A propósito de tudo que se tem lido e assistido, em face da impunidade que permeia a vida em sociedade, que tal refletir acerca do que disse sobre nós um jornalista americano que conhece o Brasil mais do que muitos de nós mesmos e dos nossos representantes legais?
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“Nos Estados Unidos aprendemos que o nosso país é ‘uma nação de leis’. Admito que algumas dessas leis, como as que estabeleciam a segregação racial, não são justas ou imparciais, e às vezes as pessoas tentam fugir a seu cumprimento. Mas há um respeito maior pelas leis, porque há maior probabilidade de elas serem aplicadas e normalmente a todos. Quando um senador republicano foi flagrado no ano passado solicitando sexo gay no banheiro de um aeroporto, ele usou um recurso muito conhecido no Brasil: ‘ Você sabe com quem está falando?’ Mas isso não funcionou, assim com a riqueze e a posiçao social de Paris Hilton não impediram que ela fosse mandada para a cadeia por dirigir bêbada. E quando ela recorreu a uma falsa queixa médica para ser solta logo, o clamor público contra o tratamento especial dado a ela obrigou as autoridades a mandá-la de volta à prisão.
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Por causa das deficiências em seu sistema político – tanto no ramo legislativo como no judiciário -, o Brasil ainda não alcançou esse estágio. Uma das coisas que eu achava mais difícil de entender quando visitei o Brasil pela primeira vez era a frase: ‘Ah, aquela lei não pegou’. Por causa do modo como fui criado, minha reação era sempre: ‘Como não pegou? É uma lei, portanto, tem que pegar’. Só mais tarde compreendi que a maioria dos corpos legislativos aqui age como se a declaração de intenções em um regulamento fosse a mesma coisa que sua aplicação. A Constituição de 1988, por exemplo, é cheia de declarações de princípios, muitas das quais dão garantias que vão além daquelas contidas na Constituição americana ou em outras. Mas dizer é uma coisa, fazer é outra. Muitas dessas promessas não foram cumpridas porque os legisladores não aprovaram nem as medidas que as implementasse nem os fundos necessários. Para eles, ter feito a declaração de boas intenções para ser suficiente, como se ela equivalsse a realmente ter feito algo.” (Larry Rohter, in Deu no New York Times, o Brasil segundo a ótica de um repórter do jornal mais influente do mundo, Objetiva, 2007, p. 147)