Confesso que o fato de ser um eremita tem me prejudicado nas minhas relações com os meus colegas magistrados, com os representantes do Ministério Público, com os advogados e com as demais autoridades com as quais sou obrigado a conviver, em face das minhas atividades profissionais.
As pessoas, nada obstante, insistem em emitir juízo de valor acerca da minha personalidade, como se tivessem autoridade para me julgarem.
Recordo, a propósito, que quando disputei, pela última vez, uma promoção, havia um determinado Desembargador que, nas reuniões com os seus colegas que abraçaram a minha tentativa frustrada de ser promovido, insistia em alertar os seus pares para que repensassem sobre a minha promoção, porque se tratava, segundo ele, de uma pessoa arrogante e prepotente. Esse mesmo Desembargador, na primeira oportunidade, pulou do barco e abraçou outra candidatura, argumentando, ademais, que sua esposa não simpatizava comigo.
Mas, curiosamente, não foi só esse Desembargador que se encarregou de disseminar essa aleivosia. Outras pessoas que giravam em volta de mim passaram a assimilar essa compreensão e, daí em diante, muitas pessoas, máxime as da área jurídica, passaram a crerer nessa minha “qualidade” como se fosse algo real.
Para essas pessoas, para esses irresponsáveis, que continuam a me etiquetar de arrogante e prepotente, devo dizer que nunca, em tempo algum, tratei com descortesia o pior dos marginais, que nunca, em tempo algum, destratei uma testemunha, que nunca, em tempo algum, tratei com descortesia um funcionário. Da mesma forma, como juiz eleitoral que fui por vários anos, nunca, em tempo algum, cometi uma arbitrariedade. Relaciono-me bem com todos os meus funcionários e ex-funcionários. Trato os meus funcionários com urbanidade e respeito e prego, no dia-a-dia, que todos nós nos respeitemos e nos tratemos com figalguia.
No dia-a-dia, no exercício de minhas atividades, recebo com elegância e a máxima atenção todas as pessoas que me procuram em meu gabinete. O meu gabinete, permanece, todo o tempo, com as portas abertas, literalmente. Recebo do mais humilde ao mais importante jurisdicionado com a mesma distinção, com a mesma fidalguia. Os agentes de polícia que comigo convivem nunca assistiram uma deselegância minha em audiência. Nunca destratei um agente de polícia que comparece à audiência em atraso. Nunca tratei com arrogância, da mesma forma, quando os agentes apresentam os acusados fora de hora. Sempre procurei entender as suas dificuldades.
Um das coisas que mais me aborrecem, a propósito, é falta de pontualidade. Ainda assim, nunca desmereci um advogado, um promtor, uma testemunha, um agente policial, um delegado, pelo fato de chegarem atrasados a uma audiência.
No dia-a-dia, recebo várias correspondências de acusados e, com o maior respeito, as respondo.
Apesar de sempre ter agido assim, os meus desafetos gratuitos se encarregaram de me etiquetar de arrogante e prepotente, como que a buscar um defeito que pudesse minimizar a seriedade com que cuido dos processos sob o meu comando, com o desvelo com que desempenho as minhas funções.
Essa etiqueta tem me prejudicado, sobremaneira, nas relações com os meus pares. Essa fama de prepotente, fruto da irresponsabilidade de algum inimigo gratuito, só tem me prejudicado.
Tenho conhecimento, todos os dias, de magistrados que destrataram funcionários, que brigaram por causa de vaga em estacionamento, que discutem com advogados, que gritaram com testemunhas, que respondem a várias processos administrativos, os quais, no entanto, não tem fama de arrogantes e prepotentes.
Estou tentando, há vários anos, entender a razão pela qual insistem nessa marca que só me desqualifica como ser humano.
Dr. José Luís, fiquei surpreso ao ler este seu “desabafo” sobre esse rótulo de prepotente que alguns tentam atribuir à sua pessoa. Aqui faço uma relação interdisciplinar com a Física, onde tudo depende de um referencial. Explico melhor: Todos os amigos que temos em comum sempre ligaram a sua imagem a atos positivos, de respeito aos jurisdicionados e àqueles profissionais que atuam juntamente com o senhor na seara jurídica. Portanto, o meu “referencial teórico” sobre a sua posição profissional (e pessoal) sempre foi o melhor possível, fato este que eu pude confirmar, agora não só por um abstrato “referencial teórico”, mas pela concreção do “conhecimento empírico”. Por fim, fica aqui o meu “desabafo” de admiração. Nós, jovens advogados que militam nas Comarcas do Estado do Maranhão, bem sabemos o quão difícil é encontrar magistrados que se disponham a dar a atenção e o respeito a nós devidos, não só pela nobreza da profissão de Advogado, mas, principalmente, por sermos cidadãos, e como tal, titulares de um dos princípios constitucionais basilares do Ordenamento Jurídico Pátrio, qual seja, o da Dignidade da Pessoa Humana. Minhas mais elevadas estimas!