Há dias em que a gente se sente triste e não sabe por que. Olha para um lado, olha para outro, e vê que as coisas parecem estar nos devidos lugares. Todavia, ainda assim, a gente se sente triste. Parece, até, para os superticiosos, que alguma coisa ruim vai acontecer. Como, no entanto, não sou superticioso, penso que, logo, logo, tudo vai passar.
Saí de casa, na direção do meu carro, olhei as ruas por onde habitualmente passo, e achei tudo muito estranho. Um vazio, uma angústia dentro de mim… Pensei: que coisa estranha!
Pensei, com meus botões: isso não é normal.
De repente, no carro toca a música Carolina, de Chico Buarque.
Aí, meu amigo, não teve jeito: me transportei por inteiro ao passado.
Cruzo a ponte do São Francisco, sigo em direção ao meu trabalho: só o corpo, pois a mente continua a sua perigrinação pelo passado.
Estou, agora, no meu gabinete, e a primeira funcionária que atende a um pedido meu me olha e diz, na lata:
-Hoje, o senhor tá tão assim…
Diante dessa constatação, não tive dúvidas: hoje eu estou tão assim…mesmo!
Revisitei, em pensamento, a terra onde nasci, os amigos que lá deixei, os que não verei jamais, e um pouco mais de algumas das muitas coisas que marcaram a minha infância.
As lembranças fluiram, correram à solta, , descontroladamente… e deixei-me consumir pela saudade dos tempos – belo clichê! – que não voltam mais.
Definitivamente, não tem jeito: eu não consigo me libertar do meu passado; ainda bem que tenho um belo passado.