Quero dizer, de logo, que não me acanho em refletir sobre qualquer tema; mesmo os que parecem não ser politicamente corretos.
As minhas reflexões vão surgindo do nada. No momento em que me chega a inspiração, escrevo, muito embora saiba que haverá muitos que não concordarão com o que penso.
Assim sendo, passo às reflexões, na certeza de que para muitos não será fácil digerir o que vou dizer a seguir.
Pois bem.
O ocaso é melancólio, sobretudo para os que têm obsessão pelo poder.
A velhice (inválida, claro) é melancólia; a passagem do tempo, implacável.
Louvo aqueles que veem o tempo passar e não se afligem ante a inexorável expiração da vida.
Não somos eternos. Todos um dia passarão. Eu passarei, tu passarás, nos passaremos. Essa certeza me faz, algumas vezes, soturno. Não dá pra se olhar no espelho e não concluir que o tempo passaou. Não deve ser fácil chegar ao fim da linha.
Deve ser sofrido olhor para o futuro e não vislumbrá-lo. Deve ser de lamentar ver diante de si apenas o presente.
Eu, confesso, tenho pensado muito, nos últimos tempos, sobre a finitude da vida, sobre a certeza de que num futuro muito próximo não estarei aqui, como aqui não estarão os da minha geração.
Admiro e aplaudo quem, estando com a idade avançada, ainda faz planos para daqui a vinte, trinta anos.
A melancolia que às vezes toma conta de mim, a propósito do tema aqui refletido, não é, digamos, privilégio da minha mente inquieta. Todos que têm o mínimo de lucidez sentem a proximidade do fim, proximidade que se torna muito mais dilacerante se somos felizes.
Hoje, ao ler os jornais do dia, como faço habitualmente, voltei a refletir sobre essa questão em face de um diálogo patético entre os senadores Pedro Simon e Cássio Cunha Lima.
Cassio Cunha Lima quis saber se o provecto senador ainda disputaria outra eleição, ao que respondeu que achava que ia para casa, para concluir:
-Já vou para os meus 85 anos. Meus bons companheiros não estão mais aqui. O que vou fazer?
Cássio Cunha Lima respondeu:
-Eu sei o que o senhor vai fazer: vai fazer muita falta nesta casa.
É. Pode ser. Mas a verdade é que um homem, aos 85 anos, não deve mesmo fazer mais projeções para o futuro, sobretudo se olha em volta e se dá conta de que, como seus companheiros que se foram, ele também irá um dia, porque, afinal, não somos eternos.
O que se espera, em face da inevitabilidade da saída do proscênio, é que alguma coisa do boa que fizemos sirva de exemplo para as novas gerações, afinal, a experiência ensina, uma vez de pijama, o esquecimento é inevitável.
É triste dizer, mas é a realidade. E quem não for capaz disso compreender e assimilar que tudo flui, tende a sofrer muito mais, como sofria Luiz XV, que, aos 64 anos, uma idade considerada avançada para época em que a expectativa de vida não passava de 45 anos, vivia a obsessão da morte, conquanto gozasse de boa saúde. Obsessão que só aumentava sempre que tinha notícia do falecimento dos seus contemporâneos.*
É isso.
*Poucos meses depois de fazer 64 anos o rei Luiz XV, o bem amado, o belo, o amante voraz, o homem de incontáveis aventuras morreria de varíola. Os biógrafos contam que o seu rosto estava da cor de bronze, como a máscara de um mouro de boca aberta, numa terrível visão para quem se aproximava dele. Contam, ademais, que um odor pestilento soprava do seu quarto empestiando o ar do palácio (Evelyne Lever)