Súmula 691

Supremo concede Habeas Corpus contra liminar do STJ

Por Pedro Canário

O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liminar na quinta-feira (27/8) em Habeas Corpus para suspender uma decisão liminar do Superior Tribunal de Justiça. Com isso, superou a Súmula 691 do STF, que veda a concessão de HC contra decisão liminar de tribunal superior.

A discussão girou em torno da prisão — processual — de um homem acusado de roubo a mão armada. Ele é defendido pelos advogados Alberto Zacharias Toron, Marcelo Feller e Daniel Gerstler, do Toron, Torihara Advogados. A prisão preventiva foi determinada pela 2ª Vara Criminal de Osasco (SP), com base no artigo 312 do Código de Processo Penal.

De acordo com a decisão da primeira instância, o dispositivo “autoriza a prisão preventiva para garantia de ordem pública”. “Em se tratando de crime cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a prisão preventiva deve ser mantida, porque, em função do tipo de delito praticado, é razoável supor que o réu, em liberdade, poderá colocar em risco a vida ou a integridade física de outras pessoas, sendo plenamente justificável a mitigação do princípio da presunção de inocência em favor dos direitos fundamentais à vida e à segurança”, disse o juiz.

Os advogados interpretam que o entendimento da Vara de Osasco se baseou no “perigo abstrato do crime de roubo”, mas não apontou nenhum motivo concreto que mostre a ameaça do acusado à sociedade, caso fique em liberdade. Para a defesa, a conclusão do juiz foi: “A acusação é prática de roubo? Tem que prender!”

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“Fracasso é não saber partir”

É claro que muitas das minhas reflexões não são palatáveis.

Sei, portanto, que o  que escrevo não é bem recebido por muitos. Só uns poucos, posso dizer, assinariam os meus textos.

Todavia, isso não me preocupa, pois, como dizia Sócrates, uma vida sem exame, ou seja, sem reflexão, sem indagações, sem que se busque novos ideais, novos caminhos, nova direção, não merece ser vivida.

Bem sei que, sobretudo numa corporação, o ideal mesmo é guardar as nossas inquietações no mais profundo recôndito da alma. O ideal mesmo é não falar, não dizer o que pensa – calar, enfim; deixar as coisas fluírem.

Não sei ser assim, contudo. Por isso, vou continuar dizendo o que penso, com a necessária responsabilidade, para não ferir.

Padre Antonio Vieira dizia que melhor que luzir todo tempo, é luzir somente a tempo, pois que, assim agindo, prossegue o santo padre, se enganam os olhos da inveja,  se concilia nos ânimos a estimação.

Deixar de luzir, ao que interpreto, é sair do proscênio, deixar a ribalta, para ser esquecido, para não ser lembrado, para espantar a inveja do semelhante.

Essa questão, inobstante, passa ao largo das minhas preocupações.

Sei que não sou digno da inveja de ninguém, pois custo muito a acreditar que alguém quisesse ser o que sou: um tipo enfadonho, incapaz de despertar qualquer sentimento que não seja da mais absoluta indiferença.

A minha hora de ser esquecido virá inevitavelmente. Enquanto esse dia não vem, não deixo  a ribalta.

Eu vou, sim, continuar pensando e consignando, em artigos, as minhas inquietações, as minhas reflexões, ainda que, assim o fazendo, corra o risco de ser mal interpretado.

Repito, com Amir Klink: na vida o maior fracasso é não partir.

Gênese da minha arrogância – III

Diferente do que possa parecer, não gosto de ser o centro das atenções. Todavia, curiosamente, por mais que me esforce, termino figurando com protagonista de alguma situação inusitada. Talvez isso ocorra em face da minha incapacidade de ficar inerte diante de alguma situação que exija de mim alguma manifestação.

Recentemente, todos já sabem, fui destratado, injustificadamente, por um colega de Câmara. Apesar disso, quem se tornou o centro da questão fui eu, porque ousei noticiar – um fato público – no meu blog.

Em face do episódio, conversando com uns colegas, depois de uma reunião em que se tratou dessa questão, pelo menos dois deles me disseram que eu era impetuoso e que, seguramente,  admitiram, eu não mudaria mais, como a justificar os meus conflitos com as pessoas que pensam e agem de forma diferente de mim.

Não sei se impetuoso, no caso, é  sinônimo de arrogante, que, para muitos, é o meu maior defeito.

