Não sofro de depressão, não tenho transtornos de humor, não sou uma pessoa amarga, gosto do que faço, tenho poucos e sinceros amigos, e tenho, fundamentalmente, uma família a me dar apoio.
Além da minha família, construída sob as bênçãos do casamento, tenho uma outra família igualmente importante em minha vida que são os meus assessores, pelos quais tenho muito apreço e consideração.
Essas duas famílias são, posso dizer sem receio, a minha força, a minha base de sustentação.
Tenho dito, repetidas vezes, que poucos são os seres humanos mais felizes que eu, disso podendo-se inferir que as minhas reflexões, algumas vezes inusitadas e estupefacientes, não decorrem de um estado de amargura.
Pode-se concluir, portanto, que o que vou dizer a seguir, certamente uma surpresa para quem não me conhece, não decorre de nenhuma patologia.
Vou tentar explicar.
Talvez não existe um só magistrado que não almeje uma promoção para segunda instância. Eu também almejei muito uma promoção para o Tribunal de Justiça do meu Estado.
Estando aqui, concluí, em pouco tempo, que não há o que comemorar, por isso estranho quando vejo que há pessoas que adoram estar desembargador, como se fosse a coisa mais importante do mundo.
E por que não há o que comemorar?
Porque, para mim, definitivamente, o exercício da judicatura não tem bônus.
Nesse sentido, eu me imagino muito diferente dos que ascendem o poder para dele usufruir, como se fora uma patuscada, uma folgança, um instrumento para obtenção de vantagens de ordem pessoal.
Hoje mesmo, durante a sessão do Pleno, por razões que não pretendo declinar, para não ser descortês e não ferir a ética, determinado momento levantei-me e fui ao ouvido de um colega dileto para dizer-lhe, contristado, que cada dia penso mais em aposentadoria.
A verdade é que aqui não há nada que me fascine , verdadeiramente.
Para mim, tudo aqui é compromisso, é comprometimento.
Tenho convicção que, por tudo isso, quando for possível me aposentar, vou ter mais o que comemorar que a lamentar.
Com essas colocações posso deixar transparecer que, definitivamente, não sou normal. Todavia, creia, eu sou normal, sim.
Aliás, o que é ser normal?