ENCONTROS E DESPEDIDAS

Difícil falar de mim mesmo, porque, diferente de muitos, eu sou o meu maior crítico, sou um quase sensor de mim mesmo.

Mais fácil, portanto, falar do outro, conquanto reconheça os riscos que corremos nas nossas avaliações, as quais partem, quase sempre, das nossas pré-compreensões e dos valores que incorporamos à nossa vida, os quais, muitas vezes, nos levam a julgamentos e avaliações preconceituosas/equivocadas.

Conquanto admita as dificuldades inerentes às avaliações que fazemos do comportamento do semelhante, insisto em fazê-lo, na medida em que o ser humano é a minha fonte de inspiração, por excelência, nesses quase 40 anos de crônicas.

Tenho dito, nesse sentido, fruto de uma justificável arrogância de quem pensa que sabe da vida, que, passados tantos anos de judicatura, convivendo de perto com o ser humano e suas aflições/idiossincrasias, me especializei em gente, conquanto admita que, não raro, me surpreenda com uma atitude qualquer, me compelindo a retroceder na minha avaliação, para admitir, sem originalidade, que a alma do ser humano é algo imperscrutável, impenetrável mesmo.

Mas, ainda assim, é mais fácil, reconheço, falar dos outros que de mim, ainda que, de rigor e verdadeiramente, sejamos incapazes de fazer um julgamento justo do semelhante, pela nossa indiscutível incapacidade de, reconhecer, por má-fé, maldade e/ou falta de descortinamento, as virtudes dos outros.

Mesmo admitindo os riscos que corro ao falar de mim, tenho sensatez suficiente para reconhecer que uma das minhas características é ser sensível em face das coisas da vida, na medida em que, reconheço, uma vida irrefletida é uma vida sem sentido, que não vale a pena ser vivida, leva a alma a ficar confusa e aturdida, como se estivesse bêbada (Sócrates, Fédon).

Nesse sentido, tenho pensado muito, nos últimos anos, nos encontros e nas despedidas com os quais temos que conviver.

A minha vida – a vida de todos, enfim – tem sido, desde sempre, marcada por encontros – alguns breves, outros definitivos – e despedidas – muitas definitivas e dilacerantes, para as quais eu nunca estive/estou preparado.

Os encontros, no sentido que empresto a essas reflexões, renovam as nossas esperanças, dão uma nova dimensão à vida de cada um de nós, nos convencem que, por eles e em face deles, vale a pena prosseguir a maravilhosa e desafiadora jornada da vida.

As despedidas, o outro lado da moeda, muitas das quais vivenciei dilacerado, deixam uma sensação de vazio que, no meu caso, me fragiliza, ainda que ela seja apenas uma possibilidade futura, dada a minha capacidade de sentir antes o que muitos só sentem depois.

Assim é a vida; é assim que encaro a vida e o que dela dimana.

A gente vai vivendo, deixando a vida nos levar, e, quando menos esperamos, quando tudo se revela apenas uma mesmice, uma rotina enfadonha, ocorre o encontro, renovando os nossos sonhos, dando uma nova dimensão à nossa vida.

Aos muitos encontros que a roda da vida me proporcionou me entreguei sem pudor, para, depois, na dor, sofrer as consequências das despedidas.

Nos encontros que a vida nos proporciona, há pessoas, sim, que vieram pra ficar – e ficaram; há outras que, infelizmente, vieram, mas não puderam ficar, porque a vida é assim. E das que se foram, pelos mais diversos motivos, ficou apenas a saudade, as boas recordações.

Nada se pode fazer para mudar o que está feito.

Quando vem a despedida, antítese do encontro, o que fica mesmo é saudade do que foi sem que pudesse ter sido o que suponhamos que poderia ter sido.

Os encontros e despedidas já levaram o poeta popular a dizer que todos os dias é um vai e vem, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais voltar, sendo que tudo isso são os dois lados da mesma viagem, ou seja, o trem que chega é o mesmo trem da partida, a hora do encontro é também de despedida; despedida de gente que vem e quer voltar, de gente que vai e quer ficar, de gente que veio só olhar, de gente a sorrir e a chorar (Fernando Brant e Milton Nascimento).

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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