Esse tipo de comentário tem me levado a buscar a gênese dessa fama que tanto mal tem feito a mim, sobretudo nas minhas relações com os meus pares, apesar de conviver com eles civilizadamente e nunca ter sido descortês com nenhum deles, nesses mais de dois anos que estou juiz de segunda instância.

Nessa busca para explicar a origem da má fama,  tenho encontrado nos meus arquivos algumas explicações, que, antes, só entendia como manifestações decorrentes de minha obsessão pela Justiça.

Assim é que, nas informações, em face do HC 6151/2006, já mencionado neste blog, apanhei outro excerto que dá bem a dimensão da minha ousadia, a justificar, assim, a má fama.

O ousado excerto, em que descrevo a situação da primeira instância, restou vazado nos seguintes termos:

“[…] O quadro cá embaixo é sombrio. Não há carros para diligências. A política não dispõe de condições para atender aos nossos pleitos. O IML só trabalha – por faltar-lhe condições – se instado a fazê-lo por nós outros. Incontáveis são os telefonemas disparados, todos os dias, aos mais diversos órgãos do Estado buscando solução para esse estado de letargia. As delegacias não têm controle dos presos. As varas da mesma forma. As investigações criminais ficam ao sabor das circunstâncias. As autoridade policiais não têm a quem dar satisfação  de suas ações e/ou omissões. Os prazos se excedem nas delegacias. As acusações de tortura e peculato se avolumam. As providências não chegam. E tudo vai ficando como dantes. A produtividade dos juízes não melhora. Os órgãos de controle externo não funcionam. Cada juiz faz o que quer. Ninguém lhes cobra produtividade. As audiências não se realizam. Não se respeitam as testemunhas.  Há dias que não tem água nos gabinetes. Há dias que não tem papel. As audiências são adiadas porque a polícia não dispõe de veículos para fazer o transporte dos acusados. E tudo vai ficando assim mesmo. Nada se faz! Ninguém move uma palha!. Marco audiências para todos os dias, pela manhã e pela tarde, mas não as realizo. Os processos não são julgados. Prepondera a sensação de impunidade. E nada se faz! O que se ouve, em face da minha tenacidade, é que não vou mudar o mundo. O que ouço dizer é que sou arrogante e prepotente, como se ser correto afrontasse as pessoas.[…]”

Quem se atreve a denunciar tudo isso, correndo o risco de não ser promovido mesmo por antiguidade- como, afinal, foi tentado, por uma tríade de desafetos -,  só pode mesmo ser arrogante.

Cada vez que faço buscas nos meus arquivos mais me convenço de que a minha fama não é injusta como eu pensava.

Todavia, um dado me conforta: tudo que fiz foi objetivando fazer alguma coisa em benefício do cidadão. Nunca travei qualquer batalha objetivando vantagens de ordem pessoal.

Igualados pela dor. Releitura

A ministra Carmem Lúcia Antunes, ao comentar o artigo 1º da Declaração do Direito Humanos, o festejado dispositivo que decreta a igualdade de todos em dignidade e direito, fez os seguintes comentários:

“Gente é tudo igual. Tudo igual. Mesmo tendo cada um a sua diferença. Gente não muda. Muda o invólucro. O miolo é igual. Gente quer ser feliz, ter medo, esperanças e esperas. Que cada qual viva a seu modo. Lida com as agonias de um jeito único, só seu. Mas o sofrimento é sofrido igual. A alegria sente-se igual”

Essas reflexões me levaram a fazer uma releitura de um artigo da minha autoria, intitulado Igualados pela dor,  que republico a seguir, com alterações em relação ao texto original.

“Dos reveses da vida devemos ter a capacidade de tirar lições.

A vida, dizem, ensina, conquanto existem os que dela não tiram nenhuma lição. O tempo passa, os reveses se multiplicam, mas há os que não aprendem, por isso sofrem mais.

Na dor  e no sofrimento  somos todos iguais – rigorosamente iguais.

Na dor não se diferencia nacionalidade, posição social ou hierarquia.

A dor que dói no chefe é a mesma que pode afligir o subordinado.

A dor não distingue  hierarquia. Ela simplesmente dói. Pode ser a dor da saudade (que é a que mais dói em mim), do fim de um relacionamento, de uma descortesia  ou qualquer outro acontecimento.

A dor que dói aqui é a mesma que dói na Suécia e no Senegal, no empresário e no trabalhador braçal.

