Ninguém tem dúvidas de que vivemos dias mais que estranhos; estranheza que se revela por inteiro quando encaramos com naturalidade o massacre de inocentes nos mais diversos conflitos pelo mundo.
Dúvidas não há, ademais, que, nos dias presentes, as pessoas parecem ter deixado de se importar com as outras, como se fôssemos objetos de descarte.
Nesse sentido, pelo que vejo e sinto, fruto das observações diárias que faço, cada um parece cuidar apenas de si.
A verdade é que, hodiernamente, a sensação que todos temos é que deixamos de ver o próximo como um irmão, e isso me constrange, porque fica em mim a sensação de que vivemos para cuidar apenas das nossas vidas, pouco importando a vida do semelhante.
A propósito, vou trazer à colação uma história real para ilustrar e para que sobre ela reflitamos, porque ela dá bem a dimensão do quanto é relevante a gente pensar no próximo, cuidar do próximo, se importar com o próximo, na medida em que um simples gesto de solidariedade e de cuidado pode mudar a história de vida de alguém.
Pois bem. Montgomery Cliff, ator americano de ‘Um Lugar ao Sol’ (1951), ‘A Um Passo da Eternidade’ (1953) e ‘Deuses Vencidos’ (1958), dentre outros, destacado pela sua estonteante beleza física, sofreu um grave acidente de carro e teve seu rosto deformado, após sair bêbado de uma festa na casa de Elizabeth Taylor, uma de suas melhores amigas.
Em face desse evento, ficou dois anos escondido num quarto de hospital sem querer ver ninguém, em virtude das graves deformações que sofrera no rosto, um dos mais belos do cinema.
Tem-se notícia de que, mesmo depois de ter sido submetido a uma cirurgia plástica, não se sentia bem consigo mesmo, tendo proibido a visita de qualquer pessoa, optando por se isolar, vivendo a angústia pelas consequências do grave acidente.
Apesar da sua determinação em não receber ninguém, um garoto insistia em vê-lo; insistência tenaz que só terminou quando, finalmente, foi recebido pelo ídolo, cumprindo anotar que, depois dela, tudo mudou na vida de Montgomery Cliff, que, acreditem, até voltou a atuar.
O menino que insistia em visitar o ator era ninguém mais, ninguém menos, que Marlon Brando (Omaha, 03/04/1924 – Los Angeles, 1 de julho de 2004); o grande, o eterno e incomparável Marlon Brando, que, tempos depois, seria festejado e reconhecido como o maior ator de todos os tempos, tendo protagonizado filmes marcantes como ‘O Poderoso Chefão’ e ‘O Último Tango em Paris’.
O que se depreende dessa história é que a vida dos outros importa, e que uma simples visita, um abraço aconchegante, um carinho sincero, um gesto revelador de apreço e de solidariedade, em determinados momentos/circunstâncias da vida, podem, sim, com muita probabilidade, mudar a vida de qualquer pessoa.
Não é isso, entrementes, o que se vê nos dias presentes.
Tendemos, sim, ao isolamento.
Tendemos, sim, ao individualismo; cada um cuidando de sua vida, cada um cuidando de si.
Tenho certeza, nada obstante, que o mundo poderia ser outro se nos importássemos mais com o semelhante, daí que não consigo entender por que algumas lideranças, por exemplo, parecem não se importar com as vidas de inocentes que são ceifadas na Faixa de Gaza e na Ucrânia, para ficar apenas nos dois exemplos mais presentes nos noticiários.
É isso.