MUDAR PARA DEPOIS MUDAR O MUNDO

Faço essas reflexões inspirado em Nélson Mandela (Mvezo, 18/07/1918 – Joanesburgo, 5 de dezembro de 2013), presidente da África do Sul de 1994 a 1999, que, como sabido, lutou tenazmente contra o Apartheid, permeando sua vida com muitas batalhas e ensinamentos, tendo sido, em face dessa renhida luta contra a segregação no país africano, condenado à prisão perpétua em 1964, sendo libertado apenas em 1990, para, em 1993, como reconhecimento pela sua luta, receber o Prêmio Nobel da Paz.

Mandela ensinava, por exemplo, que “uma das coisas mais difíceis não é mudar a sociedade, mas mudar a si mesmo”, constatação que me levou a essas reflexões, ante a convicção, fruto da minha rica experiência de vida, de que a mudança de comportamento é uma das atitudes mais nobres do ser humano – dependendo, claro, da direção tomada.

É lamentável, no entanto, que muitos insistem em seguir na mesma direção, em persistir cometendo os mesmos erros, insistindo nas mesmas atitudes, destruindo pontes, aqui e acolá, dificultando as relações, tornando a convivência mais difícil entre os mortais.

É que muitos não compreendem que a mudança de comportamento é um sinal eloquente de que algo mudou na sua própria vida, mudança que pode, sim, dependendo do alcance, modificar, no mesmo passo, a vida das pessoas que estão no entorno.

A verdade é que há muitos que querem mudanças, que reclamam da direção que o mundo tomou, mas que seguem na mesma balada, exigindo mudanças apenas para os outros, pregando nas redes sociais o que não é sua prática de vida, vendendo uma imagem distorcida da realidade.

Aqueles que se recusam a mudar, persistindo nos mesmos erros, seguindo na mesma direção, são condescendentes apenas com seus próprios equívocos e dos que pensam e agem como eles, reservando para o congênere/inimigo as críticas mais tenazes, quando não a sua mais empedernida incompreensão, disso resultando a óbvia conclusão de que, por mais que almejemos, não mudaremos a sociedade se não somos capazes de mudar a nós mesmos.

A verdade é que todos queremos que os outros mudem. São poucos, no entanto, os que assumem minimamente o desejo de mudar, preferindo, ao reverso, fazer apologia do nefando apotegma segundo o qual “nasci assim, vou morrer assim”.

Forçoso admitir, pois, nesse cenário, que, se não mudamos, se persistimos na mesma postura, exigindo do semelhante o que não exigimos de nós mesmos, tudo ficará como sempre foi.

Superadas a fase do amadurecimento e eventuais traumas, que nos impõem uma necessária mudança de comportamento, pela dor e pelas circunstâncias, o desafio é mudar espontaneamente, desafio que, na minha avaliação, só será enfrentado por uma parte quase irrelevante da sociedade, na medida em que as pessoas, se valendo da máxima segunda a qual “pau que nasce torno, morre torto”, se recusam a mudar, conquanto insistam em condenar a postura dos que, do mesmo modo, seguem na mesma balada.

Deveríamos, sim, com lucidez, nos permitir uma transformação comportamental capaz de nos tornar melhores, sem que tenhamos que ser instados por fatores externos, por um revés, por situações traumáticas ou por infortúnios, a partir de uma longa jornada introspectiva capaz de nos fazer repensar a vida, repensar os nossos valores, as nossas relações, quer familiares, quer profissionais.

É claro que não é fácil uma mudança de comportamento que decorra apenas e tão somente do desejo de mudar, o que só ocorrerá, desde a minha compreensão, diante de uma grande evolução interior, que começa com o querer mudar, cumprindo destacar, para ilustrar, que “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares” (Fernando Teixeira de Andrade).

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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