Pretos, brancos, pobres, ricos, bonitos, feios, altos, baixos, crianças, adultos, todos, enfim, somos rigorosamente iguais na dor e no sofrimento.

A dor e o sofrimento não servem apenas para doer e fazer sofrer, mas também lecionam, mostram o caminho, podem levar o incrédulo a Deus – ou afastá-lo ainda mais, não se há de negar.

A dor que dói – e o sofrimento que corrói – em face de uma tragédia – perda de um ente querido, por exemplo – não só ensina como nos torna mais humildes. Afinal, a dor e o sofrimento dela decorrentes não distinguem o rei do súdito, o juiz do jurisdicionado, o macho da fêmea, o bonito do feio, o governante do governado etc.

Diante da dor, não há soberba; também não importa a riqueza quando estamos sofrendo em face de algum infortúnio.

Em ocasiões dessa natureza, pouco importa a nossa origem, o título que ostentamos ou cargo que exercemos, já que a minha dor é rigorosamente igual à do vizinho, do amigo ou do inimigo.

Os prazeres da carne, a suntuosidade, a soberba, a inveja, a patranha, tudo isso se revela desprezível, quando se sobrepõem a dor e o sofrimento.

Se é dor, dói – e pronto! E prepondera sobre todas as coisas.

Entretanto, faz pensar, faz refletir, visto que tem o poder de mudar o curso, de nos fazer redirecionar as nossas ações – podendo, até, purificar o pensamento, fazendo com que nos tornemos mais humildes, mais alma e menos matéria.

A dor que lancina, que aflige e que danifica nos apequena a todos e nos fragiliza, além de, algumas vezes,  nos mostrar e conduzir, por caminhos nunca dantes trilhados.

Pena que muitos só reavaliem os seus conceitos diante da dor e do sofrimento.

Mas há os que, recalcitrantes, nem mesmo a dor e o sofrimento lhes servem de lição.

O ideal seria que não dependêssemos de uma tragédia, de um infortúnio qualquer para dar valor ao semelhante, para reavaliar os nossos conceitos.

Dor é dor; sofrimento é sofrimento.

Não existe mais dor ou menos dor; mais sofrimento ou menos sofrimento.

Se é dor, é dor; se é sofrimento, é sofrimento – e maltrata, faz sofrer, faz pensar, refletir, principalmente quando se é racional.

Dor é sofrimento físico e/ou moral.

A dor que dói em mim é a que dói em ti, ainda que de matizes diferentes.

Mas, igual ou diferente, com uma ou outra coloração, o certo é que a dor dói e maltrata – e vulnera, e fragiliza.

Diante da dor podemos, até, (re) agir de forma diversa.

Mas as nossas (re) ações, díspares ou semelhantes, decorrem do mesmo sofrimento – físico ou da alma – da mesma certeza de que diante de uma borrasca, de uma tragédia somos, sim, todos iguais.

A dor nos remete a Deus – para suplicar, para que nos dê força para tolerá-la, ou mesmo para questioná-lo, em face do sofrimento que julgamos não merecer.

Para a dor física ministram-se os analgésicos; para a dor da alma, em princípio, não há remédio, sobretudo para os incrédulos, para aqueles que diante dos olhos só vêem a matéria.

A dor da alma é dor lenta, corrosiva, dilacerante – daquelas que nos levam ao chão e nos fazem questionar por que comigo e não com outra pessoa.

Para a dor da alma o único remédio a ser ministrado, não raro, é deixar o tempo passar.

Com o tempo a dor da alma corrói menos – nos faz levantar, até que outra tragédia nos abata, nos faça sucumbir, para relembrar, outra vez,  que, por mais que não queiramos ver, somos mesmo rigorosamente iguais.

A dor da alma é aquela que deixa um nó na garganta, que faz as lágrimas descerem – muitas vezes sem alterar os músculos de nossa face.

As lágrimas são, afinal, a materialização, em gotas, da dor e do sofrimento que nos afligem.

A dor e o sofrimento são partes da nossa vida.

É necessário, pois, que, diante de qualquer um deles – ou de ambos – tenhamos a capacidade de renascer, ainda que a dor nos tenha mutilado a alma.”

Meu mais veemente protesto

Quando a nossa atual Constituição foi promulgada ainda não estavam saradas as feridas produzidas pelo regime ditatorial de triste memória. Constato, nesse sentido, que há,  até os dias presentes,  corações que  choram e sangram em face dos que sucumbiram pelas suas ideias.

