Eu burro

Retorno ao Café Brasil, de Luciano Pires – .http://www.lucianopires.com.br/dlog/show_dlog.asp?id=122&num=87 – para capturar – e publicar – a provocante matéria que se segue.

Essa matéria você encontra, também, em Podcast. É só baixar no seu ipod ou mp3 e fazer suas caminhadas com o que há de melhor para se ouvir – e curtir.

A seguir, a matéria.

Amansador de burro bravo

Bom dia, boa tarde, boa noite. As demandas que enfrentei, as batalhas que lutei, de nada disso me gabo. Das loucuras que já fiz o que mais me deixou feliz: amansador de burro brabo…

Vamos falar hoje mais uma vez dela. A mardita. A burrice. Pra começar uma frase do escritor português Camilo Castelo Branco:

Os estúpidos guerreiam barbaramente o talento. São os vândalos do mundo espiritual.

Camilo Castelo Branco

Uma pesquisa da agência de propaganda Young & Rubican mostrou o que os brasileiros acham que o Brasil é MENOS dinâmico, inovador, com prestígio, sensual e útil, do que acham os norte-americanos.

Lembrei que a Dana, empresa onde trabalhei por 26 anos, fechou um acordo com a Troller, fabricante dos jipes 4×4 do Ceará, para competir no Campeonato Mundial de Rally Cross Country em 2001. Em setembro, a equipe Dana – Troller já era campeã por antecipação, com mais que o dobro da pontuação sobre o segundo colocado. As outras equipes corriam com Mitsubishi, Nissan, Toyota, Renault, Ford, Land Rover…

Uma equipe 100% brasileira, ganhou das grandes marcas mundiais! Uma semana depois, encontramos um engenheiro de uma grande montadora.

– Porquê vocês não patrocinam os NOSSOS carros? Isso aí é uma gambiarra, a fábrica é uma boqueta!

Vejam só como é ser brasileiro… Se fosse nos EUA, o então presidente Bush teria condecorado os pilotos e os engenheiros da Troller na Casa Branca, com um discurso inflamado exaltando o espírito empreendedor dos que ganharam das grandes potências. Com direito a hino, salva de tiros e a CNN transmitindo para todo o mundo. E milhares de bandeirinhas. Que orgulho!

Como aqui é o Brasil, o título mundial é uma gambiarra. Quem ganhou, foi um jipe feito lá no Ceará, cara! O que vale é o que vem de fora, projetado numa grande cidade dos EUA, Europa ou Ásia e adaptado aqui.

Qualquer coisa feita por brasileiros, não é digna de crédito.

Aí ficamos com cara de palermas, tentando entender por quê, com tantas praias, matas e natureza, recebemos menos turistas do que países que pouco têm a oferecer?

Por quê lá fora só se fala do menor abandonado, do índio que apanha, da rebelião na detenção, da plataforma que afundou, da violência e da corrupção? Ou das bundas das mulheres, do sexo liberado, da música, da cerveja e do futebol?

O Brasil só recebe referências positivas, quando falamos da beleza natural, das praias, das mulheres, do sol… das coisas que Deus deu.

E para piorar, parece que estamos conformados, né? Tudo o que a gente quer é pão e leite….

Pan y Leche
Yo quiero estar contente
Eu e toda a minha gente
Yo quero
Pan y leche
Que se possa ir pra frente
Ser bonito inteligente
(sempre)
Pan y leche
E que apesar do presidente
Tenha casa escola e dente
Fartamente
Pan y leche
E que numa noite quente
Por acaso chova e vente
Que bom
Pan e leche
Bem agora derrepentre
Ter vc na minha frente
Rente
Pan y leche
E quando agente deite
Sonhe sossegadamente
Que nos somos
Pan y leche
Tchau tchau tchau arrivedeci
Yo me voy tranquilamente
Sente
Pan y leche
Anticonstitucionalicimamente
Queremos
Pan y leche

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Que delícia … Você vai ouvir, no podcast, MAURÍCIO PEREIRA, com PAN Y LETCHE… Sacou? Que apesar do presidente, tenha casa, escola e dente. Fartamente pan y letche…

http://www.youtube.com/watch?v=Y1Ze_XY-eq8 – Maurício Pereira – Pan y Leche

Maurício Pereira

Pobres de nós, burros!

Continuando nosso assunto…

Quais são as referências criadas pelos brasileiros? Onde estão os brasileiros que causam impacto lá fora? Não tem. Os pouquíssimos que restam, estão com 60, 90 anos… Nada mais parece que produzimos.

Massacrados pela mídia, nos agarramos desesperadamente ao piloto de Fórmula 1, que já morreu. Ao tenista abnegado, uma exceção que deu certo. Ao jogador de futebol que parou de jogar há 30 anos. À grande atriz que quase ganha o Oscar. Todos especiais, únicos, que começaram sem apoio, sem credibilidade e, por mérito pessoal, chegaram lá.

E se aqueles dois aviões batem nas torres aqui no Brasil? Seríamos a chacota do mundo. Onde mais alguém consegue seqüestrar um avião usando canivete?

E se aquelas eleições para presidente nos Estados Unidos tivessem sido aqui? E se o Bin Laden estivesse escondido numa caverna no Mato Grosso?

E se o navio da Exxon que vazou e detonou o meio ambiente fosse brasileiro? E se o Gorki, o submarino russo que afundou, fosse brasileiro também?

E se o Michael Jackson, com aquelas plásticas fosse brasileiro?

Pois é. Fico imaginando quem mais é tão burro a ponto de falar mal de seu país, de sua casa, de sua gente, de suas conquistas, para desconhecidos. Se mais alguém é tão burro a ponto de não reconhecer o mérito daqueles que, a despeito de todas as dificuldades, falta de recursos e ignorância, conseguem sobressair diante dos mais preparados.

