Maquiavel maquiavélico?

BelfagorLendo as notícias que envolvem os fatos políticos dos nossos dias, chega-se à conclusão, sem dificuldades, que as teorias de Maquiavel ( 1469-1527), em face das quais muitos fingem se assustar, são o guia de uma horda de políticos desqualificados encarapitados no poder, os quais o utilizam ( o poder, claro) apenas para obtenção de vantagens de ordem pessoal ou, se possível e concomitantemente, para fazer o mal aos inimigos, ainda que dessa postura resultem prejuízos a toda comunidade.

O que afirmo não é difícil de constatar: basta ler o noticiário nacional ou local – com a devida cautela, claro, em face do conhecido engajamento de alguns veículos de comunicação, com o objetivo mais do que claro de, segundo as suas conveniências, escamotear a verdade, encobrindo travessuras de uns e super-dimensionando as travessuras de outros, de acordo com a sua linha editorial, em face, claro, do seu engajamento político.

Da obra O Príncipe, que serviu de inspiração a essas reflexões, apanho e destaco os seguintes fragmentos:

“[….] Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma pelas leis, outra pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. Como, porém, muitas vezes, a primeira não seja suficiente, é preciso recorrer à segunda. Ao príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar, convenientemente o animal e o homem[…]Por isso, um príncipe prudente não deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. Se os homens todos fossem bons, este preceito seria mal. Mas, dados que são pérfidos e que não a observariam a teu respeito, também não és obrigado a cumpri-la com eles[…]. E tão simples são os homens, e obedecem tanto às necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará a quem se deixe de enganar[…]”

Convém anotar que o livro em comento revela a compreensão de Maquiavel em face da situação política que se vivenciava, à época, da Itália em geral e de Florença, em particular, daí o realismo da abordagem que faz. Digo isso apenas para lembrar que as reflexões que se faça em torno do pensamento de alguém devem ser sempre contextualizadas, sob pena de não se compreender determinados posicionamentos.

Maquiavel acreditava que Florença, no estado de agitação política em que estava, precisava de um governante forte para colocar ordem na casa. Há quem acredite que, em face da situação política do momento, que o Príncipe não represente as ideais de Maquiavel, em face, sobretudo, das disparidades entre as teorias que na obra contém e as manifestadas pelo mesmo Maquiavel na obra Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, onde defende a república como regime ideal, a ser instituída quando existir um razoável grau de igualdade.

P.S.

A contextualização do pensamento de Maquiavel deixa entrever que ele próprio talvez não fosse maquiavélico.

Sobre essa questão pretendo refletir com mais vagar em outra oportunidade.

Espaço aberto

Quem quer ser um milionário?