A dor, o sofrimento, tudo, enfim, que passamos para chegar aonde chegamos, não pode ser em vão. Se hoje temos ampla liberdade para expor as nossas opiniões sobre os mais diversos temas, devemos, de certa forma, agradecer a muitos que tombaram lutando por esse direito.

Quero, pois, em tributo aos verdadeiros amantes da democracia, dizer que não aceitarei, sob qualquer pretexto, nenhuma tentativa de limitar as manifestações do meu pensamento neste blog.  Portanto, que fique bem estabelecido, tudo que eu entender relevante publicarei neste espaço, pouco me importando com os que possam eventualmente não gostar das coisas que escrevo.

Devo dizer, ademais, que tudo que ocorrer de relevante nas sessões das quais participo no Tribunal de Justiça, sobretudo os acontecimentos heterodoxos, será objeto de reflexão neste espaço, sobretudo porque as sessões são públicas.

Estou ciente das consequências que poderão advir na hipótese de excesso de linguagem, por isso sei impor limites aos meus escritos.

Tenho a mais absoluta convicção, ademais, que  não os artigos que publico neste blog que denigrem a imagem do Poder Judiciário da nossa terra. O que nos desacredita é , por exemplo, a falta de quórum nas sessões do Pleno, que tem sido uma quase rotina e sobre a qual já me manifestei publicamente, aqui e na própria sessão.

Qualquer tentativa, pois,  de me intimidar, em face dos meus escritos, receberá o meu mais veemente protesto, como o faço agora.

“Quem for homem cospe aqui”

Ainda que tentasse, não consegui resumir esse artigo, quiçá em face de alguns acontecimentos que nos últimos dias têm marcado a minha vida.

Acho, no entanto, que o leitor que tiver paciência, e levar a leitura até o final,  vai compreender a razão pela qual não foi possível ser mais direto, sobretudo porque trato, também, de coisas do coração.

Para os que me conhecem mais de perto e para os leitores deste blog, acho que vale a pena refletir comigo, sobretudo porque cuido da minha conflituosa relação com o Poder a que sirvo com tanta obstinação.

Vamos às reflexões, sem mais demora.

Pois bem. Eu, como toda criança, aprontei das minhas. Escalei o muro dos quintais dos vizinhos para apanhar bolas de futebol ( que, à falta de espaço, jogávamos na rua) , para “furtar” –  mangas e   goiabas –  e para pegar papagaios  ( pipas) dentre outras travessuras.

Sob a marquise do cine Monte Castelo, no início da década de 70,  bebi os primeiros goles de cachaça (da braba mesmo), e toquei os primeiros acordes no meu violão ( que depois abandonei para me dedicar aos estudos, convindo anotar que era um péssimo iniciante), embalado pelas músicas da Jovem Guarda, com destaque para o  nosso eterno rei Roberto Carlos, que até hoje traduz nas suas canções as minhas mais fortes emoções – tanto as de outrora como as que vivo nos dias presentes.

Como qualquer jovem criativo, coloquei e recebi muitos apelidos, joguei botão nas calçadas,  soltei papagaios –  e, fundamentalmente, amei; amei muitas  garotas do meu bairro e da minha escola, pelas quais me apaixonei sem que elas sequer se dessem conta da minha existência. Todavia, ainda assim amei, que é o que, afinal, importa mesmo. Eu amo amar, amo estar amando. A vida tem mais sentido se soltamos as nossas emoções, se somos capazes de amar, ainda que seja um amor impossível.

Eu sou assim mesmo. Eu me apaixonei muitas vezes,  e gosto de viver o clima que a paixão proporciona. Eu amei  muito, e, repito,  gosto de estar amando. Amo o meu trabalho, a minha família e os meus amigos. E no meu peito ainda há um enorme espaço para ser preenchido por novas emoções  e novos amores. Estou convencido  que o dia que não for capaz de abrigar no meu peito um novo amor e novas emoções, a vida perdeu o sentido.

Vivi, portanto, a minha infância como qualquer um, por isso dela tenha muita saudade.

Recordo que eu –  como  todos, afinal – , quando vislumbrava uma desavença entre pessoas do nosso grupo,  para estimular a discórdia, um de nós colocava a mão  aberta entre os dois desafetos, em sentido vertical,  e desafiava:

Quem for homem cospe aqui!

