EM BUSCA DE FELICIDADE

Há notícias de um poema encontrado na parede de um dos quartos onde ficavam as crianças judias no campo nazista de Auschwitz, o qual estaria vazado nos seguintes termos: “Amanhã eu fico triste…Hoje não. Hoje eu fico alegre! E todos os dias, por mais amargos que sejam, eu digo: Amanhã eu fico triste, hoje não!”

Uma das lições que se pode extrair do poema é que, algumas vezes, a felicidade depende da determinação de cada um de nós de ser feliz, ou seja, de optar por ser infeliz outro dia.

Nessa perspectiva, é de rigor a constatação de que, mesmo diante das adversidades que a vida impõe, a melhor decisão é tentar ser feliz, e a felicidade pode estar nas coisas mais simples, como no cheiro de uma flor ou na companhia da pessoa que amamos verdadeiramente.

A felicidade, por óbvio, não depende apenas da nossa vontade; não é tão simples assim. Mas, admito, querer ser feliz é um ingrediente que ajuda muito na consecução desse afã.

Decerto que não basta querer ser feliz para que a felicidade bata à porta; fosse assim todos seríamos felizes.

Todavia, não querer ser feliz, ou se infelicitar com bobagem, reconheçamos, torna a felicidade mais difícil de ser alcançada.

Por experiência própria, acredito que aquele que, por exemplo, busca a felicidade nas coisas simples que a vida oferece, tende a ser mais feliz que o demasiadamente exigente.

Noutro giro, importa admitir que a felicidade, como tudo na vida, não é permanente; e é preciso que todos tenhamos essa consciência, sob pena de tornar uma quimera a pretensão de ser feliz.

A verdade é que, quanto à felicidade, temos-na hoje e podemos, com muita probabilidade, perdê-la logo ali adiante, no primeiro vacilo.

Assim é a vida; essa é uma realidade iniludível.

A verdade é que a vida nos proporciona apenas o desfrute da felicidade instantânea, momentânea, passageira. Mas mesmo a passageira exige de nós o desejo de tê-la, de alcançá-la.

A propósito, Amós Oz, escritor israelense, dizia que o ser humano faz três questionamentos, em razão dos quais pode ou não ser feliz: i) onde vai passar a vida; ii) o que vai fazer para viver; e ii) o que vai acontecer depois de morrer.

Como, provavelmente, nenhum de nós terá resposta definitiva para essas três questões, é de rigor a conclusão, como acima destacado, de que a felicidade, malgrado toda as dificuldades impostas pela realidade, é algo mesmo a ser perseguida, pois o pior que podemos fazer é desistir de buscá-la, a considerar que ela pode estar logo ali, à nossa frente, sem que percebamos, simplesmente porque optamos por não ser felizes.

De tudo que expus acima, o pior mesmo que pode acontecer é desistir de ser feliz, deixar de buscar a felicidade, pois, mais inquietante do que a felicidade momentânea, mais grave que não ser feliz, é a opção de não ser feliz, é não querer ser feliz, daí que, cá do meu canto, na linha de compreensão do poema antes mencionado, hoje eu vou ser feliz, pois amanhã posso não sê-lo.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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