Para Zaffaroni é insustentáve pretender que um juiz não seja cidadão, que não participe de certa ordem de ideias, que não tenha compreensão do mundo, uma visão da realidade.
Para o insigne penalista, o juiz eunuco político é uma ficção absurda, uma imagem inconcebível, uma impossibilidade antropológica.
O Juiz não pode ser alguém “neutro” porque não existe neutralidade ideológica, salvo na forma de apatia, irracionalismo ou decadência de pensamento, que não são virtudes dignas de ninguém e menos ainda de um juiz, conclui.
Desde que ingressei na magistratura que exponho a minha visão de mundo.
Eu nunca pretendi mesmo ser alguém que não se sabe o que pensa, que não diz o que pensa, que se acomoda apaticamente sob as talares.
Eu sempre mostrei a minha cara – algumas vezes até a alma.
Já fui compreendido e incompreendido.
Todavia, ainda assim, me recuso a não ser um ser que pensa – e que diz o que pensa.
Confesso que tenho certo receio do juiz “netro”, do juiz que acha que só deve falar nos autos.
Eu sou do tipo tagarela, que diz o que pensa, sem temer a incompreensão.
Em incontáveis crônicas e artigos publicados na imprensa local e neste blog eu já me mostrei por inteiro.
Eu sou exatamente o que digo, sem tirar nem pôr.
Não me apraz o conforto do silêncio, com receio de desagradar.
Mas não sou inconsequente, conquanto reconheça que, por ser assim, nunca tenha sido muito bem compreendido.
Eu sou um ser que pensa, que diz o que pensa, muitas vezes com veemência; veemência que, não raro, tem sido confundida com arrogância.
Eu só sei ser intenso, forte nas minhas inabaláveis convicções.
Tenho a mais empedernida convicção, por exemplo, que não serei presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão.
Tenho testemunhado, desestimulado, as incompreensões que envolvem, por exemplo, a administração do nosso atual presidente, que, ao que vejo, é movido pelas mais lídimas e escorreitas intenções de fazer o melhor. Todavia, ainda assim é incompreendido muitas vezes.
Definitivamente, essa não será a minha praia, mesmo porque, intenso como sou, certamente reagiria, com extremado vigor, a uma injustiça.
Mas a veemência, registro com prazer, não é predicado apenas dos homens pouco inteligentes como eu.
Certa feita, no STF, em debate com o relator Aliomar Baleeiro, este comentou a intensidade de Evandro Lins e Silva na defesa do seu ponto de vista.
Evandro, diante do comentário, anotou, como eu o faria:
“Não veja V. Exa. na minha veemência outro motivo que não seja o natural ardor na defesa do meu ponto de vista. É uma convicção firmada como juiz, sobretudo como juiz da Corte Suprema,encarando também o interesse público que está em causa”.
É exatamente essa ausência de “neutralidade” que o faz tão verdadeiro e, em consequência disso, tão especial em nossas vidas e extremamente necessário ao judiciário maranhense.
Parabéns por essa postura ao longo dos anos.
Um abraço