O meu ofício é amar

Ninguém deve  ser penalizado por amar ( ainda que se trate de um amor  proibido) e  por viver intensas emoções ( ainda que não as possa revelar)

A vida sem amor e sem emoção não  merece ser vivida – pelo menos para mim

Amar, de todos as formas, me apraz: o  amor da minha família, dos meus amigos e de quem mais se habilite.

A emoção, mesmo aquela que somos compelidos a conter, mesmo aquela que, aparentemente, dilacera a alma,  para mim –  diferente de você, talvez – , renova as minhas energias, dá-me força e me leva por caminhos que sequer imaginei  trilhar.

Eu sou do tipo que precisa de emoção e amor para viver, ainda que numa ou noutra situação me sinta desprotegido.

Gosto do desafio que algumas emoções proporcionam.

Gosto da paz que só o amor – sobretudo o correspondido –  é capaz de propiciar.

Nos dias presentes,   mesmo já tendo vivido incontáveis emoções,  ainda sou capaz  de, em face de certas experiências,  deixar, sem receio, que as emoções floresçam, sem me preocupar  em  arredá-las, por escrúpulos ou por fraqueza.

Não sou do tipo que tenha medo de sentimentos e sensações fortes.

É por isso que, tenho dito, amar é, também, o meu ofício.

Amo quase tudo que está em volta de mim –  por isso sou  feliz.

Engana-se quem pensa que eu, por ser  um   misantropo assumido, não viva a vida intensamente – amando e me  emocionando.

Eu, como você, também tenho as minhas paixões, os meus desejos…

Só que eu, paradoxalmente,  não sou capaz de qualquer ação para realizar um desejo.

Vou até onde for possível.

Quando tenho que retroceder, o faço, sem acanhamento.

As manifestações de carinho (ainda quando acanhadas),  o abraço despretensioso (mas fraternal) ,  o sorriso compartido  e tantas outras  demonstrações de carinho, afeto e solidariedade, sempre provocam em mim fortes emoções, ainda que, contido,  não as demonstre.

A verdade é que  eu, também contraditoriamente,  nem sempre sou capaz de demonstrar  o que sinto, por razões que  eu e poucos sabemos.

Todavia, o mais importante é que eu sinto – e como sinto!

Muitas e muitas vezes, em silêncio, sinto bater forte no meu peito a emoção que às vezes me  domina, sem que nem mesmo quem esteja  fisicamente próximo de mim se dê conta.

Hoje mesmo, agora mesmo, no instante que escrevo estas reflexões, assistindo ao Jornal Nacional, senti a forte  emoção de ver pessoas sofrendo e chorando a dor da perda,   em face assassinato de  seis jovens,  na baixada fluminense.

É impossível, diante de quadro tão atroz, não se emocionar -e  deixar chorar.

Eu me emocionei e chorei, para, em seguida, cuidar de transformar a emoção sentida  e  a lágrima vertida nessas reflexões.

São palavras despretensiosas e sem harmonia, como se pode constatar.

O mais importante, entrementes, é deixar o coração falar, deixar a emoção fluir.

O coração, quando quer falar, não se preocupa com a forma.

O importante mesmo é o conteúdo, é ser capaz de dizer o que sente.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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