Se mais alguém é tão burro a ponto de se achar burro.

Pobres de nós, burros.

Meu Burrinho
Fecha os olhos meu burrinho
Não tenha medo de nada, meu bem
Durma que o homem não vem
Ninguém gosta de você
Mas eu vejo, que razão não tem
Pra entender um burro
É preciso que seja outro burro também
Durma, meu bem
Durma que aqui o italiano não vem
Meu burrinho a sua cor
Aumentar minha amizade vem
Porque é preta e branca
A bandeira do time que eu quero bem
Durma, meu bem
Durma que aqui o italiano não vem

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Que delícia…Você ouvirá no podcast, MEU BURRINHO, com Mazzaropi. Composição do grande Elpídio dos Santos que foi sucesso no filme O CORINTHIANO. Você sacou o trecho da letra que diz que pra entender um burro é preciso que seja outro burro também? Pois é…

Você Sabia?

Mazzaropi
Mazzaropi foi um artista brasileiríssimo. De origem humilde, começou no circo, foi para o rádio, passou pela TV, e chegou ao cinema, onde estreou como ator até se tornar seu próprio produtor, diretor e distribuidor, consagrando-se como um dos maiores sucessos de bilheteria. Mazzaropi conseguiu o que ainda hoje parece quase impossível: criar uma indústria de cinema genuinamente nacional, independente (sem subsídios ou financiamentos) e, além de tudo, bem sucedida.
Certa vez, ao lhe perguntarem qual seria a razão de sua fama, ele respondeu: “O segredo do meu sucesso é falar a língua do meu povo”. Mazzaropi não fazia filmes sobre o Brasil. Mazzaropi fazia filmes para o Brasil.
Para o enorme público brasileiro que não perdia um filme sequer, ele contou histórias que abordavam o racismo, divórcio (que a lei então proibia), as religiões, política e falou até mesmo dos problemas da devastação da natureza. Assuntos tão sérios, ele tratava de um jeito pouco comum, a comédia. E, como ele falava “a língua do povo”, de onde ele mesmo emergiu, e de um jeito bem brasileiro, isto é, evitando o debate e o confronto com quem detém o poder, a elite, é claro, não o entendia muito bem.
Então, apesar da aclamação pelo grande público, o reconhecimento de seu trabalho pela crítica e a elite intelectual lhe foi praticamente negado.
Felizmente, a obra de Mazzaropi vem sendo revista pelos críticos e as universidades começam a estudá-la, embora ainda seja espantosa a omissão do artista nos livros sobre cultura nacional.
http://www.youtube.com/watch?v=0p3VbfT6qOk – Mazzaropi – trecho do filme O Jeca Tatu
http://www.youtube.com/watch?v=cas7LGsGqB8 – Mazzaropi e Adoniran Barbosa em trecho do filme A Carrocinha
http://www.youtube.com/watch?v=qQw-nQvURcw – Mazzaropi em O Corinthiano – Parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=r0A9yyUOnnc – Mazzaropi em O Corinthiano – Parte 2

http://www.museumazzaropi.com.br/ – Museu Mazzaropi

Mazzaropi no filme O Corinthiano

… parvoíce, asnice, estupidez, burreza, burriquice…

E por falar em burrice, que tal um poema de Patativa do Assaré, chamado O BURRO?

Ao fundo você ouvirá TRISTE BERRANTE, com a Orquestra Paulistana de Viola Caipira…

O Burro

Vai ele a trote, pelo chão da serra,

Com a vista espantada e penetrante,

E ninguém nota em seu marchar volante,

A estupidez que este animal encerra.

Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,

Sem dar uma passada para diante,

Outras vezes, pinota, revoltante,

E sacode o seu dono sobre a terra.

Mas contudo! Este bruto sem noção,

Que é capaz de fazer uma traição,

A quem quer que lhe venha na defesa,

É mais manso e tem mais inteligência

Do que o sábio que trata de ciência

E não crê no Senhor da Natureza.

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Triste Berrante
Já vai bem longe este tempo, bem sei
Tão longe que até penso que eu sonhei
Que lindo quando a gente ouvia distante
O som daquele triste berrante
E um boiadeiro a gritar, êia!
E eu ficava ali na beira da estrada
Vendo caminhar a boiada até o último boi passar
Ali passava boi, passava boiada
Tinha uma palmeira na beira da estrada
Onde foi gravado muito coração
Onde foi gravado muito coração
Lá, lá lá iá lá iá….
Mas sempre foi assim e sempre será
O novo vem e o velho tem que parar
O progresso cobriu a poeira da estrada
E esse tudo que é o meu nada
Eu hoje tenho que acatar e chorar
Mas mesmo vendo gente, carros passando
Meus olhos estão enxergando uma boiada passar

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Você Sabia?

Patativa do Assaré
Antônio Gonçalves da Silva (Assaré CE, 1909 – 2002).
Freqüentou a escola por apenas quatro meses, em 1921, mas desde então vem “lidando com as letras”, como ele mesmo afirmou.
Agricultor, em 1922 já atuava como versejador em festas, e a partir de 1925, quando comprou uma viola, deu início à atividade de compositor, cantor e improvisador. Em 1926 teve um poema publicado no Correio do Ceará, mas seu primeiro livro, Inspiração Nordestina, seria lançado trinta anos depois, em 1956.
Em 1978 publicou o livro Cante Lá que Eu Canto Cá, e em 1979 iniciou, com Poemas e Canções, a gravação de uma série de discos, entre os quais se destacam Canto Nordestino (1989) e 88 Anos de Poesia (1997). Seu último livro, Cordéis-Patativa do Assaré , é de 1999.
A poesia de Patativa, que verseja em redondilhas e decassílabos, traduz uma visão de mundo “cabocla”, muitas vezes nostálgica e desapontada com as mudanças trazidas pela modernidade e pela vida urbana. Sua obra aborda os valores e os ideais dos camponeses do interior do Ceará, em poemas que tematizam da reforma agrária ao cotidiano dos sertanejos cearenses.

