Inquietação

Estou em casa, quase sem poder trabalhar. É que no último dia 06 sofri um acidente que me tirou da rotina. Fui atropelado por uma Kombi. Digo melhor: atropelei uma Kombi. É que o motorista do veículo não teve culpa. É o caso de culpa exclusiva da vítima. Desatento, absorto em pensamentos, atravessei a rua, ou melhor, tentei atravessar uma rua, sem a devida atenção. Quando dei por mim estava no chão, ensanguentado, ouvindo os gritos de desespero da minha mulher, que, felizmente, estava comigo.

Bem, mas não importa agora o fato. O que me importa, agora, são as consequências do fato decorrentes.

Fui nocauteado. Fui abatido e jogado na lona.

E agora estou em casa, sem poder produzir.

A vida é mesmo assim, tenho dito.

As coisas não são como a gente quer.

Os acontecimentos dos últimos dias tiraram de mim o que me é mais caro: a quietude.

Sinto-me como se tivessem me roubado a paz.

Programei-me para o feriado. Trouxe 12 processos para trabalhar. Não pude fazê-lo, no entanto. O mundo não vai se acabar por isso. Mas fica um gosto amargo na boca.

Estar impossibilitado de fazer o que quero, ficar dependente do tempo para sarar as feridas, literalmente, me tira a quietude.

Fazer o quê?

Aproveito o ensejo para agradecer as manifestações de carinho. Foram poucas, é verdade. Mas foram sinceras, tenho certeza.

Eu não sou homem de muito amigos, daí que as manifestações tinham que ser nessa medida.

Vou ver se volto na segunda-feira.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

9 comentários em “Inquietação”

  1. Sr. Jose Luiz, não o conheço, entretanto sou assíduo leitor deste espaço, do qual identifico e extraio bons conselhos, portanto rogo que melhore o quanto antes e que sua saúde esteja 100% restabelecida.
    Sobre o infortúnio, deixo uma história que talvez já a conheça, de qualquer forma vale a pena lê-la. Abraços.

    Em uma vila bem distante vivia um velho muito pobre. Ele possuia um cavalo branco que era belíssimo e de muito valor. Todos tinham muita inveja dele. Os reis e os nobres tinham ambição pelo cavalo e o desejavam. Faziam propostas ao velho que incluíam valores bem altos. O velho argumentava que o cavalo era como uma pessoa para ele e não um simples cavalo. Assim, ele não poderia vender o animal. Como poderia vender um amigo! Embora fosse pobre e muito necessitado, sempre rejeitava aquelas propostas.

    Certo dia o cavalo sumiu. Os vizinhos vieram e comentaram: “Velho tolo! Você não vendeu o cavalo embora precisasse muito do dinheiro. Agora o cavalo foi roubado. Isso foi uma coisa muito ruim. Um verdadeiro azar e uma maldição”.

    O velho disse: “Calma! Apenas o cavalo não está aqui. Essa é a única realidade. Qualquer observação a mais é puro julgamento. Isso é apenas um fragmento de uma história. Não sabemos o que vem depois. Se é ruim ou bom, se é azar ou sorte, não podemos dizer nada à respeito. Não julguem.”

    Os vizinhos responderam indignados: “Nós não somos bobos! Não venha com filosofias desnecessárias. O simples fato de que você perdeu o seu valioso cavalo é indicação de coisa ruim, de azar”.

    As pessoas riram do velho considerando que ele tinha ficado louco.

    Duas semanas depois o cavalo reapareceu. Ele não tinha sido roubado. Apenas tinha fugido para os campos. No seu retorno vieram com ele uma dúzia de cavalos selvagens, todos muito bonitos e valiosos.

    Os vizinhos, vendo aquilo, disseram ao velho: “Desculpe-nos, você estava certo, foi uma benção e não um azar”.

