Sou uma pessoa que, inexplicavelmente(?), dedica grande parte do tempo à reflexão. Às vezes, assistindo a um filme ou lendo um livro, me dou conta de que perdi o enredo, de um ou de outro, em face de ter refletido sobre assuntos diversos. Não é por outra razão que, muitas vezes, ao reler um livro ou rever um filme , sou surpreendido com a total ignorância do que “li” e “assisti”.
Claro que os pontos só seriam descontados, depois da idade adulta, ou seja, depois que o indivíduo fosse dotado da capacidade de entender o caráter ilícito do fato e comportar-se de acordo com esse entendimento.Por que as minhas reflexões me fizeram chegar a essa estranha conclusão?
Vou tentar explicar.
Tenho assistido, indignado, pessoas de bem, pessoas honradas, serem acometidas de doenças graves, que, às vezes, as levam, inexoravelmente, à morte – muitas vezes sem ter alcançado a maturidade. Tenho constatado, abespinhado, que muitas pessoas que só fazem o mal – que matam, que roubam, que destratam pai e mãe, dentre outros deslizes – envelhecem, usufruem das ilegalidades praticadas, dos bens materiais adquiridos de forma ilícita, como se fossem imunes a qualquer tipo de doença.
Incontáveis vezes já me indignei – e me indigno – com a morte trágica de crianças, de pessoas honradas, de pais de família exemplares, de cidadãos de conduta retilínea. Da mesma forma, tenho assistido o progresso de pessoas malévolas, de caráter duvidoso, as quais, não raro, envelhecem e, às vezes, morrem sem sentir sequer uma dor de dente.
Claro que faço essas colocações apenas como um exercício mental despretensioso. Não pretendo com essas alucinações provocar o sentimento dos religiosos mais empedernidos. O que eu almejo, com essas reflexões, é apenas exteriorizar a minha revolta com o progresso dos malfeitores e a minha indignação quando vejo, sem nada poder fazer, o sofrimento, a dor e a morte de pessoas que só fizeram o bem. O que pretendo com essas reflexões, é dizer que não posso deixar de me revoltar quando constato pessoas de bem, como foi meu sogro, morrerem depois de injustificável e imerecido sofrimento. Noutro giro, não posso deixar de me indignar quando tenho notícia de mais uma falcatrua impune. Da mesma forma me agasta perceber que essas pessoas vivem e sobrevivem para fazer o mal ao semelhante e, ainda assim, parecem ter tido acesso ao elixir da saúde e da juventude
Que tal se a morte indolor fosse destinada apenas às pessoas de bem? Que tal se a morte, antecedida de grande sofrimento, fosse destinada apenas aos malfeitores? É desumano pensar assim? Em face dessa auto-indagação devo refletir mais uma vez.
Claro que as colocações supra são apenas – e nada mais que – uma reflexão. Ninguém tem o direito de questionar o que foi concebido por Deus.
Mas que seria bom se isso ocorresse, ah!, seria sim. Afinal, qual de nós não se regozija ao ver um marginal pagando pelo crime que cometeu? Ou, pensando assim, estou tendo uma alucinação?