Patativa do Assaré e Orquestra Paulistana de Viola Caipira

Continuando com nossas reflexões…

Uma das coisas fantásticas da internet é como ela nos coloca em contato com pessoas que nunca conheceríamos de outra forma.

Uma dessas é o Guto (vulgo Carlos Magalhães), que é sociólogo, mora em Belo Horizonte, tem um blog em www.ncc.embuste.com.br e gosta de “ficar sentado na calçada conversando sobre isso e aquilo, coisas que nóis não entende nada*”. Neste texto, Guto fala de Burrice…

Ao fundo você vai ouvir MAMBO SERTANEJO, com o Índio Cachoeira, nascido José Pereira de Souza em Junqueirópolis São Paulo e um dos maiores violeiros que o Brasil conhece. Você conhece? Índio Cachoeira no Café Brasil…

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Índio Cachoeira

E vamos ao texto do Guto

Assim está no Aurélio: Burrice – Qualidade de burro (8) falta de inteligência: parvoíce, asnice, estupidez, burreza, burriquice.

2. Ação própria de burro (8) burriquice [ v. asneira (1) ]

Burro – Curto de inteligência bronco, estúpido, imbecil, burrego, asinino

Sempre me espanto e penso na burrice. Nem preciso dizer que não gosto dela. Gente burra me dá preguiça. Concordo com tudo o que dizem, já que não é possível dialogar. Mas o que é a burrice? O Aurélio apenas cruza sinônimos. Não esclarece nada.

Curiosos os termos que são tomados como óbvios. São quase indefiníveis. Acredito que se perguntar a alguém o que é burrice a resposta será: “Burrice é burrice, uai!” Mas o que é a burrice?

Em primeiro lugar, a burrice não pode ser confundida com falta de informações. Isso é ignorância. Há pessoas ignorantes muito inteligentes. E há pessoas muito informadas e muito burras.

Em segundo lugar, a burrice também não pode ser confundida com doença mental. Existem limitações neurológicas mais ou menos graves que podem ou não ser acompanhadas de burrice.

Terceiro, burrice não é sinônimo de desrazão. E razão não é sinônimo de inteligência. Penso mesmo que onde a razão não é compromisso a inteligência se expande.

A burrice genuína acomete pessoas de todas as classes, de todos os grupos e de todas as condições de saúde ou doença (física ou mental).

Burrice é uma questão de escolha.

Amansador de Burro Brabo
Já andei muito nesse mundo
Já fiz de tudo na vida
Pois assim o povo comenta
E muita gente até duvida
Eu já fiz tanto ofício
Evolução e comício
Já dei surra no diabo
Mas só fico convencido
Quando sou reconhecido
Amansador de burro brabo
Me chamaram de matuto
Procurado ingrisia
Me chamaram de peão
Pensando que me ofendiam
As demandas que enfrentei
As batalhas que lutei
De nada disso me gabo
Das loucuras que eu já fiz
Que mais me deixou feliz
Amansador de burro brabo
Igual todo sertanejo
Sou duro mas não sou mau
Nada invejo nesse mundo
Riqueza ou anel de grau
Na faculdade da vida
Eu tenho a missão cumprida
Com força e muito garbo
Se indagam minha paixão
Respondo com o coração
Amansador de burro brabo

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E essa, hein? Você vai ouvir no podcast, Gedeão da Viola e João Pedro com o AMANSADOR DE BURRO BRAVO, de Braúna e Téo Azevedo…

Gedeão da Viola e João Pedro

Volto ao texto de Guto.

Na minha opinião, a burrice é uma questão de escolha. Penso que todos os humanos nascem com o mesmo equipamento cerebral. O uso ou o não-uso daquilo que a evolução nos deu é opcional. Muitas pessoas optam por não usar. Esses são os verdadeiros burros.

Tecnicamente essa escolha se manifesta como uma dramática diminuição daquilo que os neurocientistas costumam chamar de “memória de trabalho”. Essa memória é uma espécie de RAM do cérebro. Deve ser grande e permanecer ativa para que o pensamento possa se desenvolver com liberdade e criatividade. Pensamentos complexos só podem prosperar quando a “memória de trabalho” está amplamente disponível.

Quando essa memória é muito pequena, o indivíduo não é capaz de trabalhar com mais de duas variáveis, com sinais sempre opostos (se A é verdade, logo B é falso). Esses pensamentos monofásicos são acompanhados de um olhar vazio e, de acordo com os mais observadores, levemente e involuntariamente jocoso.

É próprio do pensamento monofásico a desconexão entre os diferentes blocos de idéias. Por isso os burros caem sempre em contradição, embora nunca percebam esse detalhe. Ou pior, acreditam-se muito coerentes.

Os burros gostam muito de frases peremptórias. Costumam dizer: “Eu sou “assim”…”, “Como eu sempre digo…”, “Sempre falo a verdade…”, “Meu problema é a minha sinceridade…” “Quem fala que não acredita em Deus está mentido…”.

Em geral são muito sérios. E quanto mais sérios, mais burros. Existem também os “bobos alegres”. Mas esses são minoritários.

Mas a principal característica de todos os burros é a crença inabalável. São crentes. Acreditam piamente. Acreditam em uma realidade externa, objetiva e estável que pode ser fielmente representada pelas palavras. Acreditam que as palavras são etiquetas que se colam a coisas reais. Desconfiam de todos que não usam as etiquetas que consideram corretas.

Se a burrice é opcional, a crendeirice não o é. É efeito colateral da escolha. Tal efeito, depois de acometer aquele que optou pela parvoíce, não mais o abandona.

