lei e do direito. Veja-se que, em pleno século XXI, ainda não conseguimos superar o embate “objetivismo”-“subjetivismo”, razão e vontade, como decidir, etc.

Shakespeare, no início do século XVII, antecipou a discussão hermenêutica que será o centro das preocupações dos juristas do século XIX até os nossos dias. Entre as várias peças, há uma em especial, escrita por volta de 1604, chamada Medida por Medida (da qual já fizemos um programa Direito e Literatura, disponível em www.unisinos.br/direitoeliteratura). A estória se passa em Viena. O Duque Vivêncio, em face de um quadro de desordem e corrupção de costumes, transfere a seu amigo Ângelo o governo, simulando tirar um período de férias, em que visitaria a Polônia.

Sob novo comando, a guarda prende o jovem Cláudio, sob a acusação de ter fornicado com Julieta, sua namorada. Incontinenti, é condenado à morte por Ângelo. Cláudio, então, pede a sua irmã Isabela, para que interceda por ele junto a Ângelo. Isabela busca persuadir Ângelo. Este diz que Cláudio é um transgressor da lei e que ela estaria perdendo o seu tempo. Diz, também, que no contexto dado, a lei não permite vicissitudes idiossincráticas. É ela a palavra do poder: “A lei, não eu, condena o seu irmão. Se fosse meu parente, irmão ou filho, seria o mesmo. Ele morre amanhã.”

Isabela retorna no dia seguinte e insiste na tese. Ângelo se mantém irredutível. Entretanto, enquanto falava, a concupiscência tomava conta de Ângelo, vendo que por debaixo das vestes de Isabela (ela estava vestida com roupa de noviça) um belo exemplar da espécie humana se escondia. Assim, em um instante, Ângelo, aquele “poço de virtude”, transmuda-se, dizendo à Isabela que “se o amasse em retorno, seu irmão seria poupado”. De escravo da lei, de escravo da estrutura, do “que está dado”, Ângelo se transforma em “senhor da lei”, “senhor dos sentidos”[…]”

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Joaquim Barbosa ataca Cezar Peluso

“Peluso se acha e não sabe perder”, diz Joaquim Barbosa

“O Peluso se acha.” A frase, dita pelo ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, nesta quinta-feira (18/4), ecoou por alguns dos principais veículos de comunicação do país. Os jornais Folha de S.Paulo e O Globo, os sites da revista Veja e do G1 reproduziram as declaraçóes do ministro, que rebateu as críticas do presidente do tribunal feitas à revista Consultor Jurídico.

Na entevista, o ministro e presidente do STF, Cezar Peluso, disse que Joaquim Barbosa tem um temperamento difícil, que é uma pessoa insegura, e que tem receio de ser qualificado como alguém que foi para o STF não pelos méritos que tem, mas pela cor. Peluso deixa a Presidência do Supremo, nesta quinta-feira (19/4), sendo sucedido pelo ministro Carlos Ayres Britto, que ocupa a cadeira apenas pelos próximos sete meses, em virtude da aposentadoria compulsória.

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Cézar Peluso, o juiz

Para família e amigos, Peluso é exemplo de juiz

Por Pedro Canário

Quem acompanha os votos e as entrevistas do ministro Cezar Peluso percebe rapidamente que suas opiniões pessoais não permeiam suas decisões. Depois que virou ministro do Supremo Tribunal Federal, essa característica ficou evidente, como revela a advogada Heloisa Estellita, em artigo publicado nestaConJur. O ministro deixa, nesta quinta-feira (19/4), a presidência do Supremo Tribunal Federal e volta a se dedicar a suas atividades de ministro votante. Em seu lugar, entra o vice-presidente, ministro Ayres Britto.

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CNJ será comandado por um magistrado exemplar

Novo presidente do CNJ toma posse nesta quinta-feira

O ministro Carlos Ayres Britto toma posse, nesta quinta-feira (19/4), como presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) para o biênio 2012-2014 – ele sucede o ministro Cezar Peluso. A cerimônia de posse de Ayres Britto e do novo vice-presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, será realizada a partir das 16h, no plenário do STF. Os empossados receberão cumprimentos logo após a solenidade, no Salão Branco da Suprema Corte.

