RECONHECER O ERRO

Para quem gosta, como eu, de refletir sobre o comportamento do ser humano, a internet, pelas suas redes sociais, é, definitivamente, o local ideal para esse desiderato, na medida em que, nelas, podemos testemunhar, também, o inusitado, o esquisito e o bizarro, resultado da mistura refinada do insólito com o surreal, na medida em que muito do que é mostrado nas redes causa em todos nós estupefação e, não raro, constrangimento, a receber, por isso mesmo, um olhar não somente contemplativo/indiferente.

Nas redes sociais, a propósito, eu já vi de tudo um pouco. E, mesmo já tendo visto muita bizarrice/esquisitice, ainda me surpreende a predisposição de muitos internautas à exposição pessoal e familiar, muitas vezes em situações singulares/vexatórias – leito de hospital, por exemplo -, agindo sem controle e sem limites, na busca dos famigerados likes, ainda que, no mesmo passo, se submetam a críticas tenazes, muitas das quais ultrapassam o umbral da racionalidade, permeadas, quase sempre, de toxidade, próprias dos dias atuais, de muita intolerância e de pouca ou quase nenhuma complacência.

É preciso admitir, no entanto, que as redes sociais vieram para o bem e para o mal e que, em face dessa realidade, quase nada podemos fazer, daí que, em vez de demonizá-las, o que se deve mesmo, como faço, é preservar, tanto quanto possível, o a nossa privacidade em face delas, usando-as moderadamente, evitando, no mesmo passo, e por consequência, exposições desnecessárias, domando a porção narcísica que habita em cada um de nós.

Feito o registro, destaco que, há alguns dias, assisti a um “corte” de uma entrevista dada por uma famosa, recém-separada, a um Podcast badalado, no qual, dentre outras coisas, afirmou, depois de expor detalhes da relação, que, quando toma uma decisão, não recua, enfatizando que é sempre definitiva, ainda que venha a se arrepender depois.

Não penso assim. Aliás, me recuso a pensar assim.

Diferente da famosa, incontáveis vezes retrocedi em face de uma decisão equivocada, ciente da minha falibilidade, ou seja, da minha condição de gente, decorrência natural de uma evolução que me levou ao necessário e inexcedível autoconhecimento, ciente, ademais, fruto da maturidade alcançada, que a assunção de um erro não me torna menos digno e nem atenta contra a minha credibilidade.

Nesse cenário, não me constrange assumir que determinada posição foi equivocada, por isso, não raro e sendo o mais prudente a fazer, recuo, sim, dou a mão a palmatória, sem constrangimento, sem falsos pudores, pois o que a mim me constrange mesmo não é o recuo, o reconhecimento do erro, mas a prepotência, a arrogância e a incapacidade de admitir que errei.

Quando ouço alguém dizer, depois de uma decisão ou de uma atitude equivocada, que não recua, mesmo admitindo o erro, a conclusão que chego é que, se a vida é uma escola, como me reportei noutra feita, não são poucos os que se recusam a aprender.

Na mesma entrevista a que me referi acima, a mesma entrevistada, com milhões de seguidores – algo que não se compreende racionalmente -, com ares de deboche e regozijo, concluiu, sempre arrogante e despreparada para a vida, que não daria a ninguém o gostinho de assumir que errou, do que posso inferir que, diante do erro, há dois grupos de seres humanos: a) os humildes/evoluídos, que, reconhecendo-o, costumam refletir sobre o que poderiam fazer para evitá-lo; e b) os arrogantes, que se recusam a admitir que erraram, preferindo permanecer na escuridão em que estão mergulhados, daí a conclusão de que, se errar é humano, a propensão a se manter no erro é um sintoma claro da falta de evolução espiritual e, também, de caráter, pois, pior que errar, é se recusar a assumir o erro e, nesse passo, evoluir como ser humano.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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