Os palhaços somos nós

As revistas semanais que estão nas bancas trazem, sem surpreender,  mais notícias reveladoras do comportamento pouco digno de alguns homens públicos do nosso país.

É sempre assim: no início das nossas atividades, após o merecido repouso remunerado,  somos surpreendidos   (?)com novas denúncias de falta de ética e pudor de alguns dos homens públicos mais proeminentes do nosso país.

Interessante gizar que os homens públicos em questão, sobretudo os que exercem cargos de representação, só posam de vestais até que os holofotes  mirem em sua direção; quando saem do ostracismo, com efeito, logo, logo a imprensa passar a noticiar  os mal-feitos de sua autoria.

Nesse cenário, fica-se com a sensação de que não tem mais jeito, que tem que ser assim mesmo.

A verdade é que, ao que constato, à luz da minha experiência, é que a moral é autônoma, ou seja, cada um tem a sua.

Nesse sentido, importa ponderar que, para mim, o exercício da função pública não é para auferir proveitos de ordem pessoal. Mas há, todavia, os que creem que a função pública é o caminho mais mais fácil para amealhar riqueza. E amealham mesmo, estimulados pela leniência dos órgãos de persecução crimimal, os quais, como regra, só alcançam mesmo os desvalidos.

O que mais me agasta é saber , em face da constatação  de que a moral é autônoma, é que são muitos os que criticam , que jogam pedras, acusam e condenam,   mas que, na primeira oportunidade, podendo, adotam o mesmo procedimento que fingem condenar.

É desalentadora a constatação de que a ambição material parece não ter limite.

Mais lamentável, ainda, é olhar para o futuro e não vislumbrar a possibilidade de mudanças.

Tenho dito que não sou um vestal, não sou paladino da moralidade e que, como tantos,  tenho muitos pecados, cometo os meus erros, sofro as tentações do mundo. Todavia, ninguém pode imputar a mim o uso do poder para dele tirar vantagens de ordem pessoal, conquanto admita que, aqui e acolá, como qualquer ser humano, sofra tentações; nada, no entanto, que não possa ser suportado, pois, melhor que auferir vantagens, é ter força moral para defenestrar as provocações, próprias de quem exerce uma função pública relevante.

Leio os jornais, revistas e blogs, para, estarrecido, constatar que figuras proeminentes da política nacional, até então pousando de paladinos da moralidade, se labuzaram com a verba pública, deixaram-se levar pelas tentações do poder, pelas facilidades que decorrem do seu exercício.

Olho em volta desses mesmos homens públicos e vejo outros tantos, flagrados,  no passado  recente, usando dos mesmos expedientes, os quais, agora, pousam de vestais,  como se não tivessem um passado envolto em negociatas.

As consequências de tantos desvios de conduta – e de dinheiro, no mesmo passo – podem ser aferidas, por exemplo, nos hospitais e escolas públicas, para ficar apenas em dois exemplos mais estupefacientes.

Enquanto o pobre morre clamando por saúde, os malfeitores  seguem esbanjando saúde – física e financeira – .  fazendo  orgiais , despudoradas, com o dinheiro público.

Aos simples mortais só resta mesmo lamentar, afinal, no  picadeiro  que transformaram o Estado brasileiro,  os palhaços somos nós.

 

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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