Sônia-AmaralSônia Maria Amaral Fernandes Ribeiro(*)
Recentemente, entrou em vigor o Plano de Previdência Pública Complementar dos servidos do Poder Executivo Federal, que tem como objetivo principal, reduzir o déficit da previdência pública estatal, causado pelo pagamento integral das aposentadorias dos servidores públicos, afirmam.
Malgrado alguns apontarem que o déficit não tem origem prioritariamente nesse fato, mas sim na má gestão e no pagamento de benefícios àqueles que nunca contribuíram, o certo é que há déficit e soluções têm de ser buscadas. O que não sei, sinceramente, é se essa solução é suficiente e/ou é a melhor e/ou se não terá outras conseqüências em termos maior precarização dos serviços públicos.
Confesso a minha incapacidade de afirmar se o déficit existente tem como principal fundamento o pagamento das aposentadorias aos servidores públicos e se a solução apontada agora é suficiente, pois desconheço os fatos em profundidade e sou neófita no que diz respeito a cálculos atuariais, que apontam que essa medida reduzirá o déficit em 20 anos e o zerará em 30 anos. Vamos torcer!
Contudo, será que é a melhor solução, será se não que não precarizará ainda mais os serviços públicos?
Não é novidade nenhuma que os planos de previdência complementar das empresas estatais brasileiras, com muita constância, são alvos de denúncia na mídia, pelo uso político do dinheiro dos fundos, pelos partidos políticos de plantão. Numa breve análise de alguns estatutos é fácil saber por quê: “o administrador”, que é a pessoa jurídica (a empresa estatal) instituidora do fundo, é que detém o maior poder de indicação dos seus dirigentes, logo controla e direciona os investimentos, ou seja, quem e como será beneficiado pelo dinheiro do fundo. Bem, “o porquê” (se vale a pena, se é um bom negócio) sempre é de somenos, bastando na maioria das vezes ser amigo do “rei” e contribuir com as campanhas políticas.
Muitas vezes, presidir um fundo desses é melhor do que estar à frente de um Ministério, pois a independência do gestor é maior e estamos a falar de bilhões. Em grande parte, o orçamento destinado a muitos Ministérios somados não chegam perto do valor que transita nos fundos e existem até pequenos países da América Latina com orçamento inferior.
No caso do fundo ora em questão, a Ministra do Planejamento afirmou que este não só será o maior fundo de pensão do Brasil, como da América Latina.
Isso não é tentador? Com certeza. Porém, para nós outros aqui de baixo, os tais beneficiários, servidores que ingressarem a partir de agora no serviço público federal, é preocupante. Na verdade, a sociedade brasileira também deve se preocupar também, pois isso poderá intervir na qualidade dos serviços públicos que virão.
Não estou a dizer com isso que o que existe agora, em termos de serviços públicos, é bom, muitas vezes não chega sequer à regular e a culpa, em grande parte, é dos próprios servidores. O que estou a dizer é que pode piorar mais.
Em apertada síntese, existem dois tipos de servidores nos quadros públicos, os estáveis e os comissionados. Os primeiros, via de regra, adquiriram esse status pelo concurso, e os outros por indicação política, no sentido amplo.
No primeiro contexto, da qualidade, há bons e dedicados servidores tanto entre concursados, quanto em relação a comissionados. Porém, como em qualquer instituição formada por homens, e não anjos, existem muitos pouco comprometidos
com o serviço público, muito mais preocupados com o salário no final do mês e, em alguns casos, adeptos de posturas antiéticas e criminosas, como a corrupção.
Entre os concursados, preocupa-me sobremaneira a postura de alguns que, por terem enfrentado um concurso, se comportam como donos da função, como se isso lhes dessem liberdade plena para fazer o que bem entendessem, inclusive e principalmente não trabalhar com afinco; de atender com descaso o seu verdadeiro patrão, o cidadão, como se isso lhe fosse permitido pois, como chegam a afirmar, “eu sou concursado”.
Nesse jogo, quem é maioria, os bons ou maus servidores? Não tenho números para poder responder essa questão, mas é sintomático que é difícil encontrar um cidadão que use adjetivos positivos em relações a nós, servidores.
Mas, como disse no início, ainda pode ficar pior, por conta de outro fator.
Quem almeja ingressar no serviço público, nos dias de hoje, enfrenta uma guerra, pois as vagas são poucas para tantos candidatos preparadíssimos. Para quem tem uma visão mais empresarial, o negócio que dá muito dinheiro são os cursos preparatórios e especializados nesse segmento.
Ora, no fundo dos nossos corações, se a maioria faz concurso público sonhando com a tal da estabilidade financeira, que a iniciativa privada – quer como empregado, quer como empreendedor – não confere, quem serão os dispostos a enfrentar essa guerra, não tendo a certeza se, no apagar das luzes, terá assegurado um dos maiores atrativos: aposentadoria integral? Será que os mais preparados não migrarão para iniciativa privada, que a despeito de não garantir aposentadoria integral, na ativa o empregado pode, por competência, alçar maiores vôos, ganhar muito dinheiro e fazer seu pé de meia? Será que não aumentará os que já ingressarão com interesses pouco republicanos?
É, mas alguns me dirão, mas a estabilidade funcional, quase que automática, persistirá, pois dificilmente o mau servidor é colocado na rua, como acontecesse na iniciativa privada. E eu respondo: Isso não deveria também ser mudado e até com mais urgência? Não deveríamos exigir legislações mais rígidas? Não deveríamos exigir, como nos países mais desenvolvidos, menos cargos comissionados em todas as esferas de poder? Dúvidas, muitas dúvidas.
O certo é que, quem entra no serviço público por competência e vocação, não fez a opção por ser milionário. Mesmo os que ganham igual ao Ministro do Supremo Tribunal Federal, teto salarial dos servidores, não podem ser considerados milionários, se, é claro, vivem só do salário. Os que ganham no teto têm um bom padrão de vida, principalmente se compararmos à multidão de excluídos nos Estados mais pobres do Brasil, mas nem chegam perto dos vencimentos, vantagens e bônus recebidos por executivos e donos de empreendimentos privados de relativo sucesso.
Enfim, déficit existe e tem de ser resolvido. Essa é a melhor solução? Talvez. E a gestão dos fundos será igual ao que vemos hoje? Temo que sim. O serviço público hoje é bom, na maioria? Acredito que não. Pode piorar? Com certeza. Não tem jeito? Só o tempo dirá, pois se os fundos derem certo e garantirem a integridade das aposentadorias, a partir de gestões profissionais e não politizadas, há esperança no fim do túnel.