Enfim, burrice não tem cura.

Ouro de Tolo
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês…
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73…
Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa…
Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa…
Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado…
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto “e daí?”
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado…
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos…
Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco…
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal…
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social…
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar…
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador…
Ah!
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar…
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador…

Quer ouvir a música no Café Brasil? Clique aqui,

Pois então… Quem mais é tão burro a ponto de se achar burro? E é assim que a gente vai embora. Ao som de Rauzito com OURO DE TOLO, lá de 1973 o Café Brasil de hoje vai embora…

http://www.youtube.com/watch?v=cn0S56WPkjQ& – Raul Seixas – Ouro de Tolo

Raul Seixas

Falamos da burrice, sabe? Quem é capaz de escapar dela?

Com Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e eu: Luciano Pires na direção e apresentação.

Quem veio hoje? Olha só: Carlos Magalhães (Guto), Mauricio Pereira, Mazzaropi, Osquestra Paulista de Viola Caipira, Índio Cachoeira, Gedeão da Viola com João Pedro e Raul Seixas…

Quer mais? Procure em www.lucianopires.com.br.

E pra terminar uma frase do escritor, filósofo e historiador francês Ernest Renan:

A estupidez humana é a única coisa que nos pode dar a noção do infinito.

Ernest Renan

O Brasil tem jeito?

COMPRA DE VOTO

Capturado na internet, na edição de hoje, do Jornal Folha de São Paulo

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0410200901.htm

Ninguém é inocente

Pesquisa Datafolha inédita revela que brasileiro tem alto padrão ético e moral, mas percepção ampla de corrupção no país; 13% admitem já ter negociado voto em troca de dinheiro, emprego ou presente

PLÍNIO FRAGA
DA SUCURSAL DO RIO
O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa Datafolha inédita. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto), conclui-se deste “Retrato da Ética no Brasil”.
Por exemplo, 94% dizem ser errado oferecer propina, e 94% concordam ser repreensível vender voto -um padrão escandinavo, a região do norte da Europa que engloba países como Suécia e Noruega, os menos corruptos do mundo, segundo a Transparência Internacional.
Um país em que os eleitores trocam voto por dinheiro, emprego ou presente e acreditam que seus concidadãos fazem o mesmo costumeiramente; um país em que os eleitores aceitam a ideia de que não se faz política sem corrupção; um país assim deveria ser obra de ficção, como em “Os Bruzundangas” (Ediouro), livro de Lima Barreto de 1923.
Mas o Brasil da prática cotidiana parece mais com Bruzundanga do que com a Escandinávia. O Datafolha mostra que 13% dos ouvidos admitem já ter trocado voto por emprego, dinheiro ou presente -cerca de 17 milhões de pessoas maiores de 16 anos no universo de 132 milhões de eleitores.
Alguns declararam ter cometido essas práticas de forma concomitante. Separados por benefício, 10% mudaram o voto em troca de emprego ou favor; 6% em troca de dinheiro; 5% em troca de presente.
Dos entrevistados, 12% afirmam que estão dispostos a aceitar dinheiro para mudar sua opção eleitoral; 79% acreditam que os eleitores vendem seus votos; e 33% dos brasileiros concordam com a ideia de que não se faz política sem um pouco de corrupção. Para 92%, há corrupção no Congresso e nos partidos políticos; para 88%, na Presidência da República e nos ministérios.
O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em análise feita para o Mais!, em artigo à pág. 5, afirma que o resultado sociológico relevante da pesquisa é a convergência de opiniões sobre a corrupção e questiona os efeitos na democracia do que chama de fim da autonomia da consciência individual típica do liberalismo.
A antropóloga Lívia Barbosa, autora de “O Jeitinho Brasileiro” (ed. Campus), acredita que, apesar das desigualdades econômicas e sociais, os brasileiros das mais diferentes faixas etárias, de gênero e de renda, níveis de escolaridade e filiações partidárias pensam “corretamente” a respeito de ética, moralidade e corrupção. “Ou vivemos na Escandinávia e não sabíamos e, portanto, devemos comemorar; ou o que fazemos na prática corresponde pouco ao que dizemos que fazemos e pensamos que deveria ser feito”, escreve Barbosa à pág. 9.
Povo e elite
O cientista político Renato Lessa reedita máxima de San Tiago Dantas: “o povo enquanto povo é melhor do que a elite enquanto elite”. “Não ficamos “mal na fita”. Há uma generalizada e consistente presença de marcadores morais e éticos. Cremos saber o que é a corrupção e onde e quando se apresenta. No mais, desconfiamos dos outros”, escreve à pág 11.
O economista Marcos Fernandes Gonçalves da Silva lembra (pág. 8) que a percepção de corrupção gigantesca não é um fenômeno brasileiro. Está em alta em países tão díspares como Argentina, Coreia do Sul, e Israel. A cobrança de propinas, especialmente associadas à “pequena corrupção”, é endêmica pelo mundo, diz ele, especialista no tema.
No Brasil, 13% ouviram pedido de propina, e 36% destes pagaram; 5% ofereceram propina a funcionário público; 4% pagaram para serem atendidos antes em serviço público de saúde; 2% compraram carteira de motorista; 1%, diploma.
Entre os entrevistados, 83% admitiram ao menos uma prática ilegítima ao responder a pesquisa (7% reconheceram a prática de 11 ou mais ações ilegítimas, admissão considerada “pesada”; 28% dizem ter praticado de 5 a 10 ações; 49% tiveram uma conduta “leve”, com até quatro irregularidades).
A pesquisa mostra que 31% dos entrevistados colaram em provas ou concursos (49% entre os jovens); 27% receberam troco a mais e não devolveram; 26% admitiram passar o sinal vermelho; 14% assumiram parar carro em fila dupla. Dos entrevistados, 68% compraram produtos piratas; 30% compraram contrabando; 27% baixaram música da internet sem pagar; 18% compraram de cambistas; 15% baixaram filme da internet sem pagar.
São os mais ricos e mais estudados os que têm as maiores taxas de infrações (97% dos que ganham mais de dez mínimos assumem ter cometido infrações e 93% daqueles que têm ensino superior também), sendo que 17% dos mais ricos assumem frequência pesada de irregularidades (11 ou mais atos). Entre os mais pobres, 76% assumem infrações; dos que têm só o ensino fundamental, 74% afirmam o mesmo.
Apesar disso, 74% dizem que sempre respeitam as leis, mesmo se perderem oportunidades. E 56% afirmam que a maioria tentaria tirar proveito de si, caso tivesse chance.
A pesquisa do Datafolha tem o mérito de colocar em foco problema crucial nacional. Uma discussão sobre se o Brasil deve seguir Bruzundanga.
A obra que retrata a República dos Estados Unidos da Bruzundanga foi lançada no ano seguinte à morte de Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), autor consagrado por livros como “Triste Fim de Policarpo Quaresma”.
“O valo de separação entre o político e a população que tem de dirigir faz-se cada vez mais profundo. A nação acaba não mais compreendendo a massa dos dirigentes, não lhe entendendo estes a alma, as necessidades, as qualidades e as possibilidades”, escreveu Lima Barreto. E concluiu: “Um povo tem o governo que merece”.
Próximo Texto: Uma carrada de barro em troca do voto
Índice

