Risco de enfarte é menor em otimistas

MARIANA LENHARO

“Os indivíduos mais otimistas tiveram um risco 50% menor de experimentar um evento cardiovascular inicial, em comparação com seus pares menos otimistas”, detalha uma das autoras do estudo, a pesquisadora Julia Boehm. O levantamento levou em conta diferentes categorias de emoções positivas e mediu a influência de cada uma delas tanto em populações saudáveis quanto em pacientes já acometidos por algum tipo de enfermidade cardiovascular.

Os pesquisadores avaliaram separadamente o impacto dos sentimentos positivos nos hábitos de vida (alimentação, tabagismo, prática de atividade física e qualidade do sono) e nas funções biológicas (função cardiovascular, função metabólica, inflamação e aterosclerose). E a conclusão foi surpreendente: as emoções positivas atuaram como protetoras mesmo na presença dos fatores de risco tradicionais. “Otimismo, satisfação e felicidade estão associados com um risco reduzido de doenças cardiovasculares independentemente de fatores como idade, status socioeconômico, tabagismo ou peso corporal”, completa Júlia.

Se a influência negativa do estresse e da depressão no sistema cardiovascular já era conhecida pelos médicos, faltavam evidências claras associando os sentimentos bons à saúde do coração. “Geralmente, o que se usa é o argumento contrário: quando alguém é deprimido, já se sabe que esse é um dos grandes fatores de risco para doenças cardiovasculares. Isso tem um peso enorme que supera outros fatores de risco tradicionais”, explica o cardiologista Maurício Wajngarten, do Hospital Israelita Albert Einstein e da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Emoções negativas atrapalham o equilíbrio hormonal do organismo, o que ajudaria a explicar o porquê dos danos para o sistema cardiovascular. A cardiologista Carolyne Matielo, do Hospital do Coração (Hcor), lembra que pacientes pessimistas e estressados costumam liberar quantidades altas de adrenalina, por exemplo – e isso promove a constrição dos vasos sanguíneos, elevando a pressão arterial. Esse processo, por sua vez, aumenta o risco de eventos cardiovasculares.

Após passar por cinco enfartes e dois episódios de AVC (ou derrame), Luiz Roberto Tarasco, de 52 anos, já não duvida da interferência do estresse e da ansiedade na saúde cardiovascular. Ele costumava trabalhar em uma transportadora e conta que vivia nervoso com prazos apertados para fazer entregas. “Você tem de cumprir metas de horário, com muita pressão, e o coração fica sobrecarregado. Tudo isso gerou o meu problema”, diz.

Além de ter enfrentado problemas emocionais, Tarasco ainda carrega outros fatores de risco para as doenças cardiovasculares: histórico familiar para o problema, tabagismo por 37 anos e peso corporal acima do indicado para sua altura. Mas, depois de tantos sustos, garante que aprendeu a viver com mais tranquilidade. “Parei um pouco de esquentar a cabeça. Agora, estou vivendo um dia de cada vez.”

O cardiologista José Luis Aziz, da Faculdade de Medicina do ABC, ressalta que o estresse é o quarto fator de risco para enfarte, perdendo apenas para colesterol alto, hipertensão e tabagismo.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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