(*) Juíza de Direito, sonia.amaral@globo.com

Reflexões sobre a vida e a obra de um otário

Ele sempre foi para os seus pares um tipo insuportável. Era do tipo contido, calado, às vezes antissocial.

Cara amarrada, de trajes despojados, mas muito engomados, daqueles que até os fios de cabelos parecem ter sido rigorosamente arrumados.

Ele era do tipo que gostava de chegar cedo ao trabalho, que não atrasava os compromissos, que honrava a hora marcada. Era, pode-se ver, um chato, do tipo intragável – pelo menos para aqueles que agiam e pensavam de forma diferente.

Ele era do tipo que parecia estar sempre apressado. Parecia que nunca tinha tempo para uma roda de bate-papo. Em face da pressa, quase sempre deixava de cumprimentar as pessoas que encontrava pelos corredores do local onde trabalhava.

A cara sisuda e a testa quase sempre franzida faziam dele um ser quase impenetrável – e quase intragável.

Era do tipo que, à primeira vista, parecia arrogante e prepotente, sobretudo para quem não lhe conhecia e para os que viam na sua retidão uma afronta.

Ele estava sempre absorto; parecia contemplativo, enlevado, extasiado. Era do tipo que parecia viver voando, desligado dos pecados da terra. Deixava transparecer que, fora do seu ambiente de trabalho, nada mais existia.

Por ser do tipo empedernido, cumpridor radical de suas obrigações, granjeava, no primeiro momento, a antipatia dos que tinham que com ele lidar, em face do seu ofício.

Muitos foram os que externaram o pavor que tinham de lidar com ele, muito embora os que se aventurassem a fazê-lo em pouco tempo percebiam que se tratava de uma pessoa cordata, atenciosa, prestativa, diligente, honesta e desejosa de, na sua profissão, fazer o melhor para ajudar o semelhante.

Algumas poucas pessoas que tinham acesso a ele sempre advertiam que ele ia morrer e o trabalho ia ficar; outras pessoas o advertiram por quase toda a vida, que ele não ia consertar o mundo. Outras tantas lhe lembravam que só trabalhar e trabalhar não lhe renderia o reconhecimento que merecia.

Mas esses conselhos não lhe impressionavam. Ele não dava importância para esse tipo de comentário.

Às pessoas que pensavam assim ele sempre dizia que pouco importava o reconhecimento dos seus pares, pouco importava que as pessoas o achassem um tipo medonho e abominável.

Para ele bastava a consciência de que cumpria o seu papel, sem enleio, sem embaraço, sem tergiversar, sem fazer concessão – obstinadamente, freneticamente, decididamente.

O tempo passou, os cabelos ficaram encanecidos, a pele foi encolhendo, o coração foi cansando, o raciocínio foi se perdendo, a memória foi se esvaindo.

Mas ele, ainda assim, estava lá, pé fincado no trabalho, sem arredar, sem se curvar, sem fazer concessões.

O andar, antes frenético, agora é trôpego, vacilante; o olhar, antes fugidio, arredio, agora já não vislumbra, com a nitidez de antanho, o horizonte.

Mas ele é duro como pedra; inflexível, não muda nunca – vai adiante com as suas fortíssimas e inabaláveis convicções. Continua na sua luta obstinada para honrar o seu mister, para cumprir as suas obrigações, para ser digno do salário que recebe dos cofres públicos. Nessa senda, não faz concessões, finca o pé – “não arredo nem para um trem”, costuma dizer.

Os mais jovens têm em relação a ele sentimentos contraditórios. Para alguns, ele é o exemplo acabado do que deve ser um homem público; para outros, um careta, démodé, boboca,do tipo que pensa que vai consertar o mundo.