    Mais uma vez o velho comentou: “Calma! O cavalo apenas voltou e doze outros cavalos vieram com ele. Não juguem se é bom ou mal, se é sorte ou azar. A menos que vocês tenham conhecimento de toda a história, não podem julgar. O que aconteceu é apenas um fragmento.”

    Embora achando que o velho estivesse errado, desta vez os vizinhos ficaram quietos”.

    O velho tinha um filho único que era bem jovem. Ele começou a adestrar os cavalos selvagens, mas logo aconteceu um acidente. Ele caiu de um dos cavalos e quebrou as duas pernas. Os vizinhos se reuniram e foram até o velho dizendo: “Você estava certo novamente. Não era sorte e sim maldição. Agora o seu filho, que o ajuda muito, está temporariamente inválido e pode até ficar aleijado”.

    Mais uma vez o velho disse: “Voces não conseguem evitar o julgamento. Meu filho apenas quebrou as pernas. Ninguém pode dizer se isso é bom ou ruim. É apenas um fragmento da história. Só se pode julgar quando a história chega ao fim”.

    Pouco tempo depois, aquele país foi atacado pelo país vizinho. Todos os jovens daquela aldeia foram levados à força e forçados a lutar na guerra. Como o país agressor era muito superior, a guerra era perdida e os jovem não regressariam com vida. Todos na aldeia gritavam e choravam em desespero. Foram até o velho e disseram: “Você estava certo! Seu filho pode até ficar aleijado mas está aqui. Não foi levado. Nossos filhos foram para sempre. Com certeza não retornarão”.

    O velho, pacientemente disse: “É difícil lidar com vocês. Sempre julgando. Ninguém pode saber o que é bom ou mal, se é uma benção ou um azar. Digam apenas que seus filhos foram obrigados a ir para a guerra e o meu não. Ninguém é capaz de dizer nada. Ninguém sabe. Só Deus sabe”.

  2. Meu caro Desembargador,

    Voce pode ter certeza que ha muito mais pessoas que gostam de voce do que voce imagina. Apenas não tem e nem interessa às mesmas demonstrar isso, são pessoas como voce, que muitas das vezes, para não dizer quase sempre, tem dificuldade de demonstrar sentimentos. Estimo seu breve restabelecimento. PS. Me incluo, com a sua permissão entre aqueles que lhe tem muito respeito e reconhecimento,

  3. Estimado Des. José Luiz,

    Veja pelo lado positivo, pois o acidente teve pequenas proporções e o Sr. continua vivo , sem nenhuma grave sequela. E tem os cuidados da sua esposa e familiares . Quantas pessoas ” nocauteadas ” pela vida não têm isso?

    O feriado também me rendeu dissabores. Viajei para THE onde está minha família , deixando minha casa em PHB sozinha , ou melhor , aos cuidados do casal de caseiros ( que ficam durante o dia ) e do vigia noturno. Ocorre que um ou mais gatunos, aproveitando-se da ausência dos caseiros no domingo ( folga deles ) assaltaram a casa , levando entre outros objetos, um notebook onde havia alguns arquivos importantes ( sentenças ). Eu fiquei chateada, mas vi pela ótica positiva : ” levaram os anéis, mas ficaram so dedos ” …rs

    Comparado ao seu dissabor, o meu até que foi leve, pois o senhor teve sua integridade física afetada ( e por consequência, a paz interior ).

    Quando eu estou assim, impossibilitada de produzir, sabe o que faço ? Aproveito para ver filmes ou ler um bom livro . Cinema e leitura são meus passatempos favoritos (veja a dica de cinema no post mais recente do Blog Legal ).

    Fico aqui torcendo para seu restabelecimento, que retorne breve às suas atividades, com muita saúde e paz.