Legado comunista. O sonho da igualdade na lata do lixo

desigualdade-social-ii

“[…]Na escala  social, algumas centenas de funcionários estava confortavelmente instalados bem no topo. Contavam com limusines elegantes dirigidas por motoristas sempre a postos, e nos pricipais cruzamentos guardas paravam todo o tráfego para que os compridos veículos negros pudessem passar. Suas esposas não sabiam o que era ficar na fila para conseguir comida. Seus chalés de férias nos bosques eram mais do que simples cabanas. Embora não fossem tão sofisticados quanto os do Ocidente, tais privilégios pareciam bizarros em um país onde se supunha que todos fossem iguais. Um funcionário de segundo escalão do partido podia eventualmente adquirir um carro, embora o minerador, a professora, o operário, o limpador de ruas, o dentista e a bibiliotecária isso fosse apenas um sonho” [..]”(excerto do bestseller Uma Breve História do Tempo, de Geofrrey Blainey, Editora Fundamento, 008, p. 260)

Para reflexão

reflexaogorila

Matéria captura na internet

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0310200904.htm

FERNANDO RODRIGUES
Os valores do Supremo

BRASÍLIA – Por 42 dias, o Supremo Tribunal Federal assistiu, impassível, à Câmara dos Deputados desrespeitar uma decisão tomada por um de seus ministros.
Marco Aurélio Mello havia concedido à Folha uma liminar (decisão provisória) franqueando o acesso a notas fiscais entregues por deputados para justificar gastos com verbas indenizatórias no final de 2008. Os detalhes dessas despesas são secretos desde a sua criação, há quase uma década. Enredado em uma de suas crises cíclicas de credibilidade, o Congresso passou a mostrar as notas apenas a partir de abril deste ano. O passado ficou enterrado -junto com todas as possíveis irregularidades.
Na última quarta-feira, o STF derrubou a liminar de Marco Aurélio pelo placar de 6 a 4. A maioria considerou imprópria uma decisão provisória irreversível. Uma vez divulgadas as notas fiscais, seria inútil julgar o mérito da causa.
Foi um bom argumento a favor de um péssimo conceito. Até porque o mérito em questão é decidir se vigora no Brasil o acesso livre a informações públicas -como está expresso na Constituição. Aos olhos do STF, esse direito ainda é algo abstrato. Pior. A maioria dos magistrados não se incomodou com a humilhação de 42 dias imposta pela Câmara ao Supremo.
Coube à ministra Ellen Gracie sintetizar na quarta-feira como o acesso a informações públicas é um valor relativo naquela Corte: “É grande o número de parlamentares, deve ser grande o número de notas [fiscais]. Indago se existe razoabilidade em um pedido que não aponta qual é a investigação”.
Pela curiosa lógica da ministra, que prevaleceu no STF, jornalismo no Brasil agora deve seguir duas regras. Primeiro, evitar requerer dados públicos muito numerosos. Segundo, quando pedir informação a um Poder de República, sempre explicar detalhadamente qual é a investigação em curso.

frodriguesbsb@uol.com.br

Afinal, somos todos oportunistas?

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Dicionário Michaelis

oportunismo
o.por.tu.nis.mo
sm (oportuno+ismo) 1 Polít Tendência a sacrificar os princípios, para transigir com as circunstâncias e acomodar-se a elas. 2 Habilidade em procurar ocasiões oportunas para bons lances, em certos jogos esportivos.

oportunista
o.por.tu.nis.ta
adj m+f (oportuno+ista) Relativo ao oportunismo. adj e s m+f 1 Que, ou quem aproveita as oportunidades. 2 Que, ou pessoa que é partidária do oportunismo.

Acabo de instruir um processo ( nº 150502009), cuja ação penal foi proposta pelo Ministério Público contra G.M. de S., em face de um assalto em desfavor da Loja Insinuante, fato ocorrido no dia 26 de maio do corrente, às 17h00, no bairro João Paulo, nesta cidade.

Em determinado momento da instrução, indaguei da testemunha, J.R P.P.J., um dos empregados da loja que testemunharam o assalto, se os assaltantes tinham conseguido levar alguma coisa da loja, ao que respondeu:

– Os assaltante não, mas a população, sim.

No primeiro momento fiquei sem entender. Depois compreendi.

