Os que têm conduta pouco recomendável nas instituições não merecem a nossa solidariedade

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jose.luiz.almeida@globo.com ou jose.luiz.almeida@folha.com.br

 

Brevíssimas reflexões.


Vejo, agora, segundo noticiado na imprensa, que os assaltantes atiram nas vítimas, mesmo que elas não reajam. É o fim da picada. Antes, eu imaginava que bastava não reagir, para sair incólume. E agora, o que digo para os meus filhos, se cansei de orientá-los para que apenas entregassem os anéis, para preservarem os dedos? E nós outros, que temos o poder de punir esses calhordas, estamos fazendo a nossa parte? Será que a quase certeza da impunidade não os encoraja? Será que a concessão indiscriminada de liberdade provisória não estimula esse tipo de comportamento? A omissão dos descomprometidos não seria fator estimulante? Quantos marginais estão em liberdade, assaltando e matando, os quais, de rigor, em face dos seus antecedentes penais, deveriam estar presos? Por que muitos só se sensibilizam quando são vitimados pela violência? O que sente uma pessoa que, assaltada ontem, depara-se, dois dias depois, com o assaltante nas ruas, lépido e fagueiro, cometendo novos crimes?

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Sempre que se notícia, em qualquer um dos principais blogs da cidade, alguma decisão do Poder Judiciário, o povo participa espinafrando os membros do Poder, como se todos fôssemos bandidos. Sinto, às vezes, que alguns leitores parecem ter ódio de magistrado. Até onde vai a nossa culpa por essa situação? Seria decorrência de nossa conhecida arrogância? Da vaidade que contamina a alma de muitos de nós? Do fato de muitos se imaginarem semideuses e agirem como se fossem uns capetas? Da beca preta que parece afrontar os simples mortais? Da nossa intolerância? Do mau uso do poder? Do uso do poder em benefício pessoal? Da utilização do poder como um folguedo, uma patuscada?

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É sempre assim: todas as vezes que algum membro, de qualquer corporação, julga-se atingido por outro membro de outra confraria, todos se unem em sua defesa, pouco importando os fatos. É uma pena. O espírito de corpo, definitivamente, não faz bem às instituições. É uma praga! É uma erva daninha! Eu, de meu lado, digo logo, com ênfase: não contem comigo para me solidarizar com quem não respeita a instituição a que pertence. Muitos de nós somos vítimas do descrédito de nossas instituições, em face da atitude malsã de alguns poucos. Para esses, não me peçam solidariedade. De mim só receberão mesmo a indiferença.


    Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

    José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

    4 comentários em “Os que têm conduta pouco recomendável nas instituições não merecem a nossa solidariedade”

    1. Solidariedade. Que palavra bonita. Que palavra tão esquecida em nossa sociedade. Solidarizam-se, hoje, apenas os crápulas impregnados nas esferas de poder para desta forma, em toda sua podridão, locupletarem-se do dinheiro público e gastarem em suas megalomanias. Solidarizam-se por saberem que a junção dos rabos presos tornam-os praticamente intocáveis.

    2. Solidarizam-se em seu habitat, misturando-se com a lama que os envolve, no sinismo de suas faces, menosprezando a todos, e agora vociferando em alto e bom som: “Não me importo com a opinião pública”. O exemplo vem daí. O exemplo vem dos nossos pares, que são tão bandidos ou até piores que aqueles que estão na rua, pois estes, de alguma forma, também são vítimas. O Poder Judiciário tem papel importante no sentimento de impunidade que assola nossa sociedade, visto que compete a ele a mais importante função estatal: oferecer a justiça.
      Precisamos de um choque de solidariedade. Precisamos de um choque de respeito ao outro. Precisamos de alma.
      Desculpe-me pelo desabafo.
      Grande Abraço
      Rogério
      Porém, Doutor José Luis, acredito, sinceramente, que um dia nosso povo vai à luta. Vai atrás daquilo que nos pertence e que nos é negado a cada gargalhada debochada que ecoa em nosso cotidiano.

    3. Estimado Rogério,

      Concordo com tudo que você falou.
      Um abraço de
      José Luiz Oliveira de Almeida
      Juiz da 7ª Vara Criminal

    4. Estimado Rogério,

      É impressionante mesmo como bandido é solidário com bandido. Os homens de bem estão, quase sempre, desacompanhados.
      Um abraço fraternal de

      José Luiz Oliveira de Almeida
      Juiz da 7ª Vara Criminal

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