CARISMA E FASCINIO

Não se há de negar que há pessoas que, naturalmente, exercem fascínio sobre as outras, sem que compreendamos por que isso acontece. Há outras tantas que, sem nenhuma capacidade de atração, passam pela vida da gente sem que fixemos em nossa mente qualquer dado relevante da sua personalidade. Essas, algumas vezes exercendo cargos públicos de alta visibilidade, simplesmente são do tipo que “nem fede e nem cheira”.

Quem viveu os tempos idos que vivi testemunhou, por exemplo, o fascínio que Roberto Carlos exerceu – e exerce – nas multidões. Jovens de todas as classes sociais, com efeito – muitas das quais lhe seguem até os dias atuais com o mesmo entusiamo -, se descontrolavam com a simples aparição dele na televisão nas tardes de domingo, sendo sua apresentação a que causava maior frisson, a ponto de obscurecer a participação de tantos outros ídolos, para os quais restavam apenas as migalhas das atenções voltadas para o ídolo, coroado “Rei” de uma geração inteira, embalada e sensibilizada pelas suas canções, nas quais fala de amor como ninguém foi capaz de fazê-lo.

Muitos são os que se aventuram ao protagonismo nas mais diversas áreas, mas somente uns poucos exercem fascínio e carisma sobre as pessoas do seu entorno, muitas vezes de modo tão arrebatador que podem se tornar um perigo em face das pregações que fazem, da liderança que exercem, cujos exemplos mais cintilantes desse fascínio nefando, e que me vem agora à lembrança, foram Hitler e Mussolini.

Na vida pessoal, como acima antecipado, também é assim. Nos ambientes familiares há sempre uma pessoa que, pelo seu carisma e pelo seu fascínio, se torna o alvo das atenções, para a qual dispensamos especial atenção à fala, as suas ponderações e posições.

Para citar um exemplo mais distante, para não mencionar, por prudência, qualquer homem público dos dias presentes, ficou registrado na história o fascínio exercido por Osvaldo Aranha, sedução atestada em quase todos os relatos dos que com ele conviveram.

Osvaldo Aranha era quase uma unanimidade quanto ao seu carisma e encanto pessoais, reconhecidos, inclusive, pelos seus desafetos e por observadores mais severos de sua personalidade. Carlos Lacerda, a propósito, disse, certa feita: “Conversar com esse homem que fazia do charme um ponto de honra era um privilégio e um encanto”. Jânio Quadros, de seu lado, dizia: “Quem não quiser admirá-lo que evite conhecê-lo”. João Goulart: “Um verdadeiro colecionador de amigos e admiradores”.E por aí vão as manifestações em face do encanto, do poder de atração e do carisma de Osvaldo Aranha.

Diante dessa constatação, que poderia ser ilustrada com vários outros exemplos de pessoas igualmente fascinantes, a pergunta que importa para essas reflexões é por que umas pessoas são tão fascinantes e encantadoras e outras, tão boas quanto, tão bonitas quanto, tão elegantes quanto, não exerce a mesma sensação de deslumbramento?

Ninguém tem resposta para essa indagação, pois o carisma é inato. Quem é carismático nasce carismático.

Importa, a propósito, persistir indagando.

O que devem fazer os que, como eu, nascem sem nenhum poder de sedução?

De minha parte tento, pelo menos, quase sempre embalde, ser minimamente simpático, ainda que tenha consciência de que os que, como eu, nasceram casmurro, não seja uma tarefa fácil.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.