O poder que fascina e entorpece é o mesmo que cega

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“[…]Eu não pretendo, por dinheiro ou poder, mutilar a minha alma. Para não fazê-lo, precisaria ter a paciência que tiveram os colegas que passaram pela presidência do Tribunal de Justiça, muitos dos quais açoitados, fustigados, provocados , dentre outras coisas, pela petulância, pela falta de noção de limites dos que comandaram a Corregedoria-Geral de Justiça, louvando-se aqui, para ser justo, as exceções[…]”

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Eu vivo sempre a obsessão de nunca ter que, por conveniências pessoais, negar as minhas convicções. A menos, claro, que me convença de que estou trilhando o caminho errado. Nesse caso, não hesitarei em recuar, afinal, como dizia o Barão de Itararé, só não muda de ideia quem não tem ideia para mudar.

Olhando em volta de mim, vejo, por exemplo, que jamais terei habilidade e paciência para dirigir o Tribunal de Justiça do meu Estado. Talvez por isso eu não faça nenhuma projeção para o futuro nesse sentido.

Admiro, sim, os que têm a capacidade de driblar as dificuldades, conciliar os interesses de muitos, para dirigir. Para mim esse seria um sacrifício injustificável. Eu não me submeteria a ele, sobretudo a par da convicção de que, no caso do Maranhão, são 27 colegas alguns dos quais a fazer reivindicações as mais diversas, muitas das quais inviáveis de deferimento.

Imagino que, na condição de presidente, ou para chegar à presidência, talvez precisasse negar algumas das minhas convicções, e, confesso, não me vejo com essa flexibilidade, por isso admiro os colegas que passam incólumes pela direção da casa, máxime quando conseguem conviver em harmonia com os corregedores, que, historicamente, são um calo no sapato dos presidentes.

Como sabemos, Nicolau Copérnico defendeu a Teoria Heliocêntrica (a terra e os demais planetas giram em torno do sol) refutando, no mesmo passo, a Teoria Geocêntrica (terra com centro fixo). Galileu, Galilei embarcou na canoa de Copérnico. Foi acusado de herege por defender o heliocentrismo. Foi obrigado a negar as suas convicções. Não deve tê-lo feito de bom grado. Ninguém recua de suas convicções sem mutilar a alma.

Eu não pretendo, por dinheiro ou poder, mutilar a minha alma. Para não fazê-lo, precisaria ter a paciência que tiveram os colegas que passaram pela presidência do Tribunal de Justiça, muitos dos quais açoitados, fustigados, provocados , dentre outras coisas, pela petulância, pela falta de noção de limites dos que comandaram a Corregedoria-Geral de Justiça, louvando-se aqui, para ser justo, as exceções.

A verdade é que os tempos mudam, mas há pessoas que não mudam com o tempo; não têm a exata noção de limites, não sabem até aonde podem ir, numa inequívoca demonstração de que poder não é para todo mundo; por isso o mundo explodiu em guerra, por isso o holocausto.

As pessoas vivem, mas não aprendem. O poder, assim como fascina, também cega.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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