Nos dias de hoje, vejo, como muito mais clareza, que as pessoas têm dificuldades de ouvir umas às outras, mesmo porque, reconheçamos, não é fácil escutar de um interlocutor aquilo que não gostaríamos de ouvir, na medida em que, é de sabença, nem todos têm a capacidade de aceitar o contraditório, conquanto se saiba que aquele que eventualmente apresente dissenso em face ao que vocalizamos não é, necessariamente, um inimigo, mas, ao reverso, um parceiro na construção de uma sociedade plural e democrática.
Do mesmo modo, não é fácil, para muitos, admitir o erro, daí surge a dificuldade que muitos têm em ouvir, tendo em vista que, ouvindo, sabem muito bem que podem ser levados a concluir que estão errados, algo que, definitivamente, não lhes apraz.
Essa constatação me remete a um grave defeito moral que muitos de nós temos, máxime quando se exerce o poder, qual seja, de se imaginar dono da verdade, e os donos da verdade só têm ouvidos para ouvir o que lhes convém.
Para ouvir e ser capaz de mudar de rota, é preciso humildade; e a humildade, muitas vezes, é artigo de luxo entre os que detêm o poder, acostumados que são à sabujice que não lhes permite ver o mundo com as cores da humildade.
Nesse cenário, já vi de tudo. Vi, incontáveis vezes, quem, estando errado, persisti no erro, por pura vaidade e/ou arrogância, sem sequer sopesar as consequências da recalcitrância.
Todos já ouvimos, em alguma oportunidade, alguém mencionar que fulano, beltrano ou sicrano se julgam donos da verdade. Esses, os autoproclamados donos da verdade, são levados a pagar um elevado preço pela arrogância de se imaginarem acima do bem e do mal.
Essa linha de introdução é só para registar que todos que lidam/trabalham comigo, nesses mais de quarenta anos de exercício do múnus público, sabem que me recuso a assumir o papel de dono da verdade, razão pela qual estou sempre disposto a ouvir, discutir, refletir, ponderar –recurar, quando é o correto a fazer.
Todos têm testemunhado que compartilho minhas decisões, divido minhas impressões, coloco-as no tablado, concito à discussão, estimulo a reflexão, sempre disposto a ouvir e a retroceder, se for o caso.
Pensando e agindo assim, tudo que tenho idealizado na Corregedoria Geral da Justiça tem sido submetido a ampla discussão com minha assessoria, com os juízes corregedores e com meus pares e, especialmente, com o presidente Froz Sobrinho, de quem tenho recebido todo o apoio necessário.
Posso dizer, então, que o sucesso alcançado até aqui, em nossa administração está fincado nessa linha de compreensão, segundo a qual as boas ideias nascem em cada um de nós, mas precisam ser aperfeiçoadas, discutidas, avaliadas, sopesadas, para, só depois de maturadas, serem implementadas.
Assim foi com o nosso projeto de maior visibilidade, ou seja, Produtividade Extraordinária e seus eixos: Juiz Extraordinário, Analista Extraordinário, Secretaria Extraordinária, Oficial de Justiça Extraordinário e Contadoria Extraordinária, esta última ainda na fase inicial de implementação -, aperfeiçoados todos os dias, submetidos a permanente discussão e avaliação.
Fruto dessa mesma capacidade/necessidade de ouvir e discutir é que, agora, pretendemos dar uma nova dimensão ao Núcleo 4.0, objetivando alcançar resultados mais significativos no que concerne aos famigerados empréstimos consignados, para os quais impõe-se uma atenção especial, sobretudo em face do impacto deles resultantes em nossos indicadores.
Foi com essa mesma convicção – a de que é preciso saber ouvir, estar preparado para o dissenso e para a crítica – que criamos um canal direto de comunicação com os juízes, via WhatsApp, ampliado agora com os grupos de comunicação que acabamos de criar as secretarias judicias, objetivando dar uma nova dinâmica às nossas relações, tudo no afã de melhorar nossa produtividade, que é o foco primacial da minha gestão à frente da Corregedoria Geral da Justiça.
É isso.