Como fio condutor dessas reflexões trago à colação uma sábia lição de Marco Aurélio, segundo a qual a nossa vida é aquilo que os nossos pensamentos fizeram dela, que complemento como uma lição, igualmente relevante, de Sócrates, para quem uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida.
A minha vida, a minha conduta, as minhas relações, tudo, enfim, como sói ocorrer, construí em face dos meus pensamentos, das minhas reflexões – bons e maus pensamentos; boas e más reflexões.
Agindo assim, pensando muito, sem nenhuma preocupação com a qualidade do que pensava, fui me equivocando aqui e acolá, fazendo julgamentos precipitados, numa ou noutra ocasião, moldando, com efeito, a minha personalidade, fincada, muitas vezes, numa falsa percepção da realidade.
É dizer, fui deixando que os meus pensamentos fossem construindo, positiva ou negativamente, as minhas impressões, introjetando em mim conceitos indesejados, perturbando e fragilizando algumas das minhas relações pessoais, a reafirmar as conclusões do sábio filósofo/imperador Marco Aurélio, de que a vida pode ser, sim, resultado da qualidade dos nossos pensamentos.
Nesse sentido, sempre fui mais hábil e atilado – e quem não é? – para julgar o semelhante, sempre em face do que me predispus a pensar sobre ele, que para julgar a mim mesmo, a reafirmar a constatação que o título dessa crônica encerra, ou seja, que não somos bons julgadores de nós mesmos – por conveniência, oportunismo ou mesmo falta de discernimento.
Há algum tempo, resultado de uma relevante evolução pessoal, tenho tido mais cuidado com a qualidade dos meus pensamentos, na medida em que, hoje tenho certeza, algumas das minhas condutas poderiam ter sido diferentes, as minhas relações teriam sido outras, meus julgamentos – sobre mim e sobre o semelhante – seriam diversos, se outros tivessem sido os meus pensamentos, se eles tivessem sido, enfim, mais qualificados.
Gosto de pensar sobre a vida e, claro, sobre as pessoas. Tudo que está no meu entorno é um alvo em potencial das minhas reflexões. Nesse sentido, todos os dias, ao amanhecer, depois de intensa reflexão, digo a mim mesmo, por exemplo, que quero ser, cada dia mais, um ser humano melhor, daí por que venho povoando a minha mente com pesamentos que possam me levar a evoluir, desenvolvendo em mim a capacidade que poucos têm de julgar as próprias ações, com a mesma sofreguidão com que julgo as ações do semelhante.
Tenho, sim, a exata noção de que o mundo precisa de pessoas melhores. É que, não se pode negar, há muita gente ruim sobre a terra, ruindade que decorre, é possível concluir, dos maus pensamentos que povoam a sua mente.
A verdade é que estamos quase sempre prontos para julgar o semelhante em face de pensamentos desqualificados que cultivamos, condenando-o, sem ampla defesa e sem contraditório – sumariamente, portanto -, pelos mesmos erros que não raro cometemos, mas que, tratando-se de nós mesmos, tendemos a tergiversar, a fazer vista grossa, a reafirmar que não somos bons julgadores de nós mesmos.
Somos assim, infelizmente: bons e atilados julgadores das condutas do vizinho, do desafeto, do inimigo, para, no mesmo passo e com o mesmo esmero, condescender com os nossos próprios erros.
É isso.