Mais dinheiro para quê?

Quando faço reflexões acerca do mau uso do dinheiro público, como vou fazer agora, é porque fico indignado com os serviços que são prestados pelo estado às pessoas mais necessitadas. Eu poderia manter-me calado, porque, afinal, faço parte de uma elite privilegiada, que pode, até, se necessária dar uma “carteirada”, conquanto se saiba que não uso desse tipo de expediente.

O certo é que todas as vezes que vejo pessoas morrendo ou sendo tratadas como seres de segunda categoria em corredores de hospitais públicos, sou tomado de uma indignação que não posso conter. Por isso, vez por outra, volto a refletir sobre o desvio de verbas públicas, como o farei a seguir, até mesmo para alertar as pessoas quando se predispuserem a dar o seu voto a algum espertalhão.

Pois bem. Ao povo, ou melhor, ao povão –  aquele esquecido pelos poderes constituídos e suas ramificações, que pega metrô ou ônibus, que dorme nas filas dos hospitais clamando por atendimento, que mora na periferia das grandes cidades, onde o esgoto se mostra, a seu aberto –  falta a real percepção do que se faz com o dinheiro público. Não tem, por isso, condições de avaliar as necessidades das prefeituras municipais, e quando opina sobre essa questão o faz de forma equivocada, pois não tem, repito, a real noção do que fazem com o seu dinheiro, com a aquiescência, infelizmente, das Câmaras Municipais. Mas, ainda assim, quando instado pelas pesquisas, opina sobre essa questão, ainda que o faça de forma equivocada, por absoluta falta de informação. Se soubesse, como nós sabemos, do que são capazes  de fazer, nas prefeituras municipais, para desviar os recursos públicos , talvez não tivessem respondido às indagações da pesquisa CNI/Ibope, de julho do corrente, com percentuais que beiram à irracionalidade. Assim é que, em face dessa falta de informação, 62% dos eleitores ouvidos concluíram que os prefeitos municipais não têm dinheiro suficiente para prover serviços de qualidade e que 70% acham que a União dá aos municípios menos recursos do que deveriam.

Os pesquisadores poderiam, se quisessem aferir mesmo o sentimento público, ter inserido mais algumas perguntas do tipo: a) você tem consciência de que quando mais verbas forem destinadas às prefeituras, maior será a voracidade dos que vivem dos desvios de verbas públicas; b) você tem consciência de que, sejam quais forem os percentuais de verbas públicas destinadas aos municípios, ainda assim os serviços públicos serão deficientes, por falta de sensibilidades dos gestores municipais; c) você tem consciência de que parte do FPM é desviada exatamente para municiar o caixa de campanha e enriquecer meia dúzia de apaniguados; d) você tem consciência de que, não fossem os desvios de verbas e se não fosse parte  dela como instrumento de cooptação de eleitores e para enriquecer meia dúzia de oportunista, haveria mais verbas para saúde e educação? f) você tem consciência de que até mesmo a verba destinada à merenda escolar é desviada? g)você tem consciência de que quem se elege comprando voto tenda e subtrair o dinheiro público para fazer face a esse tipo de “despesa”?

Essas são algumas das perguntas que deveriam ser formuladas, até mesmo para despertar no eleitor o sentimento que a todos nós impregna, qual seja, de que o Brasil só está nas condições em que se encontra, em face da renitente e escancarada roubalheira que se faz à vista de todos, sobretudo nos municípios mais miseráveis, onde a consciência do cidadão sobre essas questões é quase nenhuma.

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

2 comentários em “Mais dinheiro para quê?”

  1. E no Brasil, a ineficiência de investigação contra “poderosos” é tamanha que os larápios só são flagrados quando exaltam o produto do crime (como o Deputado que tinha um Castelo ou o Juiz aposentado que gostava de Ferraris e Lamborghinis) ou quando cometem erros de estratégia (como agiotas que, supostamente, assassinaram jornalista).
    Não fossem esses erros talvez ficassem eternamente impunes.

  2. Desde que éramos Colônia, vivemos ums instituição falida, depois veio a “Proclamação da República” ou “Golpe Republicano” que veio para beneficiar as elites brasileiras, que ignorou o povo e suas necessidades, o povo foi e ao que parece sempre será esquecido mas o que me faz acreditar que algum dia a coisa vai mudar é saber que pessoas, como o senhor ainda fazer a diferença. Sei que é como aquele catador de conchas que as atira ao mar frente a um número enorme mas que quando é questionado porque atira as conchas ao mar ele responde: É que as que jogo de volta ao mar fazer a diferença.Sempre seja esta diferença que mesmo vivendo em um mundo de privilégios consegue ver a necessidade dos necessitados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.