O exemplo de Francisco Cuoco

Li nos jornais que o ator Francisco Cuoco, 73, da Rede Globo, foi roubado quinta-feira (9), no Rio. Ele foi rendido por um grupo de homens armados equipados com coletes a prova de balas quando dirigia seu Corolla na avenida Brasil, uma das principais vias da cidade. De acordo com a Polícia Civil, o ator permaneceu sob o poder dos criminosos durante cerca de meia hora, tendo sido liberado perto do morro do Tuiuti, em São Cristóvão (zona norte do Rio). Os ladrões levaram celulares, dinheiro, documentos e cartões de crédito. O caso foi registrado na 17ª DP (São Cristóvão).Mesmo após o susto, Cuoco manteve a apresentação da peça “O Último Bolero”, no teatro Miguel Falabella, no Norte Shopping, em Del Castilho, zona norte do Rio.

Francisco Cuoco, com essa atitude, deu-nos um exemplo do que é ser profissional. Digo, com freqüência, aos meus filhos e aos que convivem próximo a mim, que no Brasil e, em especial, no Maranhão, falta profissionalismo em todas as áreas.
Ser profissional, na minha avaliação, é honrar os compromissos assumidos, comparecer aos compromissos na hora marcada, não fazer corpo mole, não trabalhar de mau humor, não inventar desculpas para não ir ao trabalho, dentre outros pressupostos.
Aqui no Maranhão é comum juiz e Promotor chegarem atrasados às audiências, advogado abandonar a causa do cliente, médico não cumprir hora em seu consultório, além de atender pacientes no atacado e, muitas vezes, de mau humor.
Aqui no Maranhão, se você encomenda um trabalho, o operário, como regra, não cumpre o acordado. Se você manda uma roupa ao alfaiate ele não entrega no dia que prometeu. Se você compra um móvel, a loja não faz a entrega na data que disse que iria fazê-lo. Se você leva uma televisão ao concerto, quase nunca a recebe no dia que foi prometido. E assim se vai.
Digo aos meus filhos que me orgulho de ser profissional. Eu nunca falta às audiências para as quais chego sempre antes da hora marcada. Não deixo, de regra, processo dormitando, injustificadamente, em meu poder.Nunca chego atrasado aos meus compromissos. Se tenho que me atrasar, por qualquer motivo superior, cuido de telefonar e avisar. Se, por qualquer razão, não posso realizar uma audiência, me preocupo, no dia anterior, de ligar para os advogados, avisar ao promotor de justiça e à Polícia, para não apresentar o preso. Nem sempre, é verdade, posso fazê-lo. Mas, quando posso, não me omito.
Para os meus filhos, digo sempre que não se deve chegar na hora do compromisso. Se deve chegar, sim, antes da hora marcada. Eu nunca saio para um compromisso em cima do laço. Procuro sair sempre com a máxima antecedência, antevendo um contratempo.
Infelizmente, quem age e pensa assim sofre muito, pois aqui se tem a cultura de não se honrar a hora marcada. Até em show, o artista já sabe que, se marcar para as vinte e uma horas, só deve começar às vinte duas, porque, se começar antes, não terá platéia.
Nas conversas informais, costumo dizer que até lazer para mim é compromisso. Se marco um jogo para as 22 horas, antes da hora marcada já estou aguardando.
Só sei ser assim. É por isso que, às vezes, me incompatibilizo com as pessoas.
Agora estou a refletir: será que não é por ser assim que me julgam arrogante e prepotente?

Autor: Jose Luiz Oliveira de Almeida

José Luiz Oliveira de Almeida é membro do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi promotor de justiça, advogado, professor de Direito Penal e Direito Processual Penal da Escola da Magistratura do Estado do Maranhão (ESMAM) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

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