Discriminação

O ser humano é assim: em vez de sublimar as virtudes das pessoas, prefere apontar-lhes os defeitos para, a partir deles, discriminá-las e diminuí-las.

Numa corporação essas tentativas de menosprezar o colega, pelo que as pessoas vislumbram que tem de negativo, é uma evidência atroz.

Nas corporações, observo, o sujeito pode ser discriminado pelas mais diversas razões. É mais ou menos como ocorre no mundo da política em relação ao inimigo: se não tem defeito, arruma-se um – ou uns.

O importante mesmo é discriminar, criticar, diminuir as virtudes das pessoas, pois que, assim agindo, imaginam que o estão trazendo para a planície, para ser igualzinho a todas as outras pessoas.

Numa corporação, sobretudo nas corporações de poder, é um pecado ser diferente, sair do centro, transitar pelo incomum, fugir dos clichês, seguir noutra direção que não a óbvia- a que todos esperam, e almejam.

Mas, sejamos realistas, não é preciso fazer parte de uma corporação para ser discriminado.

Nós vivemos discriminando as pessoas. É próprio do ser humano a discriminação. Discriminam-se as pessoas pela beleza, pela feiura, pela inteligência, pela falta dela, pela cor da pele, pelo tipo de cabelo, pelo andar, pelas roupas que veste, pelo tom da voz, pela timidez, pelo exibicionismo, pela posição social etc.

O que importa mesmo é discriminar!

Do que vejo e sinto, o que menos importa às pessoas são as realizações daqueles que discriminam, a sua capacidade de discernir, seu bom-senso, sua bondade, o respeito que têm pelo ser humano, a forma cortês com que tratam às pessoas, o sentimento de solidariedade, as relevantes realizações etc.

É mais cômodo discriminar, apontar os defeitos. É como se fosse um balsamo para alma. Se posso discriminar e, de consequência, diminuir os feitos do colega, por que razão deveria elogiá-lo, encher a sua bola?

D. João V era destacado mais pela sua feiura que em face de suas realizações, convindo anotar que, pelo mesmo motivo, e outros mais picantes, também era discriminada  D. Carlota Joaquina.

Além da feiura, D. João também era discriminado pelo descuido com a higiene pessoal e pela fama de glutão sem escrúpulo.

Os destaques aos defeitos de D. João  são um contraponto muito relevante às suas realizações: abertura dos portos,remodelação do Rio de Janeiro, a permissão para instalação de indústrias, aparelhamento das forças armadas, a criação das Academias da Marinha e Militar, a construção do Jardim Botânico, de um observatório astronômico e um museu mineralógico, além da biblioteca pública e da tipografia real, cuja primeira publicação foi A Riqueza das Nações, de Adam Smith.

E você: costuma viver apontando os defeitos das pessoas e discriminando-as por isso, ou, ao reverso, é do tipo que sublima as virtudes?

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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