Engolindo elefante

A ninguém foi dado o dom de prever o futuro. Muitas coisas que acontecem no dia-a-dia de nossa vida às vezes nos surpreendem. O futuro é incerto, definitivamente. Os mais crédulos costumam dizer que o futuro a Deus pertence. Não sei ao certo. Só sei que, sem que se saiba do porvir, o melhor mesmo é não complicar a vida, viver a vida intensamente – mas responsavelmente. Cada segundo, cada minuto, cada hora de nossa curta passagem na terra têm que ser vividos com intensidade – sem complicação.

Hoje somos felizes. Agora, nesse momento, temos boa saúde. Todavia, não sabemos o que nos reserva o futuro. É por isso é que procuro não complicar a vida. Já me engasguei, muitas vezes, com uma formiga; hoje um elefante desce de goela abaixo sem nenhum problema.

A incerteza do porvir, a certeza de que tudo passa, que tudo flui com muita rapidez, que amanhã posso não ser mais feliz, foi o que me impulsionou a repensar os meus conceitos. Hoje procuro não fazer mais o que me causa aborrecimento. Só faço o que me contraria se, não o fazendo, causar aborrecimento grave ao meu semelhante. Na maioria das vezes tenho o privilégio de fazer o que gosto e por isso sou feliz. Quando tive a certeza, por exemplo, que pedir votos para ser promovido me causava asco, abdiquei da minha promoção por merecimento. Quando tive a convicção que não valia à pena lutar por um sonho que dependia de outras pessoas para realizá-lo, abri mão dos meus sonhos e passei a viver a realidade com os pés no chão. É que, descobri, posso ser feliz apenas com o que construí, sem depender de ninguém.

A vida é pra ser vivida – se possível, intensamente. Afinal, já dizia o poeta popular, felicidade não existe, o que existem são momentos felizes. Felizmente os meus momentos felizes são infinitamente superiores aos meus momentos de, digamos, aborrecimentos. E assim o é porque de há muito deixei de complicar a vida. Há muito mudei os meus conceitos sobre meus relacionamentos com as pessoas. Eu só não mudo a minha firma convicção de que vale à pena ser correto. Ainda que se pague um preço alto pela falta de “jogo de cintura”, como dizem os mais “espertos”, vale à pena ser correto, ter a cintura inflexível, no sentido emprestado pelos oportunistas. Pelo menos é isso que penso. E, depois de mais de meio século de vida, custo a crer que ainda possa mudar.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

2 comentários em “Engolindo elefante”

  1. Parabéns Excelência !!!
    Quisera existir no mundo pessoas com pensamentos nobres tais como:

    “Quando tive a certeza, por exemplo, que pedir votos para ser promovido me causava asco, abdiquei da minha promoção por merecimento. Quando tive a convicção que não valia à pena lutar por um sonho que dependia de outras pessoas para realizá-lo, abri mão dos meus sonhos e passei a viver a realidade com os pés no chão. É que, descobri, posso ser feliz apenas com o que construí, sem depender de ninguém.”

    O mundo precisa realmente de pessoas simples e transparentes, de pessoas que trabalham para realizar seus projetos de vida e não para impressionar os outros.
    Ao meu ver o senhor é um herói,
    Sua fã.

    Edna Carvalho

  2. Corrigindo identidade (edna@digizap.com.br)

    Parabéns Excelência !!!
    Quisera existir no mundo pessoas com pensamentos nobres tais como:

    “Quando tive a certeza, por exemplo, que pedir votos para ser promovido me causava asco, abdiquei da minha promoção por merecimento. Quando tive a convicção que não valia à pena lutar por um sonho que dependia de outras pessoas para realizá-lo, abri mão dos meus sonhos e passei a viver a realidade com os pés no chão. É que, descobri, posso ser feliz apenas com o que construí, sem depender de ninguém.”

    O mundo precisa realmente de pessoas simples e transparentes, de pessoas que trabalham para realizar seus projetos de vida e não para impressionar os outros.
    Ao meu ver o senhor é um herói,
    Sua fã.

    Edna

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