EM FACE DOS FILHOS TUDO É PERMITIDO?

Todos nós – salvo exceções – somos capazes, sim, de matar ou morrer pelos nossos filhos. Eles são o grande amor da nossa vida. São a nossa razão de viver, enfim. E eu nem precisava ser tão óbvio. Às vezes, todavia, o óbvio também precisa ser dito.

Mas a pergunta que se impõe para essas reflexões é a seguinte: há limites morais que nos impeçam de agir – por ação ou por omissão – em face dos nossos filhos? Ou, por eles, tudo é possível, tudo se justifica em nome do amor visceral que nos une a eles?

Faço essa linha de introdução em face da anistia do filho de Joe Biden, subscrita pelo próprio, que tinha sido condenado por um júri popular por três crimes federais.

(Convém anotar, a propósito, que não é inusual o uso da anistia pelos presidentes americanos. Gerald Ford, por exemplo, perdoou o ex-presidente Ricard Nixon, envolvido no escândalo Watergate; Bill Clinton perdoou o irmão Roger, acusado de vender cocaína; e Donald Trump, ao fim do mandato, perdoou o sogro da filha, acusado de vários crimes, incluindo falsificar declaração de imposto de renda).

O presidente Biden, como sói ocorrer, tratou uma questão jurídica como se fora uma questão política – como ocorre por essas paragens -, para anistiar o filho, afirmando, para justificar a proteção, que “ao tentarem derrubar Hunter eles tentaram me derrubar – e não há razão para acreditar que isso vai parar por aí”.

Por essas plagas não tem sido diferente.

Temos testemunhado, sim, destacados homens públicos dando apoio irrestrito às ações poucos republicanas de sua prole – como de resto acontece na vida privada -, sem nenhum constrangimento, nada obstante, para o consumo externo, preguem altivez, rigor, retidão e outros que tais, que, ao que parece, só servem como regra moral para o vizinho.

De minha parte, tenho dito que há limites morais que devem prevalecer para as concessões que eventualmente possam ser feitas aos nossos filhos. Definitivamente, não vale tudo para favorecê-los, não vale qualquer conduta pelos filhos e para os filhos; há um umbral moral que não pode ser ultrapassado.

Por mais que amemos incondicionalmente os nossos filhos, por mais que nos sacrifiquemos, se preciso, em face deles, não podemos flexibilizar os rigores morais a pretexto de atender às suas pretensões, levando-os aos desvios de conduta que abominamos e condenamos nos outros.

Permissividade em demasia, excesso de proteção, cumplicidade, enfim, devem ter limites, sob pena de criarmos uma geração viciada em concessões, sem peias e sem restrições, perpetuando entre nós, sobretudo nas nações terceiro-mundistas, um caldo de cultura nefando.

A propósito, certa feita, aqui mesmo, nesse mesmo espaço, refletindo sobre a importância da família como instância informal de controle, tive a oportunidade de consignar: “[…] Todavia, é triste admitir, as instâncias informais – a família, sobretudo – também têm falhado muito. Daí não ser incomum que uma família inteira se envolva com práticas criminosas, razão pela qual é de rigor que assumamos a nossa parcela de responsabilidade frente a muitas transgressões que poderiam ser evitadas, se formássemos cidadãos de bem nos ambientes familiares”.

Faço essas reflexões para que nos conscientizemos do mal que fazemos à sociedade quando não impomos limites aos nossos filhos, limites que exigimos que os outros imponham aos seus.

É isso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.