Não sei se, passados mais de 13 meses da minha posse, os meus colegas ainda pensam que sou incendiário, arrogante e prepotente, como se propalou, nos anos que antecederam a minha promoção.
Anoto, a propósito, que não fiz nenhum esforço, no afã de ser simpático, de mudar a minha imagem.
Eu sou, sim, rigorosamente, a mesma pessoa. Em nada mudei, portanto.
Recordo, a propósito, que, no meu discurso de posse, tive a oportunidade de refletir, acerca da minha própria pessoa, como se pode ver nos fragmentos que publico a seguir, somente a guisa de lembrança:
“[…]Não se há de negar que sou uma pessoa controvertida, afinal, todos concordamos, numa corporação, dizer o que pensa, assumir posições e discordar, é inaceitável, é quase um pecado; a alguns, exatamente os que se incomodarão com a minha fala, o que interessa mesmo é o disfarce, o engodo, a posição dúbia, o caminho sinuoso – esses caminhos eu me recuso trilhar.
Não são muitos os que, estando no poder, concordam com as minhas posições.
São muitas, no mesmo passo, as pessoas, que me julgam em face do estereótipo de arrogante que me grudaram na testa, por pura maldade.
Nessa linha de pensar, permitam-me, antes de prosseguir abordando os temas que elegi para ocasião, discorrer, pretensiosamente, sobre a minha própria pessoa, na tentativa, decerto debalde, de mudar a imagem de encrenqueiro e incendiário que criaram de mim, por vendeta, por maldade, pelo prazer do achincalhe, do menoscabo.
Permitam-me pintar, com cores reais, desde o meu campo de visão, o meu autorretrato, necessário, em face de tudo que se tem pensado e falado acerca da minha ação, alguns por ignorância; outros, por maldade, pura e simplesmente.
Sei, tenho a mais renhida convicção, que, pela minha maneira de ser, pela minha forma de me relacionar com as pessoas, por ser um quase ermitão, por ser um quase antissocial, por ser um quase recluso, por pensar e escrever o que penso, não sou um ser muito palatável.
De rigor, admito, não sou mesmo simpático.
Todavia, os que me conhecem, não circunstancialmente, tenho certeza, não têm de mim a impressão que deixo na primeira hora, no primeiro encontro.
Sou, diferente do que pensam, uma pessoa ponderada e equilibrada, que, infelizmente, só os que convivem comigo sabem.
Não sou o porra-louca, o inconsequente, o desnaturado que pensam.
Nem oito, nem oitocentos.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Foi assim, a partir dessas e de outras premissas do mesmo matiz, que, nos últimos anos – e bota anos nisso! – reconstruí a minha vida, reavaliei meu relacionamento com o semelhante, edifiquei os meus sonhos, tracei as minhas metas, mudei os meus rumos, sedimentei a minha relação com as pessoas que estão muito próximas de mim, especialmente com meus filhos, minha mulher e a equipe de servidores que comigo trabalhou na 7ª Vara Criminal. Afinal, são eles que estão mais próximos de mim e que, por isso, são obrigados a conviver com as idiossincrasias de um ser humano que é um misto esquisito de pai, esposo e magistrado; não raro, por força das obrigações profissionais, mais magistrado que pai e consorte.
Não vou além, nem fico aquém nas minhas atitudes.
Contudo, sou, sim, intenso, com a veemência saindo pelo ladrão, sôfrego, voraz, sedento – às vezes, insolente.
Apesar de intenso, não sou extremado, inconsequente, arrogante e prepotente, como se apregoa, na vã tentativa de me desqualificar enquanto profissional obstinado e denodado.
Ainda que duvidem, sei dos meus limites. Sei segurar as minhas rédeas.
Ninguém tem mais controle sobre mim do que eu mesmo.
Mantenho a minha impetuosidade sobre controle. Isso eu sei fazer. E muito bem.
O mais que se diga, que se pense e que se julgue, é maldade – pura, digamos, vilania, deslealdade, perfídia.
Tenho procurado, sempre, um ponto de equilíbrio.
