Eu não tenho nenhuma dúvida: as campanhas eleitorais são a reafirmação de que todos somos otários. Se não somos, eles, os candidatos – com as exceções de praxe – acham que somos. Eu também acho! Acho não! Tenho certeza!
Eu sou otário, tu és otário, somos otários. Ou bobos, ou tolos, ou tontos – não importa. Sinto-me otário. Todos deveriam se sentir otários.
Alguém tem dúvidas de onde sai o dinheiro que é torrado, esbanjado, jogado fora, sem nenhuma parcimônia, sem nenhum escrúpulo, durante as campanhas eleitorais?
Alguém tem dúvidas que aquele carro de som que incomoda, especialmente nas manhãs de domingo, fazendo propaganda eleitoral, roda com combustível que será pago, depois, com o dinheiro dos nossos impostos?
Você tem dúvidas que o santinho que lhe entregam pelas ruas da cidade, com o rosto dos candidatos repaginados, via computação, é pago com o fruto do meu, do nosso suor?
Alguém tem dúvidas que não há quem financie campanhas eleitorais sem que o faça na certeza de que, depois, será muito bem recompensado, generosamente recompensado, com o dinheiro público, por meio de obras superfaturadas, mediante licitações fraudulentas e outras vias menos convencionais?
Será que há quem acredite que os que financiam as campanhas eleitorais o fazem apenas porque, ideologicamente, se identificam com as propostas dos candidatos?
Se todo o dinheiro que é torrado nas campanhas eleitorais será coberto com os impostos que pagamos, quase sempre em face de uma fraude, se nada é feito para mudar esse quadro, e se nos acomodamos diante dessa situação, posso ou não concluir que somos, além de otários, coniventes?