E o tempo vai passando. O corpo, agora, lhe pesa, literalmente. O tempo é implacável. Não tem mais agilidade. Doem-lhe as juntas. Andar, já é um sacrifício.

Mas ele insista! Não muda! Chega cedo ao trabalho, cumpre o pactuado e quase nunca se atrasa.

É do tipo ranheta.

Continua acreditando que vale a pena ser honesto, pontual, trabalhador.

Sabe que, nos dias atuais, esses predicados são uma caretice, estão desuso.

Mas… fazer o quê?

Agora, nos dias atuais, as críticas mais acerbas vêm dos próprios netos, os quais passaram a criticar-lhe a seriedade, a babaquice – debocham, achincalham, ridicularizam, escarnecem.

Mas ele, radical e intolerante, continua apostando na honestidade, na honradez, na seriedade, pouco importando se lhes reconheçam, ou não, os méritos. Acha que vale a pena ser assim: tolo, pouco inteligente para uns; honrado, virtuoso e digno, para outros

O tempo passou, sobreveio a aposentadoria e a saída da ribalta. Agora já não é mais o “doutor” que tinha algum poder nas mãos. É apenas mais um na multidão.

Para alguns, um homem de bem, um exemplo a ser seguido; para outros, um otário, um panaca, um boboca que, tendo o poder nas mãos, dele só fez uso para servir à comunidade.

Nunca se locupletou, nunca fez acordos espúrios, nunca se curvou diante dos poderosos – um péssimo exemplo para os sequazes das aves de rapina do serviço público, dos que imaginam que o poder é feito para ser rateado entre os amigos, para enriquecer, para tirar proveito, para obter vantagem.

Ele sabe, sempre teve a mais nítida convicção, que vai morrer assim.

Pouco importa a ele se, para muitos, ele não passa de um velho otário, um ingênuo, um tolo.

Tem certeza – contudo, pouco se importa – que vai cair no esquecimento.

Seu nome não vai aparecer em nenhuma galeria, seu retrato só ornamentará a cabeceira de sua cama – e não será por muito tempo.

Mas ele será sempre lembrado pelas pessoas honradas como o homem que viveu e vai morrer com dignidade, pois, mesmo os erros que cometeu – e não foram poucos -, não os praticou de má-fé.
Essas reflexões que faço acerca de um personagem fictício são uma homenagem que presto aos homens de bem de nossa terra, os quais, por serem retos, probos, cumpridores de suas obrigações, muito provavelmente morrerão – ou já morreram – sem que se lhes reconheçam os méritos, e, ainda por cima, são tidos e havidos como otários, por não terem sido capazes de trocar a sua dignidade por um cargo ou função ou de amealhar fortuna subtraindo verbas públicas.

Notícias do TJ/MA

TJMA vai agendar audiências de conciliação por telefone

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“O serviço é inédito no Judiciário brasileiro e começa a funcionar este mês”, informa o presidente do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do Judiciário, desembargador José Luiz Almeida. Para acelerar o novo formato de audiências, o TJMA vai dispor de 80 conciliadores voluntários já treinados. O desembargador diz que as audiências serão definidas em prazo recorde.

José Luiz Almeida acredita que a nova ferramenta tende a revolucionar a cultura das conciliações no Judiciário, sobretudo porque qualquer pessoa – inclusive advogados – poderá acioná-la de casa ou do escritório, ou mesmo fora do Estado, por telefonia fixa ou móvel.

O usuário terá como segunda comodidade a dispensa da marcação presencial da audiência. Para garantir confiabilidade e segurança ao sistema o Telejudiciário vai checar a autenticidade de dados pessoais do usuário.

O início de operação da novidade só depende de ajustes em programa desenvolvido pela Diretoria de Informática do TJMA para atender exclusivamente as demandas por conciliação. Os testes finais serão concluídos na próxima semana, confirma o diretor, Paulo Rocha Neto. Cada audiência solicitada será informada de imediato aos centros judiciários, que irão contatar a outra parte. O núcleo planeja ampliar as opções de marcações de audiências, a partir do Portal do Judiciário (www.tjma.jus.br).

Quatro Centros Judiciários de Solução de Conflitos foram instalados em São Luís em 2012 – já na gestão do presidente do TJMA, desembargador Antonio Guerreiro Júnior –, quando também foi instalado o segundo centro de Imperatriz.