Claro que a intenção era tirar a mão tão logo um deles cuspisse, para que o cuspe atingisse ao desafeto, estimulando, assim, o entrevero.  Os tolos caiam na nossa –  e brigavam. Claro que, quando chegavam em casa, era surra na certa, afinal, vivíamos tempos muito diferentes dos atuais. As travessuras não ficavam impunes. Além da palmatória e das surras com corda, havia ainda o mais dolorido, que era o castigo; que funcionava, sim. Não tinha essa de antecipar o fim do castigo.

Quando somos  crianças essas atitudes são compreensíveis. O triste é constatar que pessoas adultas, por pura maldade, desafiam a gente, colocam brasa na fogueira, de má-fé mesmo, para  ver se a graça pega, para ver se a gente cai na armadilha.

Vou tentar ser claro.

Desde que assumi a segunda instância venho dizendo, neste blog,  aos meus amigos (aqui incluída a minha assessoria, cujos integrantes são, para mim, nos dias presentes, os meu  amigos mais próximos e com os quais divido parte das minhas emções)  e parentes , que não sou feliz no Tribunal de Justiça e que, quando for possível, e viável, vou me aposentar. Tento deixar transparecer, portanto,  que não é minha pretensão me aposentar apenas na compulsória.

Mas é mais que claro que tudo depende das circunstâncias, razão pela qual, apesar de tudo,  compreendo que o melhor mesmo, nos dias presentes,  é continuar dando a minha contribuição ao Poder Judiciário da minha terra.

Pois bem. Pegando essa deixa,  algumas pessoas, depois de eu externar a minha tristeza em face das descortesias que a mim me foram feitas, por colegas,  durante as sessões nos últimos dias, têm se valido das minhas afirmações acerca de aposentadoria, para insinuar que eu não tenho coragem de me aposentar agora.

Esse desafio, inobstante, tem um claríssimo objetivo, qual seja de me desafiar, para ver se a graça pega, ou seja,  para que   eu antecipe a minha aposentadoria, como se eu fosse ingênuo e não compreendesse que há muitos que querem me ver pelas costas.

É mais ou menos como fazíamos quando infantes: me desafiam para “briga”, para ver se a graça pega e eu deixe  o proscênio, o mais breve possível.

Quanto mais cedo se livrarem de mim – reconhecidamente chato e intragável -, melhor para todos, imaginam os espertalhões.

Para desgosto dos apressadinhos, esclareço, definitivamente, que, pelo menos nos próximos seis anos, não penso em me aposentar, mesmo porque, legalmente, não posso fazê-lo, e, demais, porque  ainda não perdi a esperança de que possa contribuir com mudanças de mentalidade hoje imperante no Poder Judiciário, sobretudo no período que antecede as disputas por cargos, razão fundamental de eu ter abdicado de disputar a direção da Corregedoria e do Tribunal de Justiça.

Quero dizer, ademais, que, nas rodas dos verdadeiros amigos e de algumas pessoas que têm ideal, o projeto de me aposentar é inaceitável, por entenderem que ainda tenho muito a dar ao Tribunal de Justiça da minha terra.

Fique claro, portanto, que não adianta me desafiar,  não adiante instigar  que não vou  cuspir na mão do destino,  pois só deixarei a ribalta quando  me sentir incapaz de dar alguma contribuição ao Poder Judiciário do Maranhão, que tenho procurador honrar desde quando assumi a minha primeira comarca do longínquo ano de 1986, tempo em que ainda se faziam sentenças com  máquinas de datilografia e papel carbono.

Sei que o que tenho feito  pelo Poder ainda é pouco. Mas tenho feito, sim. Quando eu denuncio, com venho denunciando, no meu blog, para que todo país saiba ( já que a internet não tem fronteiras)  a falta de quórum nas sessões do TJ, por exemplo, estou contribuindo  com o Poder ao trazer  para o  debate tema nunca dantes, ao que saiba, discutido com essa dimensão.

Quando denuncio um colega mal-educado me agredindo, em plena sessão de julgamento, estou, sim, contribuindo com o Poder Judiciário, pois  levo  ao conhecimento  público aquilo que muitos gostariam de varrer para debaixo do tapete, por entender que ao invés de grosseiros, fanfarrões e boquirrotos, deveríamos ser exemplo de conduta  para toda sociedade.