Que bobo que sou!

O que a testemunha disse, para meu desalento, é que os populares que se mobilizaram em face do assalto, aproveitaram a ocasião para saquear a loja.

Esse fato, me leva a formular a pergunta que tenho feito insistentemente:

– Afinal, somos todos oportunistas?

Tenho dito, até com certa ênfase, que, ao que parece, todos nós estamos esperando apenas uma oportunidade para tirar proveito de alguma situação.

Como podemos, então, criticar os nossos homens públicos, se, na primeira oportunidade, nos mostramos iguais a eles?

Como clamar por moralidade se, ao que parece, somos capazes de agir da mesma forma que eles?

É lamentável constatar mas, ao que parece, somos mesmo meros oportunistas.

É por isso que se deve enaltecer, sempre, quem, diante de uma facilidade, se mantém na trilha da retidão.

Inversão de valores

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“[…]Muitos cidadãos, diante desse quadro de incredulidade, de cinismo e descaramento à vista fácil, indagam, estupefatos – quase com rebeldia; parecendo inssurretos, às vezes -, para que servem o Congesso Nacional, as Assembléias Legislativas, as Câmaras de Vereadores, o Ministério Público, o Poder Judiciário, os Tribunais de Conta e as Polícias, para ficar apenas nos exemplos mais eloquentes, tendo em vista que são instituições fundamentais para a vida em sociedade[…]”

Juiz José Luiz Oliveira de Almeida

Titular da 7ª Vara Criminal

Na crônica que publico a seguir, mais uma vez refleti acerca da nossa crise moral, tema recorrente nas minhas reflexões.Antecipo, a seguir, excertos das reflexões, verbis:


  1. Arrogante, ao que vislumbro, nos dias presentes, não é quem faz do exercício do poder um instrumento para obtenção de vantagens de ordem pessoal – e familiar -, achando que tudo pode; arrogante é quem desfralda a bandeira da retidão e da honestidade, num país onde, ao que parece, prosperarem os mendazes, os salafrários.
  2. Arrogante, observo no dia a dia, não é quem usa de expediente imoral para burlar a lei, agindo como quem está imune os mecanismos de controle -interno e externo – das instituições; arrogante é quem tem a coragem de condenar esse tipo de conduta, é quem prefere a lisura ao ganho fácil.
  3. Arrogante – ve-se a todo instante, em qualquer lugar, a qualquer hora – não é quem usa o poder público para realizar traquinices e travessuras, como se pairasse acima do bem e do mal; arrogante é quem, no exercício do poder público, busca servir tão-somente à comunidade e condena, no mesmo passo, as práticas nocivas ao conjunto da sociedade, pois, assim agindo, pensa que vai mudar o mundo, pensa, enfim, que é o salvador da pátria.


A seguir, a crônica, por inteiro:

A crise moral se abateu sobre nós, à toda evidência; como um tufão, provoca na sociedade devastações morais que nos entorpecem, enrijecendo o nossa capacidade de discernir o certo do errado, o bom do ruim, o bem do mal… Pelo menos essa é a impressão que fica, em face das notícias veiculadas na imprensa.

Ao que vejo – e ao que sinto – nunca os homens públicos estiveram tão desgastados, tão desacreditados – alguns desmoralizados, até; o caradurismo, a desfaçatez e o nenhum pudor de proeminentes homens públicos é algo que precisa ser melhor estudado, porque impressiona, sobremaneira.

Ao lado, pari passu, disputando o pódio nessa crise, por via de consequência, vejo, levadas a reboque, as instituições.

Muitos cidadãos, diante desse quadro de incredulidade, de cinismo e descaramento à vista fácil, indagam, estupefatos – quase com rebeldia; parecendo issurretos, às vezes -, para que servem o Congesso Nacional, as Assembléias Legislativas, as Câmaras de Vereadores, o Ministério Público, o Poder Judiciário, os Tribunais de Conta e as Polícias, para ficar apenas nos exemplos mais eloquentes, tendo em vista que são instituições fundamentais para a vida em sociedade.

Diante desse quadro, salta aos olhos que os valores estão invertidos. Essa inversão de valores, sobreleva anotar, porque salto aos olhos, nos atinge a todos, nos fulmina de forma inclemente – e nos faz parecer (?) otários, sobrevivendo num mundo de espertalhões.

Nessa linha de pensar importa dizer, sem perder o foco, que, ao que vislumbro do meu ponto de observação, a absoluta maioria dos cidadãos, infelzimente, como que entorpecida, se deixa quedar, num mutismo perigoso – parecendo, às vezes, cúmplice -, limitando-se, nesse conexto, muitas vezes, a apenas exteriorirzar a sua indignação, com certa acomodação, sem convicção – contemplativamente, até – nos rodas de batepapo.

Diante dessa triste realidade, tem-se, até – lamentável dizer –, a sensação de que não tem mais jeito. Pensamos, aturdidos, que é assim mesmo que tem que ser. Imaginamos, certamente equivocados, que, entre nós, o que prepondera mesmo é a velha máxima segundo a qual “quem pode mais chora menos”.

À luz desse quadro, diante dessa lastimosa inversão de valores, tenho constatado, assaz contristado, que arrogante, por exemplo, não é o funcionário público que, “esperto” e “inteligente”, ganha sem trabalhar e não perde a oportunidade de tirar vantagem do cargo que exerce; arrogante – e, quiçá, babaca – é quem se dedica ao trabalho, quem não se deixa corromper, num pais que parece valorizar a pachorra, a distribuição de propinas, o jeitinho, o levar vantagem, o apotegma segundo o qual os fins justificam os meios.

Arrogante, ao que vislumbro, nos dias presentes, não é quem faz do exercício do poder um instrumento para obtenção de vantagens de ordem pessoal – e familiar -, achando que tudo pode; arrogante é quem desfralda a bandeira da retidão e da honestidade, num país onde, ao que parece, prosperarem os mendazes, os salafrários.

