A GLAMOURIZAÇÃO DA IGNORÂNCIA

Tenho convicção – todos temos, enfim – de que o mundo, depois do smarphone (rectius: internet), nunca mais será o mesmo. Com diz o poeta, nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia (Lulu Santos).

A internet, definitivamente, veio para o bem e para o mal, daí que todos somos, de alguma forma, vítimas – reais ou potenciais – do uso perverso que muitos fazem das redes sociais.

É que o homem, com um smartphone às mãos – e uma mentira/maldade na cabeça -, faz estrago, e é capaz, até, de mudar os rumos de uma nação, quando se vale da internet para, por exemplo, ludibriar os eleitores, que, muitas vezes, apaixonados/incautos/ignaros, acreditam em tudo que leem e veem, sem nenhuma preocupação com a verdade – implícita, oculta ou que não se manifeste claramente -; verdade que, para muitos, é apenas um detalhe.

A verdade é que, em face dessa perigosa realidade, nada se pode fazer, na medida em que estamos num mundo (digital) sem peais e regras, e, por isso mesmo, sem controle, no qual os limites estão submetidos ao crivo e ao desejo de cada um, certo que, para a maioria dos que habitam o mundo virtual, a verdade parece ser um indiferente, algo de somenos, a ser desprezada/vilipendiada ao sabor das circunstâncias e dos interesses mais mesquinhos, incompatíveis com a retidão moral que se espera de um cidadão de bem.

Não há, pois, o que fazer diante dessa cruenta realidade, à falta mesmo de uma normativa capaz de impor limites aos que teimam em agir à margem dos controles morais que deveriam permear as ações dos comprometidos com a paz social, na medida em que não são incomuns as manifestações que emergem da rede mundial de computadores capazes de causar desordem social.

É de rigor admitir que o mundo que se consolidou com a internet – na sua feição mais destruidora – estimula, lado outro, às ações dos mais espertos, dos lacradores, dos mais atilados, dos despudorados, dos inconsequentes, para os quais o único limite é a própria consciência; e, para quem não a tem, é, definitivamente, um mundo sem limites, campo fértil para vicejar a desfaçatez e o aviltamento.

Ao lado disso, e por isso mesmo, pode-se concluir que o mundo da internet é, também e do mesmo modo, o mundo da ignorância, da mentira, da pantomina, do vitupério e da maquiagem da verdade, da glamourização, enfim, da ignorância.

Nesse cenário, a verdade, a realidade factual, enfim, é algo descartável, sem nenhum valor, bastando, para dar azo a essa afirmação, constatar a quantidade de likes e comentários positivos em face de uma informação deturpada, máxime as viés ideológico, a partir do que tudo se potencializa.

Nesse panorama assustador, as mentiras e as desinformações que são veiculadas se transmudam em verdades, cujas consequências são, algumas vezes, imprevisíveis, sobretudo porque não são poucos os que, há alguns anos, passaram a se informar apenas em grupos de whatsapp, ambientes permeados, infelizmente, de lacradores e mentirosos contumazes, que, por paixão política ou outro sentimento qualquer, mas igualmente deletério, abominam, convenientemente, a imprensa profissional, que, por dever de ofício, checa as informações para, só depois, veiculá-las, conquanto se admita que, parte dela, como ocorre em qualquer sociedade democrática, esteja contaminada ideologicamente, à esquerda e à direita.

É isso.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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