Quando trago à colação, em meus votos e nas minhas intervenções nas sessões,  temas que antes não vi ( podem ter sido ventilados ; eu apenas não os testemunhei)  serem  debatidos com  frequência – como o direito penal da terceira velocidade ou do inimigo, as teorias do etiquetamento (labbeling aprouach)  e das janelas quebradas (broken windows), o  neoconstitucionalismo, o ativismos judicial, a força normativa dos princípios, os juízos de ponderação, os sistemas jurídicos do mundo moderno (civil low e common law) , o direito penal no estado liberal clássico, as teorias contratualistas, o stare decisis do sistema americano, a questão da vigência e da validade das normas jurídicas, a interpretação constitucional, o papel do juiz criminal num sistema garantista, a dignidade da pessoa humana num estado democrático de direito, o funcionalismo penal,  o  positivismo e o pós-positivismo,  evidência e verdade, conhecimento e aparências,  enunciado e norma jurídica, a ascensão do Poder Judiciário no nosso país e nas nações democráticas, direito penal e dignidade da pessoa humana, o direito penal no Estado Democrático de Direito,  temas filosóficos diversos ( eu já trouxe, pelo menos superficialmente,  para o centro do debate algumas reflexões de Locke, Hobbes, Platão, Aristóteles, Heráclito, Protágoras, Montesquieu, Antonio Vieira, Oscar Wilde, Fernando Pessoa, Luis Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Roberto da Mata, Roberto Lyra, Evandro Lins e Silva, Heleno Fragoso e outros), além de incontáveis alegorias para ilustrar os meus argumentos – creio estar dando a minha, ainda que pequena, contribuição para elevar o nível dos debates.

Nesse cenário,  compreendendo que venho contribuindo com o Poder Judiciário do meu Estado para sair do lugar comum – como o fazem, é forçoso reconhecer,  outros tantos valorosos colegas do mesmo Sodalício, aos quais rendo aqui as minhas justas homenagens –   seria loucura me aposentar agora, como almejam os que só  têm compromisso com o ” deixa tudo como estar, para ver como é que fica”.

Que fique claro, portanto, que da minha aposentadoria cuido eu, quando compreender que chegou a hora. E ainda não chegou a hora, convém  reafirmar.

Em qualquer confraria, que não o Poder Judiciário, os incomodados, os fanfarrões, os obcecados pela  mesmice, os incivilizados,  os empavonados, os que lutam para manutenção do status quo, os embevecidos em face do  poder, os arrogantes e prepotentes,  os  que têm obsessão por si mesmo, os que olham  o mundo como um espelho que reflete apenas a sua própria imagem,  os mal-educados, os que argumentam usando a língua  como  chibata, os que  deixam escorrer veneno pelos cantos da boca quando pronunciam as suas maledicências,  os que se engasgam com o fel que a saliva produz, os  que não têm nenhuma força argumentativa, esses    terão que suportar os que lutam por mudanças, ainda que seja apenas de comportamento, já que a nível cultural essas mudanças não se fazem a médio prazo.

Por enquanto, o pouco que posso fazer eu vou continuar  fazendo, como, repito, também fazem valorosos colegas, que têm merecido de mim o maior toda consideração e respeito.

Não adianta insinuações, nem tentativa de me levar a uma atitude precipitada.

Não adiante, pois,  me desafiar para cuspir na mão de um desafeto, pois eu não vou cair nessa armadilha.

Eu saberei exatamente a hora de deixar o tablado. Nesse sentido, se tiver que me aconselhar, seguramente não será com nenhum colega de confraria.

O contador de lorotas

Acho que não é a primeira vez que reflito, neste espaço,  acerca das mentiras dos homens públicos. Se for mais uma reflexão acerca do tema, pouco importa. O que importa mesmo é a reflexão, mesmo porque as faço, agora,  em face de um fato verídico, a merecer de mim o mais veemente repúdio.

Pois bem. Tenho dito, já o disse, incontáveis vezes, que do homem público se espera retidão. Mais que retidão, do homem público se espera, outrossim,  que não minta, que não seja um contador de lorotas.

Podem crer, aquele que, exercendo um cargo público – máxime se relevante – , se põe a mentir, a contar lorotas, a tentar denegrir a imagem das pessoas,  está a merecer de mim – e de todos nós, afinal –   total repúdio, convindo anotar, de  mais a mais, que a própria instituição a que pertence  sofrerá as consequências de suas mentiras.