Arrogante, observo no dia a dia, não é quem usa de expediente imoral para burlar a lei, agindo como quem está imune os mecanismos de controle -interno e externo – das instituições; arrogante é quem tem a coragem de condenar esse tipo de conduta, é quem prefere a lisura ao ganho fácil.

Arrogante – ve-se a todo instante, em qualquer lugar, a qualquer hora – não é quem usa o poder público para realizar traquinices e travessuras, como se pairasse acima do bem e do mal; arrogante é quem, no exercício do poder público, busca servir tão-somente à comunidade e condena, no mesmo passo, as práticas nocivas ao conjunto da sociedade, pois, assim agindo, pensa que vai mudar o mundo, pensa, enfim, que é o salvador da pátria.

Arrogante, salta aos olhos de quem quer ver, não é quem enriquece no exercício do poder, supondo que nunca será alcançado pelos órgãos persecutórios; arrogante é quem, podendo, não faz uso dos mesmos expedientes, supondo que vai, com essa postura, reparar o que não tem conserto.

Arrogante, é lamentável dizer, não é que quem se esconde atrás da toga para fazer traquinagens; arrogante é quem tem a coragem de assumir que o exercício da judicatura não é para exercitar a bandalha, mas para cumprir e fazer cumprir a lei.

Arrogante – triste realidade – não é quem chega ao expediente depois das dez da manhã; arrogante é quem chega cedo, pois que, assim agindo, pretende, ao que parece, expor a falta de desvelo dos seus pares e mostrar-se, ao olhos de quem queira ver, que tem zelo pela coisa pública.

Arrogante – os exemplos estão aí, diante dos olhos de quem não tem cegueira mental – não é quem se ausenta do trabalho sem qualquer comunicação, sem qualquer informação acerca do seu paradeiro, como quem não tem a quem dar satisfação; arrogante é quem, para se ausentar, comunica, antes, a quem de direito, porque, assim agindo, deixa patenteado que deseja apenas colocar em posição desconfortável quem age de forma diversa.

Arrogante não é quem decide sem fundamentar bem a decisão prolatada, pois, afinal, para esses, o que interessa mesmo são os fins; arrogante é quem se esmera na fundamentção, pois que, assim agindo, deixa entrever que pretende ser mais competente que seus pares, parece querer ministrar ensinamentos.

Arrogante não é quem não tem compromisso com a hora; arrogante é quem insiste em ser pontual, num país que se distingue pela falta de pontualidade.

Arrogante não é quem, no uso da prerrogativa de decidir, desrespeita as partes envolvidas no litigio; arrogante é quem pensa que os acusados mereçam ser tratados com respeito.

Arrogante e autoritário não é quem costuma dar murros na mesa para se fazer respeitar; arrogante e sem autoridade é quem pensa que se fará respeitar à luz do equilíbrio e sensatez.

Arrogante não é o agente público que mente, que ludibria, que faz qualquer coisa que esteja a seu alcance para lograr uma vitória; arrogante – e otóario – é quem, pensa que, sendo verdadeiro e honesto, conseguirá, por exemplo, sobrepujar o adversário numa pugna eleitoral.

Arrogantes, enfim, não são os que, para se manterem no poder, mentem, escarnecem, vendem a alma e a dignidade, se preciso; arrogante é quem pensa que alcancaçará algum êxito vivendo honestamente, falando a verdade, honrando a palavra assumida.

Como é duro ser brasileiro

A partir de hoje vou publicar neste blog matérias de autoria de Luciano Pires, escritor, palestrantes e responsável pelo blog Café Brasil

Os artigos podem ser ouvidos em podcast.

Faça como eu. Faça suas caminhadas ouvindo Luciano Pires. Você vai ver só que delícia.

Anoto que estou autorizado a fazer as publicações, pelo próprio Luciano Pires, com quem contatei antes.

Para conhecer outras matérias – e o próprio – de Luciano Pires, acesse o site http://www.lucianopires.com.br/

A seguir, a primeira matéria que escolhi para veicular no meu blog.

Bom dia, boa tarde, boa noite… See the stone set in your eyes… see the thorn twist in your side… Hummm.. que luxo né? Café Brasil em ingrêis? Pois é. Mas é pra falar de como é duro ser brasileiro. No programa de hoje você vai se reconhecer, sabe? Pra começar , vamos com uma frase que eu acho que já usei neste programa. É de Tom Jobim…

Viver nos Estados Unidos é bom, mas é uma merda.

Viver no Brasil é uma merda, mas é bom.

E meu cunhado decide ir ao Parque Antarctica assistir seu Palmeiras. Leva junto meu sobrinho e, pra não ter erro, compra ingressos na numerada coberta.

Pagou 120 reais cada um. Saiu de casa com antecedência e levou mais de duas horas para chegar até o estádio, enfrentando um trânsito caótico. Por sorte ele foi de taxi. Chegou ao estádio com cinco minutos de atraso.

Ao encaminhar-se às suas cadeiras numeradas encontrou-as ocupadas por um sujeito e seu pai. Dirigindo-se a eles com educação, meu cunhado recebeu a resposta seca, sem sequer ser olhado pelo sujeito:

– Não vou sair. Meu lugar também estava ocupado.

Meu cunhado argumentou que então o sujeito deveria se entender com quem ocupou o lugar dele, e não tomar o lugar dos outros. Mas não adiantou. O cara de pau fingia que não estava ouvindo. A temperatura foi subindo até que meu sobrinho aliviou:

– Escuta, no intervalo você desocupa o nosso lugar?

O sujeito concordou. Meu cunhado assistiu o jogo até o intervalo sentado na escada. Só conseguiu sentar no lugar pelo qual pagou quando o desgraçado levantou no intervalo.

