Minhas crenças

Eu acredito muito nas coisas que faço. E tudo que faço é de forma intensa. Por isso, algumas vezes, sou mal compreendido por algum colega.

Mas que fique claro: quando voto, quando reflito sobre determinado tema, o faço apenas porque estou convicto de acreditar naquilo que estou fazendo.

Eu olho para o mundo sempre por meio de uma janela, já que não é possível olhar o mundo por um espelho, onde só se pode ver o reflexo da propria imagem.

Vê-se, portanto, que não sou narcisista.

Podem não acreditar, mas não sou do tipo que acha beleza em tudo o que faz. Eu, algumas vezes, até me arrependo do que fiz.

Que fique claro, todavia: eu não sou do tipo maledicente, daqueles que tentam jogar um colega contra o outro, que deturpa os fatos para atingir aquele que imagina ser o seu adversário.

Eu não tenho desafetos.

Os meus adversários eu os vejo todos dentro de mim mesmo; e eles são  as minhas imperfeições, as minhas inquietações, a minha obstinada pretensão de ser correto num mundo onde retidão virou sinônimo de babaquice.

Portanto, aquele que, por pura maldade, procura ver em mim um deslumbrado, deve, de rigor, estar olhando a sua imagem refletida num espelho.

Eu não tenho do que me deslumbrar, pois, todos sabem, o poder não me fascina.

Se há entre nós os que são capazes de tudo pelo poder, que fique claro que esse alguém não sou eu.

Eu não incorporei em a mim a arrogância que tentaram fixar na minha cara, como um rótulo tendente a me desqualificar para o exercício do cargo que hoje ocupo.

Vou repetir o que já disse à exaustão: eu continuo o mesmo homem, eu frequento os mesmos lugares, não incorporei às minhas relações nenhum novo amigo, não me deixei, enfim, fascinar pelo poder, que, para mim, é algo puramente passageiro.

Eu quero, sim, depois de cumprir a minha missão, voltar para casa com a convicção de nunca ter usado o poder para perseguir, para fazer maldade, para espezinhar, maltratar as pessoas.

Essas colocações são fruto, apenas, das minhas já conhecidas inquietações.

Essas colocações são apenas e tão somente a reafirmação das minhas crenças, das minhas convicções.

Não sou melhor nem pior que qualquer um dos meus pares, pois o que me diferencia de muitos deles é apenas a impetuosidade  de dizer o que sente e pensa.

O que as pessoas precisam compreender, definitivamente,  é que quando decidimos, nós não decidimos contra ou a favor de um colega; nós apenas decidimos. E pronto!

Não é possível que um magistrado não seja capaz de entender que não somos partes e que, por isso, não devemos nos deixar levar pela emoção que decorra de uma contenda.

Eu nunca decidi e nem decidirei jamais para agradar um colega. Mas também nunca o fiz com o objetivo de desagradar quem quer que seja.

Só farei, enquanto judicar, aquilo que a minha consicência manda.

Portanto, fazer biquinho, fechar a cara ou fingir que não me viu, em face de um voto que eu tenha  proferido, para  mim não me faz a menor diferença.

O que quero mesmo é, depois do expediente, voltar para casa e encontrar me esperando, de braços e corações abertos, aqueles que me amam verdadeiramente.

O mais…bem, o mais…

Deixa pra lá!

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “Minhas crenças”

  1. No momento dos questionamentos da sociedade sobre os rumos das decisões do judiciário em nosso País, é um deleite à mim, como operador do direito, deparar-me com um artigo que reproduz os meus anseios sobres a postura que os julgadores devem tomar na atividade judicante. De fato, a consciência deve ser a senda das decisões judiciais, pois o juiz deverá ter a humildade de não se ver como titular absoluto da verdade ou do conhecimento, mas tranquilo na decisão tomada, não por se estéar nos interesses particulares, mas pela análise percuciente do direito na solução do conflito de interesses posto a sua apreciação, tendo apenas a consciência e ensinamentos de Cristo como guias. Parabéns por externar o espírito consentâneo que eu gostaria que fosse incorporado por todos os seus pares, tanto em nosso Estado, quanto nos Países que compõe o nosso planeta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.