Infelizmente, em todas as instituições há loroteiros, que se servem do próprio poder para dizer cretinices, objetivando denegrir a imagem daqueles que nele inspiram um  sentimento mesquinho chamado inveja.

Um desses loroteiros muito conhecido nesta comunidade, cujo nome não vou declinar para não apequenar essas reflexões ,   cuidou de espalhar,  de terça-feira para cá, em rodas de “amigos”,  por pura maldade, para achincalhar mesmo, que eu apliquei a pena mínima a  “Bia”  Aroso, prefeita de Paço do Limiar,  porque tive medo de aplicar a máxima, aplicada pelos meus pares, cumulada com cassação do mandato.

O loroteiro  não  foi capaz de declinar o que me apavorou tanto, o que me incutiu tanto medo,  mesmo porque, para ele,  o que interessa mesmo  é vilipendiar a imagem, a honra  das pessoas de bem, agindo como se fora (?) um psicopata, afinal, ele   não tem compromisso com a verdade; a vida dele já é uma deslavada mentira. Ele é a própria mentira. Ele é a mentira materializada. A mentira faz parte da sua vida, construída que foi  sob o império da desfaçatez.

Ele sabe que sou independente!

Ele sabe que não sou covarde!

Ele sabe que nada me atemoriza!

Ele sabe que tenho credibilidade!

Todavia, ainda assim, por pura maldade, espalha inverdades, numa tentativa mesquinha de retirar-me a credibilidade.

Eu não vou usar este espaço para dizer por que não segui meus pares na fixação das penas  privativa de liberdade,  no seu grau máximo, e da cassação a Bia Aroso, porque todos sabem a minha opinião, como juiz garantista que sou , acerca da exacerbação da resposta penal.

Não vou, de mais a mais, emitir qualquer juízo de valor acerca da posição dos meus pares em face  da mesma questão, porque, além de ético, não sou deselegante.

Quanto aos comentários – restritos a uma meia dúzia de desqualificados –  que se faz  acerca da minha posição no julgamento em comento,  importa consignar que  não abalam a minha credibilidade, mais do que  sedimentada  na comunidade em que vivo, fruto de muitos e muitos anos de retidão no trato da coisa pública.

Da mesma sociedade que recebe  informações deturpadas e levianas  acerca da minha conduta no caso “Bia” Aroso, eu, diferente do que pensa o maledicente, só tenho recebido manifestação de apreço, respeito e consideração.

Gênese da minha arrogância II

Este é o segundo artigo – de uma série que ainda virá –  com reflexões acerca da minha proverbial arrogância.

A partir deles o leitor concluirá se sou arrogante, idealista ou apenas responsável.

Como juiz de primeiro grau, todos sabem, recebi o epíteto de arrogante, a inviabilizar a minha promoção por merecimento para o Tribunal de Justiça, que terminou por ocorrer por antiguidade, cumprindo anotar que mesmo por antiguidade ainda surgiu um movimento encabeçado por irresponsáveis, tentando impedir a minha promoção.

Sempre entendi que  a etiqueta era injusta.

Agora, revendo algumas das minhas manifestações, enquanto juiz de primeiro grau,  começo a compreender que a minha  fama de arrogante talvez se explicasse em face da forma com que eu expunha as minhas insatisfações, obcecado pelo desejo de fazer Justiça.

Abaixo, mais um excerto que apanhei nas informações que prestei ao TJ/MA,  em face do HC 6151 .

Leia e  tire aos suas conclusões.

“[…]

Tudo tenho feito para responder aos anseios dos nossos jurisdicionados; quase nada tenho conseguido, nada obstante.

Primeiro, veio a greve dos Defensores Públicos. Em seguida, veio a famigerada Central de Mandados. Após, veio a sua extinção. Veio, em seguida, a substituição dos antigos funcionários pelos concursados. Tudo feito sem o mais mínimo planejamento. Resultado: os feitos restaram paralisados, audiências foram adiadas, réus foram colocados em liberdade, sem que se ouça uma única voz se insurgir contra esse estado de coisas.

Fico eu, cá embaixo, lutando para dar resposta aos cidadãos, como contra-prestação pela remuneração que recebo, sem quase nada poder fazer.

Pobre Maranhão!

Pobres jurisdicionados!

Pobres vítimas do nosso descaso.

[…]