Bem vindos, meus amigos. Isso é o Brasil.

Homenagem ao malandro
Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem não existe mais.
Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional,

malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital,

que nunca se dá mal.
Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central

Quer ouvir a música no Café Brasil? Clique aqui

Que tal o clássico HOMENAGEM AO MALANDRO, de Chico Buarque, na voz de João Bosco? Nem precisa dizer nada…

http://www.youtube.com/watch?v=veeisMvPJm8 – Homenagem ao Malandro – Chico Buarque
http://www.youtube.com/watch?v=KBSPStJkEPY – Homenagem ao Malandro – Banda Conselheiro Mairink

Chico Buarque e João Bosco

Pois então… Quem é que não experimentou ainda os inconvenientes do Brasil? O sujeito que fura a fila? O que pega sua vaga no estacionamento? O vizinho que levou seu jornal? A vizinha que coloca o cachorro para fazer cocô no seu jardim? Aquele que ultrapassa pelo acostamento? O que mais, hein?

E você sabe que nada disso é culpa do governo, não é? Ou será que é? O que é que nos joga para essas transgressões? É nossa falta de educação ou é culpa das complicações, do custo Brasil, que nos empurra para o ilícito?

Sobre esse tema, leia este texto do Minas Kuyumjian Neto, que escreve nas Iscas Intelectuais de meu site. Ele, como provavelmente você, era um pobre usuário do Speedy e também apanhou da Telefônica. Talvez você se reconheça nele.

Ao fundo você ouvirá, no podcast, GATO POR LEBRE, com meu amigo Renato Piau. É uma trilha muito apropriada…

Quer ouvir a música no Café Brasil? Clique aqui

Renato Piau

Carta aberta aos Promotores de Justiça Cláudio Alberto G. Guimarães e José Cláudio A.L. Cabral Marques

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jose.luiz.almeida@globo.com ou jose.luiz.almeida@folha.com.br

“[…]Os que fazem apologia do “quanto-pior-melhor”, não podem sobrepujar as ações das pessoas de bem, das pessoas comprometidas com a ordem pública, cujo exemplo maior, nos dias presentes, são as ações desenvolvidas pelos senhores na Operação Manzuá.

Vocês poderiam, sim, deixar como está para ver como é que fica. Porque, afinal, é assim que muitos agem; lavam as mãos, simplesmente. Mas os senhores não se omitiram. E não devem se omitir. É preciso perseverar. É necessário ir adiante[…]”

Juiz José Luiz Oliveira de Almeida

Titular da 7ª Vara Criminal da Comarca de São Luis, Estado do Maranhão

A carta que publico a seguir foi veiculada na edição de ontem, dia 27, no Jornal Pequeno.

A carta sob retina foi concebida em face da minha indignação com a falta de apoio à Operação Manzuá, uma dos mais importantes projetos do Ministério Público da Comarca de São Luis, cujos benefícios se irradiavam por toda a cidade, atingindo todas as camadas sociais.

Em determinado excerto asseverei, verbis:

“[…]Não custa lembrar que quem exerce cargo público não se manda. Quem exerce cargo público não tergiversa. Quem exerce uma função pública não tem inimigos, adversários não tem. Quem exerce o poder público tem metas. E tem que se entregar. Tem que colaborar. Esse é o comando. Esse é o rumo. Essa é a direção. Por isso, não arrefeçam o ímpeto por lhes negarem apoio.

Falem alto para que a sociedade saiba quem está se omitindo, de onde não lhes veio o apoio necessário, quem tem agido em detrimento da Operação Manzuá, quem, podendo fazer, se omite e quem, não se omitindo, faz acontecer para que ela não alcance o seu desiderato.

Em face do alcance social da Operação Manzuá, atrevo-me a dizer que nunca, em tempo algum, o Ministério Público desenvolveu uma ação de tamanha relevância para o conjunto da sociedade, conquanto, aqui e acolá, se ouvissem críticas à ação ministerial, vindas, quase sempre, dos que não têm compromisso com a ordem pública.

Há inconformações? Claro que há. Há os que discordam em face de algum interesse contrariado? Não tenho dúvidas. Há os que querem “melar” a ação do Ministério Público por questões pessoais? Não se pode descrer.

Mas tudo isso, estimados Cabral e Guimarães, deve ser superado, se considerarmos os benefícios que alcançamos, em face dessa magnífica ação, desenvolvida com tenacidade pelos senhores[…]”

Mais adiante anotei, litteris:

“[…]Há os que argumentam que, em determinados momentos, Vossas Excelências têm se excedido. É possível que sim, afinal, uma Operação dessa magnitude não passa ao largo de um deslize. Mas um deslize não pode ter o condão de obscurecer o que de bom os senhores fizeram para toda a sociedade.

Se há deslizes, se abusos há, é só corrigir o rumo, é só buscar o prumo – e seguir adiante. Todavia, sucumbir, em face da inação de quem não tem compromisso com a sociedade, é o que de mais grave pode ocorrer para o conjunto da sociedade.

Sei o que é sossego perturbado. Sei o que é tentar dormir e não poder, depois de um dia exaustivo de trabalho. Sei, como poucos, o que é uma baderna ao lado do quarto. Sei o quanto perturba um som automotivo, por exemplo.

Os que fazem apologia do “quanto-pior-melhor”, não podem sobrepujar as ações das pessoas de bem, das pessoas comprometidas com a ordem pública, cujo exemplo maior, nos dias presentes, são as ações desenvolvidas pelos senhores na Operação Manzuá[…]”


A seguir, a carta, no seu inteiro teor:

Continue lendo “Carta aberta aos Promotores de Justiça Cláudio Alberto G. Guimarães e José Cláudio A.L. Cabral Marques”