Sergipano de Propriá, acadêmico e poeta, Ayres Britto é ministro do STF desde 2003.  Hoje com 69 anos, é vice-presidente do STF e presidente da Segunda Turma do tribunal. Em 2009, o ministro presidiu a Primeira Turma e, no período entre maio de 2008 e abril de 2010 foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Currículo – Formado em Direito pela Universidade Federal de Sergipe em 1966, o novo presidente do CNJ e do STF fez curso de pós-graduação para Aperfeiçoamento em Direito Público e Privado naquela instituição sergipana. Na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, fez mestrado em Direito do Estado e doutorado em Direito Constitucional.

Antes de 2003, Ayres Britto atuou como advogado e ocupou cargos públicos em Sergipe como os de consultor-geral do Estado, procurador-geral de Justiça e procurador do Tribunal de Contas. Entre 1993 e 1994, foi conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e membro de Comissão de Estudos Constitucionais da entidade, por dois mandatos.

Literato – Ao longo da carreira, ele exerceu o magistério em várias universidades, em cursos de graduação e pós-graduação. Ayres Britto é conhecido também como literato e estudioso da filosofia. É membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas e da Academia Sergipana de Letras. Entre os livros de poesia publicados por ele estão: “Teletempo”; “Um lugar chamado luz”; “Uma quarta de farinha”; “A pele do ar”; “Varal de Borboletas” e “Ópera do Silêncio”.

Na área jurídica, escreveu as obras: “Teoria da Constituição”; “O Perfil Constitucional da Licitação; Interpretação e Aplicabilidade das Normas Constitucionais” (coautoria); “Jurisprudência Administrativa e Judicial em Matéria de Servidor Público” e “O humanismo como categoria constitucional”.

Agência CNJ de Notícias com STF

Uma vida sem reflexão

Não é a primeira vez que escrevo para reafirmar que uma vida sem reflexão na vale a pena ser vivida. Talvez por isso eu tenho acabado de refletir acerca da minha vida no Poder Judiciário do meu Estado.

Relembro o que disse Sócrates, em Fédon:

Uma vida irrefletida leva a alma a ficar “confusa e aturdida, como se estivesse bêbada”, enquanto uma alma sábia alcança a estabilidade e seu vagar chega ao fim.

Existe vida fora do Poder Judiciário

Não sofro de depressão, não tenho transtornos de humor, não sou uma pessoa amarga, gosto do que faço, tenho poucos e sinceros amigos, e tenho, fundamentalmente, uma família a me dar apoio.

Além da minha família, construída sob as bênçãos do casamento, tenho uma outra família igualmente importante em minha vida que são os meus assessores, pelos quais tenho muito apreço e consideração.

Essas duas famílias são, posso dizer sem receio, a minha força, a minha base de sustentação.

Tenho dito, repetidas vezes, que poucos são os seres humanos mais felizes que eu, disso podendo-se inferir que as  minhas  reflexões, algumas vezes inusitadas e estupefacientes,  não decorrem de um estado de amargura.

Pode-se concluir, portanto,  que o que vou dizer a seguir, certamente uma surpresa para quem não me conhece, não decorre de nenhuma patologia.

Vou tentar explicar.

Talvez não existe um só magistrado que não almeje uma promoção para segunda instância. Eu também almejei muito uma promoção para o Tribunal de Justiça do meu Estado.

Estando aqui, concluí, em pouco tempo, que não há o que comemorar, por isso estranho quando vejo  que há pessoas  que adoram estar desembargador, como se fosse a coisa mais importante do mundo.

E por que não há o que comemorar?

Porque, para mim, definitivamente, o exercício da judicatura não tem bônus.

Nesse sentido, eu  me imagino  muito diferente dos que ascendem  o poder  para  dele usufruir, como se fora uma patuscada, uma folgança, um instrumento para obtenção de vantagens de ordem pessoal.

Hoje mesmo,  durante a sessão do Pleno,  por razões que não pretendo declinar, para não ser descortês e não ferir a ética, determinado momento  levantei-me e fui ao ouvido de um colega dileto para dizer-lhe,  contristado, que cada dia penso mais em aposentadoria.

A verdade é que aqui não há nada que  me fascine , verdadeiramente.

Para mim, tudo aqui é compromisso, é comprometimento.

Tenho convicção que, por tudo isso,  quando for possível me aposentar, vou ter mais o que comemorar que a lamentar.

Com essas colocações posso deixar transparecer que, definitivamente, não sou  normal. Todavia, creia, eu sou normal, sim.

Aliás, o que é  ser normal?