Eu estava retornando de Brasília, não lembro o número do voo, mas me recordo que estava sentado na poltrona C, na primeira fila, no chamado assento +, da TAM.
Na fila 02, lado oposto, assento D, havia uma senhora loira, com uma criança morena, de cerca de 02 anos.
Essa criança, certamente muito saudável, deslumbrada com o ambiente, corria e gritava muito. Era só alegria.
Comecei a curtir a alegria da criança embevecido, afinal ver uma criança feliz é um alento, tanto que parei de ler para curti-la.
A comissária de bordo, contagiada com a alegria da criança, começou a brincar com ela, o que açulou ainda mais a sua desenvoltura.
A mãe, preocupada com os gritos da criança, tentou, incontáveis vezes, controlá-la, em vão.
Da poltrona que se seguia à minha, fila dois, poltrona B, uma pessoa do sexo masculino, incomodada com os gritos da criança, dirigiu-se à mãe dela e lhe disse na lata, indelicadamente:
-Se ela dessa idade não lhe obedece, espere pra ver quando ela crescer.
A mãe da criança, estupefata com aquela manifestação, olhou para o mesmo, com ar de indignação, visivelmente constrangida, limitando-se a dizer-lhe:
-Moço, ela é apenas uma criança de dois anos.
Incomodada, pediu à comissária que lhe trocasse de lugar.
Distante, lá atrás, a criança, como que sentindo o constrangimento pelo qual passara a sua mãe, calou-se o resto do voo.
A indagação que faço, a propósito desse acontecimento, é se temos o direito de dizer tudo o que pensamos ou se as regras de educação nos impõem limites.