Em São Luís, eles funcionam no Fórum Desembargador Sarney Costa (Calhau), Rua do Egito e nas unidades do Uniceuma no Renascença e na Cohama. Em Imperatriz, há centros instalados na Faculdade de Ensino Santa Teresinha (FEST) e na Faculdade de Imperatriz (Facimp).

José Luiz Almeida tem reunião às 16h desta quinta-feira, 7, com diretores da Uema e FEBAC – ambas instituições de ensino superior de Bacabal -, com vistas a instalação de centros judiciários naquele município.

Assessoria de Comunicação do TJMA

asscom@tjma.jus.br

(98) 3198.4370

Notícias do CNJ

CNJ discute proibição de patrocínio privado a eventos de magistrados

05/02/2013 – 15h19

Gláucio Dettmar/Agência CNJ
CNJ discute proibição de patrocínio privado a eventos de magistrados

O plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) iniciou, nesta terça-feira (5/2), a votação de uma proposta de resolução apresentada pelo corregedor nacional de Justiça, ministro Francisco Falcão, para disciplinar a participação de magistrados e seus familiares em eventos patrocinados ou subsidiados por empresas privadas.

A votação da matéria foi adiada por um pedido de vistas triplo apresentado pelos conselheiros Carlos Alberto Reis de Paula, Ney Freitas e Emmanoel Campelo. O julgamento deverá ser retomado na próxima sessão, em 19 de fevereiro. Ainda nesta terça-feira, outros cinco conselheiros anteciparam o voto, acompanhando Falcão.

A resolução foi proposta no julgamento do Pedido de Providências 000709647.2012. Em seu voto, o corregedor lembrou a recente distribuição, durante festa de confraternização de magistrados de São Paulo, de brindes doados por empresas. Entre os itens para sorteio, havia passeios em um cruzeiro, um automóvel e hospedagem em resort.

Auxílios – Pela proposta apresentada pelo corregedor, os magistrados ficam proibidos de utilizar transporte ou hospedagem patrocinados direta ou indiretamente pela iniciativa privada, ainda que intermediada por associações de juízes, para participarem de eventos, cursos ou jantares. Se for aprovada, a resolução também proibirá os magistrados de receber, a qualquer título ou pretexto, prêmios, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas às exceções previstas em lei (artigo 95 da Constituição Federal).

Para a realização de seminários, congressos, cursos e demais eventos promovidos por órgãos ou entidades da Justiça, conforme a minuta elaborada por Falcão, terão de ser previamente divulgados o conteúdo, a carga horária e a origem das receitas e o montante das despesas, prestigiando-se o princípio da transparência. Isso permitirá fiscalização por parte dos tribunais e do CNJ.

“Magistrados devem se portar de forma a dar exemplo à sociedade. Magistrado não pode receber carro, cortesias de cruzeiros, transatlântico, passagem de avião. Isso é uma vergonha, uma imoralidade. Eles devem viver com seu salário e patrocinar do seu próprio bolso o custo de suas viagens, suas despesas pessoais e de seus familiares”, afirmou o conselheiro corregedor, em entrevista após a sessão.

Depois de aprovada, a resolução entrará em vigor 60 dias após a publicação em sessão de julgamento pelo plenário do CNJ.

Regina Bandeira
Agência CNJ de Notícias

A vida imitando a arte ou a arte, imitando a vida

Excertos da novela  A Morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstói:

“No vasto edifício do Palácio da Justiça, o promotor e os membros do Tribunal se reuniram, durante a suspensão da audiência do processo Melvinsk, no gabinete de Ivan Iegórovitch Shebeck; a conversa caiu no célebre caso  Krassóvski. Fiódor Vassilietch sustentava com ardor a incompetência, Ivan Iegórovitch persistia em sua opinião;quanto a Piotr Ivánovitch, como não tivesse tomado parte no início da discussão, desinteressava-se dela e folheava o jornal que acabavam de trazer.

– Senhores – disse ele – sabem que Ivan Ilitch morreu?

– Não é possível!

– Leia você mesmo – tornou ele, dirigindo-se a Fiódor Vassilievitch, a quem estendeu o jornal que ainda cheirava a tinta de impressão.