Como um pêndulo, às vezes oscilo, hesito, vou lá, venho cá.
Sou assim mesmo: igualzinho a todo mundo, igualzinho a todos vocês, sem tirar nem por.
Mas nunca perco a noção do tempo e do espaço.
Sei controlar as minhas emoções – paro, penso, reflito, conto até cem, para, só depois, agir – determinado, obstinado, sôfrego, ávido – igualzinho a muitos dos senhores.
Sou, muitas vezes, desabrido, imoderado, insolente.
Nada, no entanto, que ultrapasse os limites do razoável.
Mas, afinal, todos somos assim.
Eu não sou diferente de ninguém.
Sei, inobstante, ponderar e decidir com sensatez.
Sou, às vezes, inclemente.
Mas, afinal, intolerante, muitas vezes, todos o somos, dependendo das circunstâncias.
Nós nos revelamos de acordo com as circunstâncias, convém sublinhar.
Sei até onde posso ir, importa reafirmar.
A minha vereda está aberta, e foi aberta por mim, a partir das minhas convicções, dos meus ideais, da minha tenacidade, sem atropelar ninguém, sem maldade, sem rancor e sem ódio.
Nada temo na defesa dos meus pontos de vista.
Sigo em frente, vou adiante, ao ritmo da balada que escolhi para dar vazão aos meus sentimentos e as minhas mais empedernidas convicções.
A minha mente, a minha condição de ser racional me mantém sob controle, como, afinal, controla a todos nós – uns mais, outros menos.
Nas minhas relações pessoais, sei sopesar, ouvir os dois lados, decidir com sensatez e equilíbrio, respeitar as diferenças.
Sei, sim, da importância de respeitar as diferenças.
Faz bem às relações respeitar o espaço do semelhante.
E isso eu sei fazer.
Malgrado todas as minhas limitações, todas as minhas fraquezas, ainda sou capaz de não ir além, de discernir e direcionar os meus passos, de escolher a via mais segura – ou a que suponho ser a mais segura.
Mas que ninguém se iluda: persevero, finco pé, não arredo das minhas convicções, não me afasto dos meus ideais – que, afinal, todos sabem quais são, a partir do que leem no meu blog e em face das minhas crônicas publicadas na imprensa local.
Mas essa perseverança não significa afrontar, agredir, espezinhar, desmerecer – radicalismo não é.
Os meus ideais não podem ser confundidos com arrogância, não são posturas de um esnobe, de alguém que pretenda ser superior, afinal, sou apenas gente, um ser humano tão-somente, em cujas veias, afirmo, aí, sim, com certa arrogância, corre o sangue de quem tem dignidade e age de boa fé.
Busquei, com sofreguidão, durante muito tempo – tanto que nem sei precisar -, o equilíbrio necessário para enfrentar a borrasca, as intempéries, as incompreensões, as injustiças, os projetos de vingança, as maledicências…
Todavia, ao que parece, ninguém quer ver – ou finge que não vê, por pura deslealdade; insídia, sim, de quem só vê o que é do seu interesse.
Há alguns anos, há muitos anos, bem antes de vislumbrar o primeiro fio de cabelo branco na minha barba, alcancei o nível de maturidade que tanto almejei; maturidade, apresso-me em dizer, que não significa acomodação ou pachorra, pois as minhas convicções, os meus ideais, os meus projetos de vida, convém reafirmar, com veemência, são os mesmos – rigorosamente os mesmos. Isso não se muda com o tempo.
Com o tempo aprende-se, apenas, a agir, em nome desses ideais e em face dessas convicções, com mais parcimônia, com menos impetuosidade e afoiteza, com tolerância, enfim.
Apesar de tudo, apesar da minha postura, apesar da minha tolerância, até mesmo em relação as pessoas que só me fizeram mal, ainda se teima em apregoar, de forma irresponsável, que tenho, guardado, no ignoto de minha alma, um projeto de vingança.
O tempo dirá se sou incendiário ou bombeiro, arrogante….ou apenas, digamos, um sonhador[…]”