O fascínio do poder

Sentir-se privado da fama e/ou do poder pode ser algo muito difícil de ser administrado  por determinadas pessoas. O poder perdido –  ainda que seja um só naco de poder –  pode destruir a vida de determinadas  pessoas, sobretudo as que sublimam a bajulação,  a badalação, as colunas sociais, os tapinhas nas costas, os elogios gratuitos, as influências que só o exercício do poder proporciona etc.

Quando Wilson Simonal  concluiu, finalmente, que sua vida de artista  famoso, rico e badalado, não tinha mais retorno, disse, desesperado, a um amigo: “Eu não existo. Sou um fantasma”. Wanderley Cardoso, “O bom rapaz” da Jovem Guarda, quando se viu sem os holofotes proporcionados pela fama, caiu em depressão e entregou-se ao vício do álcool.

Esses dois exemplos, apanhados ao acaso, são uma demonstração eloquente de como determinadas pessoas não estão preparadas para o ostracismo,  para viver sem a fama – e sem o poder dela decorrente –  que um dia alcançaram.

Essas pessoas, ao tempo da fama, não se preparam para o ocaso. Viveram intensamente o poder e a fama, esquecidos que, como tudo na vida, eles também passam.

Sabem-se de pessoas, com muito menos poder e quase nenhuma fama, que ao perderem aquele ( o poder) , se desesperam,  se deprimem, perderam, até, a vontade de viver.

Essas pessoas, a meu sentir, são as que exercem o poder sem idealismo, mas em face do que ele tem fascinante. Essas têm que sofrer mesmo, pois o poder, para elas, era um fim em si mesmo. Elas se lambuzam com – e no –  o poder. Vivem das benemerências do poder, sem se darem conta que tudo na vida tem começo, meio e fim. São os tolos no poder, dos quais lhes falei em outra crônica publicada, aqui neste mesmo matutino.

Eu não tenho nenhum problema em me afastar do poder. Não tenho apego ao poder. Incrível, não é mesmo? Mas é a mais cristalina verdade.

Aliás, três anos depois de ser promovido, ainda não entendi o fascínio das pessoas  por determinados. A minha vida permanece rigorosamente a mesma; a mesma de quando oficiava em primeira instância.

Com a minha família não é diferente. A minha, a nossa  rotina é a mesma. Continuo dormindo no mesmo horário, fazendo as refeições na hora marcada, frequentando os mesmo ambientes, trocando prosa com os mesmos amigos e parentes.

Não vivo de badalações, não frequento as colunas sociais, não vivo de ostentação,  e só tenho orgulho da minha família,  da história que construí na magistratura e das poucas amizades que amealhei e que procuro preservar.

Nada mais que isso! Nada além disso!

Portanto, para mim, deixar o poder, não será nenhum dilema. Tenho direito adquirido a aposentadoria, e tão logo compreenda que minha missão está cumprida, volto para casa, para viver, rigorosamente, a mesma vida, com os mesmos amigos e freqüentando os mesmos lugares.

Decerto que, ao deixar o proscênio, poucos serão os que se darão conta da minha saída de cena. E poucos são os que sabem que eu existo. E é bom que seja assim.

Teve época, sim, que me fascinava ser reconhecido pelo meu trabalho. Hoje, com a idade mais avançada, a fama não, como o poder, para mim são indiferentes, cumprindo anotar que o poder só o exerço para cumprir a minha missão. Não o faço por vaidade, que, como também já refleti aqui mesmo, é o câncer da alma.

Todos sabem que abomino as solenidades, que os ambientes festivos que frequento são aqueles que decorrem das minhas relações de amizade e familiar.

A verdade é que não sei viver em ambientes badalados. Não empresto a minha imagem para fins que não estejam umbilicalmente ligados à minha condição de magistrado. Portanto, sair da ribalta, para mim, será menos doloroso, seguramente, do que foi a minha promoção para o Tribunal.

É bom saber que, diferente de uma promoção, sair da ribalta só depende mim e de mais ninguém.

Apresso-me em dizer, a guisa de alerta, que  a minha missão, em segunda instância, mal começou e que, portanto, não se deve contar  com a minha aposentadoria nos próximos anos, pois tenho a convicção que ainda tenho muito a realizar, sobretudo agora, engajado como estou na instalação dos Centros de Conciliação, que, para mim, serão parte da solução para o acesso e morosidade do Poder Judiciário.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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