Não surpreende a condescendência, a complacência e a paciência do povo brasileiro com os criminosos encarapitados no poder – ou que já passaram pelo poder, de maneira nefasta.
A roubalheira vai acontecendo, as notícias vão sendo veiculadas dando conta da ação criminosa de agentes públicos, testemunhamos, assombrados, o aumento do patrimônio de alguns espertalhões, e nada acontece de relevante para pôr um basta na situação. O pior é que nós até aquiescemos com esse quadro, como se fosse a coisa mais banal do mundo. Algumas vezes nós até fazemos sala para surrupiadores do dinheiro público, como se eles fossem dignos da nossa companhia.
De rigor, não funcionam as instâncias formais de persecução e não funciona nenhuma forma de controle social, mesmo a eleitoral que seria, em tese, a mais fácil de ser implementada, vez que há eleições no Brasil de dois em dois anos.
O tempo passa e as ações deletérias dos homens públicos brasileiros se repetem, anos após anos – insistentemente, impunemente, descaradamente, frequentemente – , como se fosse natural.
Os bandidos aboletados no poder fazem a festa – deles e de uns poucos acólitos – com o dinheiro público, certos, convictos que nada lhes acontecerá. Sabem, ademais, que o tempo é curto, e que, se não tirarem o seu quinhão num mandato, os que lhes sucederão certamente o farão – sem pena e sem dó. Pensam, assim, que é preciso agir, antes que o tempo passe, pois ninguém tem assegurado uma reeleição. Se os que virão depois o farão – pensam eles –, otário é quem passa pelo poder e não enriquece.
Eles são desumanos! E descarados! Não têm coração e nem alma!
Nessa faina, nessa sofreguidão pela subtração do que nos pertence, nada escapa: nem o dinheiro da merenda escolar, que tem servido, todos sabem, para enriquecer uma corja de bandidos travestidos de gente de bem, verdadeiros sanguessugas, parasitas sem alma e sem coração.
E ninguém diz nada!
E ninguém faz nada!
E fica tudo como dantes!
E o Ministério Público, onde anda?
E o Poder Judiciário, o que faz?
O mais grave é que o adversário (de ocasião) quando denuncia as falcatruas, sobretudo no período eleitoral, o faz tão somente objetivando a conquista do poder, para, uma vez nele encarapitado, fazer exatamente as mesmas coisas que disse condenar.
E as instâncias formais de persecução parecem entorpecidas, num estado de letargia que beira a irresponsabilidade.
Aqui e acolá, apenas para ludibriar, ocorre uma ou outra punição. Mas é uma gota derramada no oceano, num mar de impunidade.
A verdade é que ninguém acredita em punição. Os agentes públicos, sobretudo os que têm acesso ao dinheiro público, vão dilapidando o patrimônio do Estado, sem pudor e sem vergonha, porque têm certeza da impunidade.
O mais preocupante é que, no período eleitoral, que seria, em tese, o momento propício para afastar do poder um grupo de canalhas, como acima anotei, o eleitor nada faz. Ao reverso, muitos são os eleitores que até aproveitam o período para pegar o seu bocado.
A verdade é que o controle social, está em crise no Brasil. Aliás, sempre esteve em crise! Desde sempre, todos sabemos!
A verdade é que vivemos uma crise moral sem precedentes.
Há pesquisas que dão conta de que o brasileiro está pouco se importando com o controle das ações dos homens públicos.
O que temos assistidos, sem surpresa, mas contristados, é que muitos são os flagrados em operações ilegais, e muitos, no mesmo passo, são os que escapam dos rigores da lei.
Para ser mais objetivo: a quase totalidade dos que se apropriam do dinheiro público passam à ilharga dos órgãos de persecução criminal.
O que acontece, comumente, é que os que têm os mandatos cassados, por exemplo, em face de alguma falcatrua, além de não receberem nenhuma punição das instâncias formais, voltam, depois, como campeões de votos em seus Estados, nos braços do povo, como se tivessem sido vítimas de alguma injustiça. Os exemplos são vários; não preciso enumerar.
É chegada a hora de nós, eleitores, nos conscientizarmos de que não se deve devolver o mandato a quem não soube honrá-lo.
Nós temos que ter presente que não se pode sufragar o nome de quem enriqueceu no poder, fazendo uso do poder, traindo a nossa confiança.
Cada vez que elegemos ou reelegemos um bandido, nós estamos dando a ele uma procuração para em nosso nome subtrair, para si e para os seus , o dinheiro do imposto que pagamos.
Até quando?