Mais uma vez o programa Fantástico nos brindou com um sórdido caso de corrupção.
A matéria veiculada, não tenho dúvidas, é apenas uma insignificante parte de um todo que nos violenta a todos, causando estupor e revolta.
O que se viu no Fantástico é o que ocorre, todos os dias, rotineiramente, pelo Brasil a fora, sobretudo no âmbito das Prefeituras municipais, que, de rigor, não são fiscalizadas.
A verdade é que há um bando de abutres que vive exclusivamente de fraudar licitação para, a partir daí, se apoderar do nosso dinheiro.
O mais grave e revoltante foi ter ouvido de um partícipe que essa é a ética do mercado. E o pior é que é verdade!
Esses seres abjetos e asquerosos não se intimidam com nada, pois têm certeza da impunidade.
O mais grave, ao que sinto, é que as pessoas já não se indignam com esse tipo de notícia.
Mas o mais grave ainda é a cultura que se sedimenta na sociedade em face da corrpução que permeia a nossa vida.
Explico. Muitos são os que praquejam contra a corrupção, todavia, na primeira oportunidade, se aliam aos corruptos para as mesmas práticas, como se dissessem “agora é a minha vez”.
Na recém passada sessão da 2ª Câmara Criminal, numa das minhas manifestações, em face de um habeas corpus, tive a oportunidade de reafirmar a minha revolta em face da ação dos que, por exemplo, subtraem as verbas destinadas à merenda escolar e à saúde. Eu disse, na oportunidade, que os crimes praticados com esse objetivo são muito mais deletérios para o conjunto da sociedade que um assalto, por exemplo, com o que traduzi toda a minha inquietação e revolta.
Fazer o quê?
Eu só espero que essa indignação de Vossa Excelência reverbere nos julgamentos realizados pelos seus colegas desembargadores nas ações de improbidade administrativa.
Realmente o ponto de vista apresentado pelo Fantástico é verdadeiro. Mas “estranhamente” o Fantástico ocultou toda a participação do repórter, caso contrário teríamos visto que no papel de funcionário público o repórter com certeza iniciou o processo ao pedir um percentual.
Acredito que o pedido SEMPRE parte do funcionario, sendo que o particular acaba aceitando (óbviamente uma atitude tão errada quanto) e adicionando ao preço o valor do servidor.
Ou seja, em primeiro lugar o funcionário público fala quanto quer e o particular aceita. É também interessante lembrar que o preco do particular NÃO é aumentado, ou seja, esse percentual (5%, 10%, 15%) é adicionado ao preço da licitação, mas não vai para o bolso do particular e sim do funcionário público.
Por exemplo, para vender as marmitas ele cobra 1.000 moedas, mas o servidor quer 10%, logo o particular cobrará 1.100 moedas para fazer as mesmas marmitas e terá que repassar 100 moedas para o servidor. Percebe-se que ele continua recebendo as mesmas 1.000 moedas. Ele se beneficiou por poder fornecer o serviço enquanto o servidor se beneficiou com o dinheiro.
Da forma como foi mostrado o particular é o VILÃO de toda essa falcatrua, quando sabemos que o MAIOR beneficiado é o servidor. O particular vai receber o mesmo valor que cobraria sem esse percentual.
Todos estão errados, mas não é correto jogar a culpa da corrupção nos ombros de somente uma das partes.