Liam-se nele as seguintes linhas emolduradas por um filete negro: “Praskóvia Fiódorovna Golovin cumpre o doloroso dever de comunicar a seus parentes e amigos a morte de seu esposo bem-amado, Ivan Ilitch Golovin, conselheiro da Corte de Apelação, falecido aos 4 de fevereiro de 1882. O enterro sairá na sexta-feira, à uma hora da tarde”

Ivan Ilitch era colega daqueles senhores, e todos eles muito o estimavam. Havia já várias semanas que se encontrava enfermo e afirmava-se que não se restabeleceria. Todavia conservava ainda o seu lugar, embora se previsse que no caso de vir a falecer, Aleksiev seria nomeado para o posto tomado assim vago, e Vinnikov ou Schtável substituiriam Aleksíev. Ao saberem, pois, da morte de Ivan Ilitch, todos os que se achavam reunidos  no gabinete pensaram, antes de mais nada, na influência que esse acontecimento poderia ter na sua própria promoção e na de seus amigos.

´Agora, certamente, conseguirei o lugar de Schatábel ou o de Vinnikov´, – pensou FiódormVassilievitch. – Há muito tempo que me foi prometido; e com essa promoção terei oitocentos rublos de amento que me foi prometido; sem contar as ajudas de custo da chancelaria’.

´Agora preciso pedir a transferência de meu cunhado de Kaluga para junto de nós’ – disse de si para si Piotr Iánovitch. – Minha mulher ficará muito contente. Não se poderá mais  dizer que nunca estou disposto a ajudar os parentes dela.[…]”

Qualquer semelhança com o que ocorre nas corporações que conhecemos, não é mera coincidência. É assim mesmo que a coisas se encaminham, quando morre o membro de uma corporação; aqui e alhures. Por isso é que se diz, a propósito do Poder Judiciário, que magistrado não morre, abre vaga;vaga que, muitas vezes, é disputada, sem escrúpulos, estando o moribundo ainda dando os últimos suspiros.

É isso!

Naturalmente

Erasmo de ROtterdam 1As pessoas tendem a viver de acordo com o seu nascimento, com a sua natureza; natureza aqui entendida no sentido lato.

Explico. Quem nasce numa família equilibrada, reta e que , por isso, preserva os valores morais, tende a viver, naturalmente, da mesma forma. É que a sua personalidade tende a se formar de acordo com as lições que recebe, diariamente, no meio em que vive.

Nada mais natural!

O que não é natural é o oposto. É nascer “bem”, receber doses diárias de retidão, para, diferente do esperado, sucumbir diante das tentações do mundo e, a partir delas, se conduzir noutra direção.

É por isso que se diz, com razão, que a casa de pai é a escola de filho.

É assim que a coisas funcionam – ou deveriam funcionar.

Por isso é que, quanto mais equilibrada for a família, tão equilibrados quanto tendem a ser os que nesse ambiente se formarem.

Essas reflexões – que, afinal, são apenas uma reafirmação das coisas que acredito – foram inspiradas num excerto do livro Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, vazados nos seguintes termos:

“[…]Ouço já os filósofos protestarem: ‘É uma infelicidade ser louco, viver no erro e na ignorância´- Mas isso é ser homem, meus amigos! Pois, em verdade, não vejo por que chamaríeis infeliz um ser que vive de acordo com o seu nascimento, sua educação, sua natureza. Não é esse o destino de tudo o que existe? O que permanece em seu estado natural não poderia ser infeliz; caso contrário, poder-se-ia dizer que o homem deve queixar-se de não voar como as aves, de não andar com quatro patas como os quadrúpedes, de não ter a cabeça armada de chifres como os touros. Do mesmo modo, poder-se-ia dizer que um belo cavalo é infeliz por não saber gramática, por não comer pastéis, e que o destino de um touro é deplorável porque ele não pode aprender exercícios da Academia. Ora, o homem não é mais infeliz por ser louco do que o cavalo por não saber gramática, pois a loucura está ligada à sua natureza[..]”

Digo eu, para concluir: o ser humano que, por natureza, nasceu num meio que encara a desonestidade com naturalidade, tende a ser desonesto, naturalmente, porque, afinal, é da sua natureza ser desonesto. Os que, ao reverso, nascem e se formam em ambiente diverso, tendem a abominar, naturalmente, os atos de desonestidade. É que ser correto faz parte da sua natureza; natureza de quem consolidou em si valores morais que, naturalmente, foram expungidos da natureza dos que receberam formação moral diametralmente oposto.

É isso!