“O animal satisfeito dorme”

Guimaraes Rosa dizia que “o animal satisfeito dorme”. Com isso queria dizer que  o homem, satisfeito, corre o risco da monotonia existencial.

A verdade é que o homem, satisfeito com a situação presente, tende a perder substância, a entrar numa fase de indigência mental muito perigosa.

Acho que estou passando por essa fase!

Creio que, pelo menos no que concerne à minha condição de magistrado, a sedução do repouso e a acomodação parecem me contaminar.

Olho em volta, estando no Tribunal de Justiça, e fico com as impressão de que já estou satisfeito, que posso me aposentar, que posso voltar pra casa e iniciar um novo projeto de vida.

Ontem mesmo, por ocasião da posse solene do colega Raimundo Barros, fiquei com meus botões, olhando para um e para outro colega, e me indagando: o que estou fazendo aqui? Por que não vou para minha casa? O que ainda é possível realizar, estando desembargador? Por que, diferente de muitos, não almejo ser presidente? Por que, se todos se empolgam com o poder, eu me sinto desconfortável exercendo-o? O que tanto fascina nesse cargo que não consegue me atingir?

Tudo isso pode ser confusão da minha mente.

É possível que, mais logo, eu volte ao meu estado, digamos,  normal, afinal, só mesmo não sendo normal para não se embevecer com algo que a todos fascina.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Um comentário em ““O animal satisfeito dorme””

  1. Estou há apenas seis anos em minha função atual, mas também sinto às vezes como se estivesse, não direi adormecido, mas “entorpecido” pelas dificuldades cotidianas e pela ausência de um desafio construtivo.

    A fraqueza pessoal, que todos nós com freqüência percebemos quando nos deparamos com a vontade de fazer a diferenca engolida pela impossibilidade de a fazer, talvez tenha esse maléfico efeito.

    Entretanto, um simples “obrigado” de um jurisdicionado ao perceber em nós o empenho para fielmente exercermos nossas atribuições sempre me faz pensar que fazemos sim uma grande diferenca, embora talvez individual e silenciosa para as pessoas que sao afetadas por nossos atos.

    Nessas horas me encontro a imaginar se realmente errados não sejam os outros, com seus jogos de poder.

    Lembro da ultima sessão do pleno a qual estive presente, nao lembro o orador, mas recordo que seus pares simplesmente o ignoravam, entretidos que estavam com seus assuntos particulares e conversas paralelas – e lembro de ter lhe avistado, como uma ilha de concentração, apreciando cada palavra, o que no mínimo me pareceu respeitoso.

    Devo concluir que embora por vezes possa se sentir enfadado, sua ausência em nossa Corte se fará notar com certeza.

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