Abaixo excertos da crônica que publicarei no próximo domingo, no Jornal Pequeno.
“[…]Todos os anos é a mesma coisa: as pessoas humildes, sem ter onde morar, por pura falta de vontade política, sobem os morros, constroem seus casebres, enfrentando toda sorte de dificuldade, para, depois, com as primeiras chuvas, ver seu sonho, sua vida e sua história levados numa enxurrada. É que, nesses casos, as enxurradas não se limitam a levar a casa, a moradia, o abrigo (fisicamente considerados). Elas levam, também, toda uma história de vida, o resultado de muito labor, o suor derramado, as noites insones, os calos nas mãos, os sonhos sonhados, os projetos de vida, as perspectivas e as expectativas de uma vida melhor e mais digna no porvir.
Com as águas das chuvas de verão são levadas, na mesma balada, as fotografias que testemunharam os raros momentos de felicidade pelos quais passaram os que hoje choram a dor da perda, a roupa branca usada no casamento, a camisa listrada, a calça jeans e o sapato guardados com desvelo para as ocasiões especiais, o sofá que reunia a família em torno da televisão, a carteira de trabalho com o registro do primeiro emprego, as cartas recebidas dos parentes distantes, as lembranças dos tempos de namoro, os brinquedos adquiridos com dificuldades para os filhos, os presentes, a bandeira do time de coração, o troféu conquistado nos campos de várzea, as (poucas) economias sob o colchão da cama, a própria cama, o próprio colchão, que tantas vezes testemunharam momentos de entrega, os planos feitos e a frustração de não poder realizá-los[…]”.
Atenção: a redação ainda pode ser alterada.