    Fraterno abç

    Tânia Regina

  4. Caríssimo Dr. José Luiz,
    Fui informada sobre o acidente no dia 08, à noite e a partir daí comecei a ligar para saber detalhes, mas tudo em vão. Felizmente, ontem pude me inteirar do que aconteceu, realmente e comecei a pedir a Deus pelo seu total restabelecimento.
    Não pude ir vê-lo em sua casa e é pouco provável que eu venha a fazê-lo, em virtude de uma série de empecilhos (físicos)que o senhor conhece de perto, mas quero que saiba que a minha amizade, a minha admiração, o meu respeito, o meu carinho e a minha gratidão estão cada vez mais acentuados, porque o senhor é aquele tipo de pessoa que, quem ama uma vez, ama pra SEMPRE.
    Sei que a sua “agonia” por estar afastado das atividades profissionais consegue ser ainda maior do que o mal estar físico causado pelo acidente, mas isso em breve estará sanado, porque Deus está no controle.
    Um beijo pra essa mulher virtuosa, Ana Rita, e outro para Roberto e Ana Paula.
    Um grande abraço, com votos de um breve retorno.
    Azenate

    Ah! já ia me esquecendo: Obrigada por continuar entre nós e por ser tão especial em nossas vidas.

  5. Dr. José Luiz,

    Sou leitor assíduo do seu blog e torço que a sua melhora seja a mais rápido possível, seja para voltar ao seu trabalho, seja para alimentar o blog. Nesta hora, aproveite para receber o carinho da família e de seus amigos.

    Abs,

  6. Qualquer campeão,algum dia, numa distração, leva um nocaute. Chegou a tua vez campeão, mas não te aperreies.

    Mas pensando bem, “tchê da toga”, ser atropelado por uma Kombi é mesmo uma baita vexame e uma humilhação. Por certo que foi o efeito dessa danada que te fez “perder a paz”!

    Mais bah, né Tchê! Vê se na próxima vez tu te distrai na frente de uma Ferrari, homem de Deus. Qualquer peão, por mais xucro que seja, sabe que é “chic” ser atropelado por uma. (Ao menos tu não ia perder a paz).

    Além disso, a Ferrari é “levinha” e “baixinha”, por isso só “soqueia” nas pernas do atropelado, enquanto a Kombi, além de alta e pesada, é um trambolho que, quando bate, espanca o corpo todo do atropelado. Ai, meu compradre, nocauteia mesmo. Quando tu acorda está com essa tal de humilhanção.

    Mas vê se tu te recompõe ligeirito no más compadre, para voltar a escrever aqueles belos “bilhetes”, que se não for por escrito tu não te amina a dizer.

    Não vamos até ai para não extropiar o “pingo”, porque éstamos muito longe dessas bandas, mas te enviamos nas asas dessa internet, o nosso carinhoso, fraterno e cinchado abraço, com o dobro de voltas do anterior, que por aqui serve, também ,para distrair o sofrimento enquanto a cura não chega.

    Há! pede para a tua amada prenda que tá sempre aí do teu lado, que te faça uma canja temperada com carinho, e quando estiveres curado aparece por aqui para comer um churrasco bem gordo.

    Roger

    10/09/10

  7. Prezado Amigo,
    Dr. José Luiz
    Não importa o que aconteceu e lembre-se que Deus é todo poderoso e foi ele quem libertou de um mal pior. Ele nos coloca diante de certos desafios para testar a intensidade de nossa fé. Que deus o abençoe hoje e sempre.
    Receba um forte abraço
    Hildenê

  8. Caro Zé Luis,
    Soube do seu acidente através de Léo no domingo, dia 12.Deve ter sido um susto e tanto.Tenho informações de que você já está um pouco melhor.Torço para que tenhas tua saúde física e mental reestabelecidas.
    Abraço,
    Thiago Cassas

  9. Caro Desembargador, sou proprietário da empresa dono do veiculo que lhe lesionou. Apesar de não termos culpa, sempre fica um sentimento de que poderia-mos ter evitado tal acidente…chocar uma pessoa com um veiculo, é pavoroso para as duas partes .Espero seu breve estabelecimento !

    Abraço cordial

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