Oportunismo e incoerência

As pessoas devem adotar, na sua vida privada e, principalmente, na sua vida pública, uma linha de coerência. Nesse sentido, o seu discurso deve ser compatível com a sua prática de vida. O homem não pode sair por aí pregando uma coisa e fazendo outro,  como fizeram, por exemplo, o ex-senador Demóstenes Torres e o ex-governador José Roberto Arruda.

É claro que ninguém é obrigado a ficar preso ao discurso do passado, se ele se mostra anacrônico. Por isso, muitos mudam de posição. Essa mudança, todavia, não surge do nada e não pode ser por mero oportunismo, para satisfazer interesses menores.

Abro um parêntese para dizer que as minhas crônicas e artigos são quase sempre permeadas com exemplos da vida pública, e,por conseqüência, em face da ação de nossos homens públicos, porque, afinal, são os que estão expostos razão pela qual são os protagonistas das situações que estimulam o julgamento público.

Retomando o tema, consigno, agora, que me causa uma certa indignação testemunhar o oportunismo de muitos dos nossos homens públicos. Os exemplos de oportunismo estão em todos os lugares e ocorrem a todo momento. Basta abrir os jornais para nos depararmos com o oportunismo de muitos dos nossos homens públicos, sobretudo daqueles que fazem política partidária.

Só para recordar. O PT, em 2010, quando a situação do governador Sérgio Cabral era outra, ameaçou até expulsar do partido o deputado Alessandro  Molon quando este se recusou a apoiar a reeleição do governador.

Pois bem, esse mesmo PT, agora, com o governador em baixa, ameaça desembargar do governo, para apoiar outro candidato, que não o apoiado pelo governador Sérgio Cabral.

A presidente Dilma, de seu lado, mal nas pesquisas, sente-se abandonada por muitos dos que, no passado, com a sua popularidade em alta, juravam a ela fidelidade.

E assim vai-se construindo o mundo da política: de oportunismo aqui e de ingratidão, acolá.

É claro que esse comportamento merece a nossa reflexão e, até, o nosso repúdio, pois os nossos filhos não podem crescer, viver e se formar culturalmente numa sociedade cujos homens públicos não têm coerência e, porque sem idealismo, optam pelo caminho que possa lhe proporcionar mais vantagens de ordem pessoal.

É por esses e por outras que muitos dos que ingressam no mundo da política já o fazem movidos pelo desejo de auferir vantagens.

É por essas e por outras que se ouve muito das pessoas de bem que a “política”, com P minúsculo, é para quem não tem vergonha.

E eu diria, para ser justo: ainda há, sim, uma minoria, quase inexpressiva, que faz política por idealismo e que tem convicções fortes e definitivas.

São poucos, é verdade, mas que bom essa minoria existe.

Aliás, consta que a presidente Dilma, ao reagir em face do comportamento de um ministro que teria comemorado a desgraça do governador Sérgio Cabral, teria reagido nesse termos: “O Sérgio é nosso parceiro das horas bons e ruins. Comigo não existe esse negócio de abandonar companheiro em crise. Isso é falta de caráter”.

Palmas para presidente.

Atenção: as informações jornalísticas lançadas nesse artigo foram capturadas nas colunas de  Jorge Bastos Moreno e Ilimar Franco, ambas publicadas em o Globo do sábado próximo passado.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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