Lendo as notícias que envolvem os fatos políticos dos nossos dias, chega-se à conclusão, sem dificuldades, que as teorias de Maquiavel ( 1469-1527), em face das quais muitos fingem se assustar, são o guia de uma horda de políticos desqualificados encarapitados no poder, os quais o utilizam ( o poder, claro) apenas para obtenção de vantagens de ordem pessoal ou, se possível e concomitantemente, para fazer o mal aos inimigos, ainda que dessa postura resultem prejuízos a toda comunidade.
O que afirmo não é difícil de constatar: basta ler o noticiário nacional ou local – com a devida cautela, claro, em face do conhecido engajamento de alguns veículos de comunicação, com o objetivo mais do que claro de, segundo as suas conveniências, escamotear a verdade, encobrindo travessuras de uns e super-dimensionando as travessuras de outros, de acordo com a sua linha editorial, em face, claro, do seu engajamento político.
Da obra O Príncipe, que serviu de inspiração a essas reflexões, apanho e destaco os seguintes fragmentos:
“[….] Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma pelas leis, outra pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. Como, porém, muitas vezes, a primeira não seja suficiente, é preciso recorrer à segunda. Ao príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar, convenientemente o animal e o homem[…]Por isso, um príncipe prudente não deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. Se os homens todos fossem bons, este preceito seria mal. Mas, dados que são pérfidos e que não a observariam a teu respeito, também não és obrigado a cumpri-la com eles[…]. E tão simples são os homens, e obedecem tanto às necessidades presentes, que aquele que engana sempre encontrará a quem se deixe de enganar[…]”
Convém anotar que o livro em comento revela a compreensão de Maquiavel em face da situação política que se vivenciava, à época, da Itália em geral e de Florença, em particular, daí o realismo da abordagem que faz. Digo isso apenas para lembrar que as reflexões que se faça em torno do pensamento de alguém devem ser sempre contextualizadas, sob pena de não se compreender determinados posicionamentos.
Maquiavel acreditava que Florença, no estado de agitação política em que estava, precisava de um governante forte para colocar ordem na casa. Há quem acredite que, em face da situação política do momento, que o Príncipe não represente as ideais de Maquiavel, em face, sobretudo, das disparidades entre as teorias que na obra contém e as manifestadas pelo mesmo Maquiavel na obra Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, onde defende a república como regime ideal, a ser instituída quando existir um razoável grau de igualdade.
P.S.
A contextualização do pensamento de Maquiavel deixa entrever que ele próprio talvez não fosse maquiavélico.
Sobre essa questão pretendo refletir com mais vagar em outra oportunidade.
Também penso que ele não era maquiavélico. Foi entretanto, a quem interessava, na época, assim considera-lo. A verdade doi sempre.