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“[…]O povo, finalmente, tomado de revolta, saiu às ruas e bradou, com razão, a sua revolta com a classe dirigente. Agora, como se fora um milagre, buscam-se a adoção de medidas que possam, em tese, beneficiar a população. Sim, em tese, pois as aves de rapina decerto que já estão de olho nos bilhões de reais que serão acrescidos ao orçamento público, decorrentes das medidas que têm sido implementadas em atenção aos pleitos da rua, a nos alertar para a possibilidade dessa dinheirama vir a ser desviada[…]”
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Os nossos representantes, depois de anos de inércia e indiferença, começam a ouvir, felizmente, a voz das ruas. Foi preciso que o povo, revoltado, saísse às ruas, para que fosse ouvido e para que medidas políticas em seu benefício fossem implementadas, como num passo de mágica.
Confesso, e os que acompanham as minhas matérias sabem que não falseio a verdade, que sempre me incomodou a falta de indignação, a letargia do povo diante de tanto desmando, de tanta subtração de verbas públicas, de tanta corrupção, de tanto descaso, de tanto enriquecimento ilícito.
O povo, finalmente, tomado de revolta, saiu às ruas e bradou, com razão, a sua revolta com a classe dirigente. Agora, como se fora um milagre, buscam-se a adoção de medidas que possam, em tese, beneficiar a população. Sim, em tese, pois as aves de rapina decerto que já estão de olho nos bilhões de reais que serão acrescidos ao orçamento público, decorrentes das medidas que têm sido implementadas em atenção aos pleitos da rua, a nos alertar para a possibilidade dessa dinheirama vir a ser desviada.
A verdade é que quase nada funciona bem neste país; de boa mesmo, para usar uma expressar popular insuportável, está meia dúzia de oportunistas, que sempre estiveram no poder para dele tirar vantagens de ordem pessoal, convindo consignar, com Mangabeira Unger, numa síntese perfeita, que “A política continua na sombra corruptora do dinheiro”.
Para exemplificar o descaso e o abandono a que estamos relegados, sito um episódio testemunhado por mim.
Pois bem. Anteontem, estando no aeroporto de Brasília, para embarcar para São Luis, fiquei indignado, por diversas vezes, com o tratamento dispensado ao cidadão. Assim é que flagrei os usuários, como eu, em situações vexatórias, mas todos ordeira e pacientemente calados e conformados. Constatei, por exemplo, que havia cerca de trinta senhoras e crianças na fila do banheiro que fique próximo aos portões 1, 2 e 3. Um desrespeito a toda evidência. A situação, conquanto constrangedora, não teve o condão de estimular nenhuma reação. Todos, ou melhor, todas estavam calmas, aceitando passivamente, como se não tivesse jeito, a situação.
Depois desse flagrante, saí, com um colega, para tomar um café; bem próximo dos banheiros e dos mesmos portões de embargue. Deparei-me com o quase inacreditável: mais uma fila quilométrica para comprar ficha no caixa. Cronometrei: passamos 20 minutos na fila para comprar o cafezinho.
Finalmente, com o café às mãos, procuramos e não achamos um lugar pra sentar. Quando, finalmente, flagrei uma mesa desocupada, estava suja e não havia quem a limpasse. Cuidei, pessoalmente, de fazer uma pequena assepsia, enquanto aguardava o colega que estava comigo.
Antes de tudo isso, convém consignar, para despachar a minha mala, enfrentei outra fila quilométrica; tentei conferir quantos havia na minha frente, mas, de tãoo longa a fila, me perdi na conta e resolvi abrir o ipad e ler os jornais do dia – mesmo em pé, na fila. Foi a fórmula que encontrei para não me estressar. Mas testemunhei muitos revoltados – e com razão.
Ia esquecendo de dizer: quando cheguei, na quinta-feira, passeis 55 minutos esperando minha mala na esteira, sem que a Gol explicasse os motivos da demora. Não resolve, mas dá alento: como eu, mais de 60 passageiros da Gol também esperavam a bagagem. Eu perdi a carona de um colega; outros perderam os compromissos assumidos.
Antes só nos restava a indignação silenciosa; agora, já sabemos protestar.
Se formos capazes de externar a nossa indignação, diante desses e de outros acontecimentos, mudaremos o Brasil. Podem ter certeza disso, afinal, ninguém pode com a força do povo.
Vivemo um crise sem precedentes de representatividade; os representantes, eleitos com uma finalidade, cuidam apenas dos seus interesses, com as costas viradas para quem os elegeu. Isso tá mudando!
Isso é Brasil!