Etiquetamento

Não gosto de rótulos ou  etiquetamentos.   Faço questão de bradar bem alto acerca dessa questão. Todos do meu convívio  sabem  por que odeiam os rótulos.

Não gosto quando ousam sintetizar a minha história e a minha maneira de ser com uma palavra. Eu não sou uma palavra. Eu sou mais do que isso. Não se resume um homem e a sua história numa etiqueta.

Não gosto de rótulos, ademais,   porque é desumano. Não gosto  porque, de regra, os rótulos, no sentido que aqui emprego,  são  gestados por pura maldade, como fizeram comigo quando decidiram, à minha revelia, que eu era um tipo  arrogante  e que, por isso, não deveria merecer a consideração dos meus pares. Até h0je carrego nas costas as consequências desse rótulo.

A verdade é que todos deveriam se insurgir contra os rótulos, sobretudo  o rótulo maldoso ( e ele é, quase sempre, fruto de uma maldade ),  que serve apenas para menoscabar o semelhante.

A verdade, no entanto, é que as pessoas insistem em rotular as outras pessoas. O etiquetamento parece que exerce um fascínio sobre as pessoas; pessoas maldosas, quero registrar.

Confesso que se há algo que me agasta são os rótulos, daqueles que grudam na testa da gente, como se fosse uma logomarca de refrigerante ou cerveja.

Promove-se o etiquetamento,  tenho a nítida sensação,   para o achincalhe, para o menoscabo e o menosprezo,   por pura maldade, pelo prazer do escárnio.

Um exemplo, para ilustrar.  Tenho uma irmã, profissional respeitada, que, no entanto, por ter chegado um dia atrasada a um compromisso de lazer com os demais irmãos, ficou rotulada, para sempre, como impontual. Assim é que, todas as vezes que marcamos um compromisso, há sempre quem lembre que ela, para variar, deverá se atrasar, o que, a rigor, é uma inverdade. Se, para confirmar o rótulo, ela, por algum motivo,  se atrasa, sempre haverá quem diga que dela não se podia esperar outras coisa.

Mas essa etiqueta que grudaram na teste dela, repito,   é uma remata injustiça.  Ela, ao reverso, é muito pontual e cumpridora de suas obrigações. Todavia, agora, restará rotulada para sempre. O bom é que ela leva tudo na gozação, porque sabe que, de rigor, ela não pode ser comparada aos impontuais.

A questão dos rótulos é mais grave nas corporações. Aqui no Tribunal de Justiça do Maranhão, todos têm rótulos – para o bem ou para o mal.  Todavia, com eles não me acostumo, porque nem sempre, reafirmo, retratam a realidade; e ,muitos decorrem de pura maldade, só pelo prazer de achincalhar.

Quem pode me responder, por exemplo, quais são os desembargadores progressistas e os conservadores do Tribunal de Justiça do Maranhão?

Ninguém sabe dizer. Mas, ainda assim, rotulam. Eu, por exemplo, já tive a má fama de antigarantista no juízo de base, e, agora, em segunda instância, abraçando as mesmas causas, vituperando contra as mesmas coisas, sou conhecido como excessivamente garantista. Esse é mais um rótulo que fixaram na minha  testa. E agora, se não sigo o caminho que acham que eu devo seguir, em face do rótulo, dirão, pura e simplesmente, que não se pode confiar nas minhas decisões, e que de garantista eu não tenho nada. Por aí se pode convir a maldade que pode decorrer de um rótulo.

Mas afinal, sou conservador ou progressista?

Confesso que eu mesmo não sei dizer, porque tudo depende de quem promoveu a etiqueta.

O que sei dizer é que sou um magistrado do meu tempo. Eu vivo as coisas do meu tempo. Eu defendo as teses do meu tempo. Eu defendo as coisas nas quais acredito e que são compatíveis com o momento que vivo.  O resto, os rótulos,  as etiquetas são maldade e nada mais.

A verdade é que cada um vai construindo a sua história: uns com mais e outros, com menos convicção.

De qualquer sorte, é a nossa história que deve ser preservada. É pela minha história que luto, razão pela qual abomino os rótulos que colidem com o que tenho edificado ao longo da minha vida pessoal e profissional.

E os rótulos? Bem, os rótulos, reafirmo,  servem,    apenas,   de pretexto para menosprezar as nossas crenças, as nossas convicções, as  nossas posições mais corajosas,  numa vã e abominável  tentativa de desvalorizá-las.

A única coisa que todos devem ter presente, acerca das minhas convicções, é que não surpreendo; as minhas convicções estão mais do que sedimentadas. Mas não me ufano de não  mudar a direção. Já o fiz algumas vezes. E o farei tantas vezes perceba que caminhando noutra direção posso, com mais probabilidade, fazer Justiça.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em “Etiquetamento”

  1. A questão não é o rótulo, a questão não é ser conservador ou progressista, garantista ou ante,o ministro Luiz Fux ao assumir a cadeira no STF em seu discurso afirmou, salvo engano,que sua passagem por aquela corte se marcaria por decisões eminetementes tecnicas, seria o caso de rotular como tecnicista.Relendo o seu discurso de posse,poderemos, ao meu sentir, ter uma idéia de suas posições, e isto não é rotulo, são linhas de pensamento, que se pode coligir ou divergir, conforme o caso, é o meu ponto de vista, sem querer ser o dono da verdade.

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